Cristina Esteves. Jornalismo de excelência

Cristina Esteves. Jornalismo de excelência


Cristina Esteves agradece os 24 anos na RTP e sugere cautela aos mais novos. “Surpreendida” com a detenção do ex-primeiro-ministro, revela os bastidores do programa “A Opinião de José Sócrates”.


A família e a profissão são as duas grandes paixões da jornalista Cristina Esteves. O casamento que mantém há mais de 20 anos e do qual resultaram três filhos, além de estar na televisão pública desde 1991, são factores de estabilidade na vida daquela que é considerada uma das apresentadoras mais competentes da nossa comunicação social. 

A complexidade dos horários da profissão são, no entanto, o maior entrave para gerir a vida pessoal. Numa conversa com o i, Cristina Esteves confessou que “não é fácil, mas tenho um marido fantástico que ajuda imenso”.

A jornalista acrescentou ainda que “quando apresentava o ‘Último Jornal’, chegava a casa por volta das duas da manhã e, na altura do “Bom Dia Portugal”, levantava-me de madrugada para estar na redacção”. Poderia pensar-se que sobravam os fins-de-semana para dedicar à família, mas esses também são pouco aproveitados, devido aos “imponderáveis de última hora”. 

Curiosamente, a entrada no jornalismo aconteceu porque o seu actual marido respondeu a um anúncio sem o conhecimento de Cristina. A partir daí, a apresentadora construiu uma carreira de sucesso com passagem por vários programas – com destaque para “Protagonistas” e “A Opinião de José Sócrates”. O primeiro está entre os favoritos da jornalista por causa do conceito, que reunia “um misto de reportagem, entrevista e apresentação”. No segundo, confessou que sempre manteve “um relacionamento cordial e profissional com o antigo primeiro-ministro”, destacando-lhe o “dom da palavra e a capacidade de improviso”. No entanto, ficou “surpreendida” com a recente detenção de José Sócrates. Neste momento a apresentar o “Telejornal”, considera o desafio um “privilégio, mas também implica grande responsabilidade devido à exposição e notoriedade”.

Os 24 anos na RTP tornaram Cristina Esteves uma “pessoa adulta que adora aquilo que faz”. O gosto pela televisão é tal que não suscita “curiosidade em experimentar outras áreas”, como a imprensa escrita ou a rádio, nem sequer em trabalhar noutras profissões. O argumento é simples: “A partir do momento em que as nossas escolhas são acertadas, não temos vontade de mudar”. Para trás ficou a licenciatura em Direito. 

A importância do erro A imparcialidade que se exige a um profissional nunca é completa. “Existe sempre subjectividade, uma vez que a forma como escrevo a notícia tem sempre um cunho pessoal”, além de a mesma reportagem “ser abordada de diferentes formas” por causa da opinião pessoal de cada um. Mas a jornalista considera que “o rigor e a objectividade têm de estar sempre presentes”. Ainda assim, Cristina Esteves tem consciência de que tem tido “altos e baixos” no seu percurso, pelo que não consegue dizer qual foi o melhor e o pior momento.

Apesar de tudo, não esquece momentos como a surpresa realizada por Jorge Braga de Macedo no programa “Última Palavra”, em que ouviu cantarem-lhe os parabéns em directo. Outro episódio ocorreu quando a jornalista não conseguiu controlar uma gargalhada em directo. Embora haja situações que qualquer profissional pretende evitar, Cristina Esteves fala da “branca” que teve no primeiro directo com um largo sorriso no rosto. Os erros também são uma forma de crescimento. A partir desse momento mudou a forma como prepara “os imponderáveis”. A primeira regra é não decorar. A segunda passa por ter um alinhamento mental daquilo que se vai dizer. Por fim, a tranquilidade é fundamental para ultrapassar o momento. 

As mudanças no jornalismo e os desafios da nova geração também estiveram em cima da mesa. O surgimento das redes sociais e dos canais de notícias tornou o “mercado diversificado e competitivo”. Cristina Esteves entende que “o jornalismo tem de acompanhar as mudanças porque a informação está à distância de um clique”. As novas plataformas obrigam as pessoas a seleccionar os programas. 

No final, pede aos mais novos para “não terem pressa porque o jornalismo tem etapas e a ambição desmedida pode deitar tudo a perder”. Não critica aqueles que procuram alcançar os objectivos, mas aconselha “uma aprendizagem com os pés assentes na terra”, realçando os aspectos positivos “em tudo aquilo que se faz”. Cristina Esteves não tem dúvidas de que “os 15 minutos de fama são efémeros porque a experiência se adquire com o tempo, e não de um momento para o outro”. A especialização garante soluções positivas para quem deseja seguir comunicação social.