Arnold Schwarzenegger. O actor que governou a califórnia e não se cansa da acção

Arnold Schwarzenegger. O actor que governou a califórnia e não se cansa da acção


Está de regresso. A idade não é problema. Há coisas que ninguém faz melhor.


Ele prometeu que voltava (várias vezes!), fosse através de um lacónico “I’ll be back” (eu voltarei) ou do praticamente intraduzível (caso contrário, perderia a piada) “Hasta la vista, baby”. Arnold Schwarzenegger regressa ao papel que o levou a transformar essas deixas em frases populares do imaginário cinéfilo mundial. Em “Exterminador: Genisys”, o mais recente capítulo da saga iniciada em 1984, que se estreou nas salas de cinema esta semana, o actor veste novamente a pele do Exterminador, agora designado Guardião, e assume as rugas e os cabelos brancos.

Faz 68 anos no próximo dia 30 de Julho e, tal como na vida real, o modelo ciborgue a que dá corpo na série de filmes, o T-800, também se ressente da passagem do tempo. A alusão à idade é de tal forma evidente que neste “Genisys” o famoso “Hasta la vista, baby” tende a ser substituído pela frase, repetida várias vezes, “Velho, não obsoleto”. Talvez não venha a ser tão popular como a que traduz a promessa de retorno – uma das 50 expressões mais importantes de todos os tempos do cinema, de acordo com o Instituto Americano do Filme -, mas parece assentar bem ao homem que se fez actor como herói de filmes de acção, se afastou durante uns anos para se dedicar à vida política e que, regressado à sétima arte, procurou o registo onde fez carreira, mas que nem sempre é tão duradouro como outros menos exigentes fisicamente. Para retomar a sua antiga personagem teve de ganhar mais cinco quilos, por indicação do realizador, e treinar pelo menos duas horas diariamente.

De resto, essa é uma prática que mantém na sua rotina e rejeita fazer concessões devido à idade, confessando que não gosta de ouvir comentários que o aconselhem a abrandar em função dela. Numa entrevista publicada pelo site Adorocinema, afirmou que o segredo para fazer estas personagens “é mantermo-nos sempre em forma. Acho que é por isso que eles me oferecem estes papéis, porque sabem que fisicamente consigo aguentá-las e ser credível.

Consigo fazer as cenas de acção, de lutas, correr a cavalo no Conan, as lutas com espadas e tudo o resto”. Sim, leu bem. Conan também vai voltar, com Schwarzenegger a assumir novamente o papel do rei dos bárbaros, numa nova fase da vida do guerreiro. “É uma grande honra e sinto-me tão privilegiado por me convidarem para fazer papéis que fiz há 30, 35 anos atrás, porque, normalmente, na indústria de filmes trocam-se os actores à medida que envelhecem. Há sempre um novo James Bond, um novo Batman, tudo é novo. Mas aqui é o mesmo Exterminador, o mesmo Conan.E convidaram-me para fazer os ‘Gémeos’ [neste caso será ‘Trigémeos’], 30 anos depois”.

O culto com o corpo sempre esteve presente na vida de Arnold Schwarzenegger, bem antes de ser actor. Na sua Áustria natal começou cedo no culturismo, iniciando o treino físico ainda na adolescência. Aos 20 anos conquistou o título de Mister Universo e venceu o concurso Mr. Olympia sete vezes, estabelecendo um recorde que durou até 1991. Ainda hoje é uma das figuras de referência da história do culturismo e dá nome a competições e iniciativas desportivas ligadas à modalidade. 

No entanto, a vida do então desportista da pequena vila austríaca de Thal, nos subúrbios da cidade de Graz, começaria a tomar outro rumo, no final da década de 60, quando emigra para os Estados Unidos da América e faz a sua estreia no filme de baixo orçamento “Hercules in New York”, de 1969.

