WikiLeaks. NSA espia telemóveis de ministros e de Merkel há 10 anos

WikiLeaks. NSA espia telemóveis de ministros e de Merkel há 10 anos


Depois de a Alemanha ter arquivado a investigação à secreta americana por falta de provas, a WikiLeaks foi buscar mais para divulgar ao mundo


A minúcia da teia montada pelos espiões norte-americanos para acompanhar cada passo do governo alemão levou a que fossem escutados 125 telemóveis dos principais dirigentes do país – não apenas do gabinete da actual chanceler, Angela Merkel, mas dos seus dois antecessores, Gerhard Schröder (chanceler entre 1998 e 2002) e Helmut Kohl (entre 1982 e 1998). A WikiLeaks voltou à carga, tornando públicos três novos documentos da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA; num deles estão listados 56 números associados aos executivos alemães dos últimos dez anos e quase duas dezenas pertencem ao actual séquito político de Merkel.

De acordo com o primeiro relatório divulgado pela organização de activistas e delatores, Washington fez marcação cerrada à chanceler alemã, não se contentando com os seus números, mas escutando também os telemóveis dos seus ministros e assessores, do seu chefe de gabinete e do restante pessoal que trabalha para ela – tendo inclusivamente acesso à actividade da sua máquina de fax. Também segundo a WikiLeaks, este nível de vigilância mantida ao longo de uma década serve “motivos políticos, bem como económicos”.

O segundo documento secreto da NSA divulgado é um resumo de comunicações mantidas entre Merkel e o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Muhammad bin Zayid al-Nuhayyan, em Março de 2009, nas quais a líder partilha a sua opinião pessoal sobre o presidente dos EUA, Barack Obama, no que respeita ao esforço para retomar as negociações com o Irão. Já o terceiro documento foca-se nos planos de Merkel para responder à crise financeira internacional e aos resgates da banca na zona euro em 2011.

Em Junho, a investigação que foi aberta pelo Ministério Público alemão às escutas – reveladas pelo ex-funcionário da NSA Edward Snowden – foi arquivada porque, de acordo com a procuradoria federal alemã, as provas em sua posse não eram suficientes para abrir um processo judicial. Um ano e meio após o escândalo da espionagem norte-americana aos seus aliados ter criado tensões diplomáticas entre Washington e Berlim, o tema parecia esquecido.

“Agora há provas suficientes da espionagem da NSA em solo alemão. É hora de reabrir a investigação e de a NSA ser forçada a pôr fim às suas manobras ilegais contra a Alemanha”, defendeu Assange em comunicado.
A nova lista de “alvos” alemães vem complementar uma anterior em que surgiam já 69 altos funcionários, entre eles o vice–chanceler Sigmar Gabriel e os seus vice-ministros. Em Maio, a WikiLeaks revelou um conjunto de documentos similares que mostram que a NSA espiou igualmente os últimos três presidentes franceses e outros funcionários do governo do país.

O que tornou tudo muito mais turvo para a percepção pública foi um novo escândalo, em Abril, com revelações que sugerem que o equivalente da NSA alemã, a BDS, ajudou a NSA a espiar algumas empresas e funcionários europeus. Depois disso, as secretas alemãs puseram fim à parceria na vigilância online.