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As televisões são poderosíssimas aqui e em todo o mundo, e os seus patrões sabem-no bem. O chamado quarto poder cada vez mais formata e enquista a massa crítica das pessoas, ao seleccionar-lhes a agenda e os temas.
A grande descoberta de Pavlov entranhou-se nas sociedades modernas e cada vez mais as reduz a uma condição canina e previsível. Mesmo a revolta, individual, corporativa ou de massas, é sempre condicionada por “horários nobres” e obedece a rituais certos.
A contestação traja de determinada maneira e obedece a coreografias recorrentes que só são variáveis de acordo com a ressonância da comunicação. O facto é iniludível, e quando se trata de sociedades mais frágeis, dependentes do dinheiro global, mais difícil se torna assim dar a volta aos problemas estruturais.
Temos este surdo “His Master’s Voice”, esmagador e humilhante na vida das pessoas, quando até a arma do voto perde a sua força fundadora, democrática, e se esvai na impotência dos resultados práticos, sob a pata de uma ordem e de uma normalidade que ninguém verdadeiramente assume como sua.
A única coisa que escapa a esta “ordem” não assumida, e que por isso mesmo se vai tornando progressivamente mais atraente em certos meios depauperados e em jovens plenos de força pela sua condição natural, mas sem qualquer bússola orientadora, é algo tenebroso e sinistro, algo que nenhum quarto poder controla, nos factos e nos efeitos: o terrorismo.
A idiotice tomou a Europa de assalto, e seria bom que o seu estulto poder aprendesse e começasse a separar o essencial do acessório. Ou seja, que a civilização sobreviva à barbárie. Será possível?
Escreve ao sábado