A sua primeira aventura cinematográfica foi essencialmente um prolongamento do culturismo, uma vez que é esse o universo retratado na película. Mas em 1976 consegue destacar-se no filme “À Força de Músculos”, com Jeff Bridges e Sally Field. O papel de Joe Santo vale-lhe um Globo de Ouro para Actor Revelação, na categoria de cinema. Seria, no entanto, em 1982 que o filho de Aurelia e Gustav Schwarzenegger, chefe da polícia local, se tornaria conhecido como actor no mundo inteiro com o filme “Conan e os Bárbaros”. Dois anos mais tarde sai a sequela, “Conan, o Destruidor”, e “Exterminador Implacável”. A carreira de actor segue então, imparável, com Schwarzenegger a notabilizar-se sobretudo pelos filmes de acção. “Predador”, “Inferno Vermelho”, “Desafio Total”, “Exterminador Implacável 2: O Dia do Julgamento” ou “O Último Grande Herói” são alguns dos blockbusters mais bem-sucedidos do actor, sempre dentro daquele género. Mas houve outros, comédias inesperadas como “Gémeos” (1988), ao lado de Danny DeVito, “A Verdade da Mentira” (1994), com Jamie Lee Curtis, e “Um Polícia no Jardim- -Escola” (1990), filme que confessou, no programa “The Late Show with James Corden”, ter sido o mais divertido de fazer em toda a sua carreira de actor.

Mesmo vivendo há décadas nos Estados Unidos e tendo nacionalidade norte-americana, o actor mantém a sua pronúncia austríaca, o que em certas personagens, como o Exterminador, acaba por ser um ponto a favor. Porém, não fosse a sua origem europeia, candidatar-se-ia ao cargo de presidente do país. “Se tivesse nascido nos EUA, concorreria à presidência. Porque não? Faria melhor trabalho do que os que lá estão”, afirmou recentemente aquele que foi durante quase dez anos governador da Califórnia, estado que conquistou para o Partido Republicano.

Admirador confesso de Richard Nixon, Schwarzenegger anunciou a sua candidatura para governador durante um programa do “Tonight Show with Jay Leno”. Foram eleições em circunstâncias especiais (recall election), em que se votou primeiro o afastamento de Gray Davis do cargo e, em seguida, o seu sucessor. Na segunda opção, Schwarzenegger levou a melhor sobre os adversários e foi eleito com 48,6% dos votos, assumindo o seu primeiro cargo público e sendo notícia em todo o mundo. Somando vitórias políticas e adoptando uma postura mais moderada ao longo da governação – nomeou a democrata Susan Kennedy para chefe de gabinete -, viu renovado o seu mandato em 2006, com 55,9%, numa altura em que a popularidade dos republicanos a nível nacional estava em queda.

Se para o público em geral o percurso político do actor foi uma surpresa e um acto aparentemente inesperado, sobretudo para os fãs de fora dos Estados Unidos, para outros esta era uma ambição antiga e solidamente preparada, como sustenta Wendy Leigh, autora de uma biografia não oficial sobre Schwarzenegger segundo a qual a ascensão política foi pensada muito antes, com a indústria do cinema e do culturismo a funcionarem como etapas de um caminho rumo ao sucesso para quem desde cedo procurou escapar a um ambiente familiar deprimente e conflituoso. 
O casamento com Maria Shriver, sobrinha de John F. Kennedy, em 1986, foi um importante impulso no desenvolvimento dessas aspirações. A ligação do actor ao Partido Republicano estreitou-se, surgindo muitas vezes ligado a iniciativas promovidas pelas administrações de Ronald Reagan e George Bush. Schwarzenegger apoiou também financeiramente a campanha de George W. Bush para a Casa Branca. 

O seu último ano de mandato à frente do estado da Califórnia coincidiu com o do divórcio, pedido por Maria Shriver em Julho de 2011, depois de ter descoberto que o marido tinha um caso com a empregada, Mildred Patricia Baena, do qual nascera um filho. O processo, no entanto, arrastou-se na justiça durante anos, alegadamente, segundo noticiou o site de celebridades TMZ em 2014, por Schwarzenegger não querer pagar à ex-mulher a quantia de 200 milhões de dólares, cerca de metade do valor do seu património.
 
Numa entrevista recente ao locutor de rádio Howard Stern, o actor confessou que o seu “maior fracasso foi, sem dúvida nenhuma”, o fim do seu casamento, mas manifestou-se orgulhoso de todos os seus filhos, desejando que concretizem os seus sonhos, independentemente daquilo que queiram ser. Afinal, foi também isso que desejou e conseguiu para si. Numa vida cheia de acção, Schwarzenegger está feliz por voltar ao cinema, embora isso não queira dizer que fique por aí.