Já tinha acontecido em 2011 e 2014. Novak Djokovic ganhou a final de Wimbledon, agachou-se, arrancou um pedaço de relva e comeu. O sérvio voltou a bater Roger Federer, agora com os parciais de 7-6 (7-1), 6-7 (10-12), 6-4 e 6-3, garantindo o nono Grand Slam da carreira. Djokovic igualou as três vitórias de Boris Becker (o seu treinador actual) e John McEnroe no torneio britânico. O número 1 mundial esteve ao seu nível mais alto e comeu a relva pelo segundo ano consecutivo, alcançando um estatuto que poucos conseguiram na relva do All England Club. “Em criança sonhava em vencer Wimbledon. Por isso, como todas as crianças, sonhas em fazer algo louco quando o conseguires, se o conseguires. Esta foi uma das coisas. [A relva] soube muito, muito bem este ano. Não sei o que os tratadores fazem, mas trabalham bem”.
Novak só ainda não roubou o estatuto de favorito dos adeptos no All England Club: esse continua a ser Federer. Só que, no court, não há quem desafie a superioridade de Djokovic. As palavras do suíço, no final do encontro, são suficientemente esclarecedoras:“ONovak jogou muito bem, não só hoje [ontem], como no ano inteiro, no ano passado e no ano antes. Ele mereceu o triunfo.” Nem um Federer a jogar um ténis de alto nível durante o torneio – só tinha perdido um set no caminho para a final – conseguiu ser um obstáculo muito complicado para Nole. Ao contrário da final de 2014 (terminou 3-2), desta vez o encontro foi mais rápido e tudo ficou resolvido em 2h55 (3-1 em sets).
Do empate ao desequilíbrio Depois de perder o primeiro set, o suíço aguentou estoicamente no segundo. Salvou seis set points e acabou por ganhar o emocionante tie-break (no primeiro ponto de set de que dispôs) por 12-10. Cada um tinha ganho 37 pontos no primeiro set e 51 no segundo. Se fosse outro desporto, poderíamos chamar-lhe um empate técnico. Por momentos, parecia que Federer podia ser capaz de chegar ao seu oitavo título em Wimbledon. Essa percepção não durou muito, já que Djokovic cedo quebrou o serviço do suíço no terceiro set:quando o encontro foi interrompido devido à chuva, o n.º1 do ranking vencia por 3-2.
Desde o recomeço, o equilíbrio desvaneceu-se. Nole fez o 4-2 e venceu tranquilamente o set por 6-4 em apenas 32 minutos. A quarta partida durou mais 60 segundos mas foi ainda mais previsível. Com 2-2 no marcador, Djokovic fez mais um break e chegou facilmente ao 4-2. Tudo normal até ao 5-3, quando Federer foi incapaz de aguentar o seu jogo de serviço e perdeu a sua terceira final no Grand Slam britânico.
“É sempre um grande privilégio jogar contra o Roger. Ele faz-nos desafiar os limites e trabalhar duro para merecer cada ponto. Para estes jogos em particular, trabalha-se uma vida inteira… imaginas-te no court central do maior torneio desportivo e com o troféu na mão, por isso é uma sensação arrebatadora”, admitiu o tenista sérvio.
Rumo ao tri? A vitória de Nole volta a dar um empate no histórico entre os dois melhores tenistas mundiais:20-20 em 40 encontros (embora o sérvio tenha vantagem nos encontros decisivos, batendo Federer em nove dos 14 confrontos). Depois de vencer o Open da Austrália, no início do ano, Djokovic ainda pode conseguir três grand slams em 2015 (perdeu a final de Roland Garros para Stan Wawrinka, no único grande torneio que lhe falta conquistar), caso consiga triunfar no Open dos Estados Unidos – foi finalista em quatro dos últimos cinco anos.
Desde 2007, com Federer, que um campeão em Wimbledon não repetia o feito no ano seguinte. Onúmero 1 mundial acrescenta 2,6 milhões de euros aos seus ganhos, além do nono Grand Slam da carreira (cinco Open da Austrália, três Wimbledon e um Open dos Estados Unidos).
Quanto a Roger Federer, a um mês de completar 34 anos voltou a perder a oportunidade de se isolar como o tenista com mais triunfos no All England Club (continua igualado a Pete Sampras e WilliamRenshaw, com sete).
Desde 2012 que o tenista suíço não vence um Grand Slam, embora se mantenha como líder incontestado da lista com 17 troféus (mais três que Rafa Nadal e Pete Sampras). Se no dia anterior Serena Williams tinha sido a campeã mais velha num torneio do Grand Slam (33 anos), Federer não conseguiu igualar o feito da norte-americana. Mas o suíço não parece com vontade de desistir.