Schmeichel é campeão europeu pelo United antes de assinar peloSporting. Ironia do destino, é campeão português na primeira época. Júlio César é campeão europeu pelo Inter antes de jogar no Benfica. Ironia do destino, é campeão português na primeira época. Casillas é (tri)campeão europeu pelo Real antes de representar o Porto. Será ele campeão português na primeira época?
Schmeichel.
o leão da estrela
© Manuel de Almeida/Lusa
O dinamarquês é um íman de títulos. A prová-lo, o seu currículo no Bröndby (quatro campeonatos em cinco anos) e na selecção (campeão europeu em 1992, depois de defender um penálti de Van Basten nas meias-finais).
Assina pelo Manchester United, a troco de 505 mil libras. O treinador Alex Ferguson considera-o a pechincha do século. Pudera, em oito épocas, o dinamarquês ganha cinco campeonatos ingleses, três Taças de Inglaterra, uma Taça da Liga inglesa, quatro Supertaças inglesas e, la pièce de resistance, a Liga dos Campeões-99.
Na final de Barcelona, com o Bayern, Schmeichel apresenta-se como capitão, na ausência do castigado Roy Keane, e levanta o troféu naquele que é o último jogo pelo clube.
Aos 35 anos, Schmeichel sai do United. E assina peloSporting. Em Alvalade, ganha o campeonato em 2000 (com direito a pontapé de bicicleta no Vidal Pinheiro, com o Salgueiros, na última jornada) mais Supertaça portuguesa em 2001 (defende o penálti de Deco na finalíssima em Coimbra).
A isto, poderia também juntar a Taça de Portugal-2000 mas dois erros de julgamento nos golos de Clayton (remate sem ângulo) e Deco (livre directo) são-lhe fatais, razão pela qual sai furioso do Jamor, sem querer saber da entrega de medalhas. Célebre também um treino em que sofre quatro golos de seguida, dá um grito para o ar e sai a correr para os balneários sem fazer os alongamentos.
O lance mais emblemático de Schmeichel nem sequer é uma defesa. Quatro de Março de 2000, Sporting-Alverca. Minuto 90 e está 1-1. Quiroga perde a bola no meio-campo e é contra-ataque do Alverca. Dois contra um. Schmeichel não se atemoriza com a aproximação de Paulo Costa mais Duda e deixa-se estar na baliza. De repente, dá um salto para a frente e Paulo Costa, assustado, remata de qualquer maneira ao lado. Escandaloso, imperdoável. É aqui que o Sporting começa a ganhar o título de campeão 18 anos depois. Com Schmeichel, pois claro.
Júlio César.
Nome e pose de imperador
© José Sena Goulão/Lusa
Júlio César governa como lhe dá na gana, sem ligar a quem quer que seja: obriga os senadores a aprovarem leis sem pés nem cabeça e aumenta em mais de 300 o número de membros do Senado (muitos deles, amigos). Em termos militares, sonha em conquistar o reino dos partos (região entre o mar de Aral e o mar Cáspio) para formar uma nova monarquia a nível mundial.
Antes de iniciar a nova campanha militar, no dia 15 de Março de 44 a.C., é assassinado com 23 facadas, nas escadarias do Senado, por um grupo de 60 senadores, liderados pelo seu filho adoptivo, Marcus Julius Brutus. Embrulhado na sua toga na tentativa (vã) de afastar os conspiradores, Júlio César vê Brutus e solta a famosa frase: Tu quoque, Brutus?
Bruta é a forma como Artur é humilhado na praça pública. Há quem escreva isto: “Artur aceitou o Ice Bucket Challenge e despejou um balde de água fria na cabeça de 6 milhões de benfiquistas.” Campeão nacional com 1165 minutos (longe dos 1355 do titular Oblak), o guarda-redes brasileiro comete um grave deslize com o Sporting que permite o 1-1 de Slimani em plena Luz. E agora?
No banco, está um outro brasileiro. É ele Júlio César, um ilustre conhecido com 87 internacionalizações pelo Brasil e número um de Mourinho no Inter em 2009-10, época do triplete (Série A, Coppa Italia e Liga dos Campeões).
Aos 34 anos, aterra em Lisboa via-Toronto (joga meio ano na MLS antes de encaixar sete da Alemanha mais três da Holanda no Mundial-2014) e conhece bem a realidade portuguesa – até acumula derrotas no Dragão (2-0 de Materazzi e McCarthy em Outubro de 2005) e em Alvalade (1-0 de Caneira em Setembro-2006), ambos para a Liga dos Campeões.
Roubada a titularidade a Artur num 3-1 ao Moreirense, a 21 de Setembro, o guarda-redes vira imperador na baliza, com um total de 11 golos sofridos em 23 jogos rumo ao título de campeão. Pelo meio, uma série imbatível de 894 minutos entre o 1-0 de Edgar Abreu (Nacional) em Novembro e o penálti de Sérgio Oliveira (Paços) em Janeiro.
Casillas.
O dragão de ouro?
© Emilio Naranjo/EPA
Estamos em 2013, ano do desencontro total entre Mourinho e Casillas. O guarda-redes é afastado da equipa em Janeiro, primeiro por Adán, depois por Diego López. No final da época, sai Mourinho e entra Ancelotti. A acompanhar o italiano, o carismático treinador de guarda-redes Villiam Vecchi (formador de Buffon, por exemplo).
A expectativa está no ar e Ancelotti segue o conselho de Vecchi, que prefere Diego López a Casillas pelo jogo aéreo. “Vou apostar em Iker na Taça do Rei e na Liga dos Campeões”, contemporiza Carlo. Não é bem isso que Iker quer ouvir, daí que chegue a esboçar uma reacção pública de mal-estar em Outubro.
O nascimento do primeiro filho com a jornalista Sara Carbonero muda-lhe o estado de espírito e, a partir daí, a ideia volta a ser continuar a fazer parte da equipa do seu coração até ao fim da carreira. Como tal, aplica-se como sempre, joga como nunca. Tudo isto enquanto provoca um debate eterno entre os adeptos (autênticas guerras civis no Twitter), o que lhe vale ser mais aplaudido fora do que no Bernabéu.
Titular nas tais duas competições, Iker liga pouco aos assobios na sua casa de sempre e cumpre a sua missão com uma categoria indiscutível, ao ponto de completar agora 682 minutos sem sofrer golos no Real Madrid, um recorde do clube, um recorde com 112 anos. Nesses sete jogos, só 12 defesas em 11 horas. “O mérito é de todos”, sublinha Iker. “Estou muito feliz aqui, na minha casa, e quero desfrutar o mais possível.”
No fim dessa época, Iker levanta a Taça do Rei (2-1 ao Barcelona) e também a da Liga dos Campeões (4-1 ao Atlético, após prolongamento, na Luz). Na época seguinte, o Real é campeão mundial. O mundo é um arco-iris. Ou talvez não. Iker é empurrado para fora do clube pelo presidente Florentino Pérez – a exemplo do central Sergio Ramos. A estrela empalidece. E nem o facto de ser do Real Madrid desde pequenino, ainda para mais com um total de 752 golos sofridos em 725 jogos, segura-lhe o lugar.Segue-se o FCP, aos 34 anos de idade.