True Detective 2. O regresso dos miseráveis

True Detective 2. O regresso dos miseráveis


Começa este domingo nos EUA a segunda temporada de uma das melhores séries dos últimos tempos. Por cá ficamos à espera – ansiosos, mas à espera.


Quando decidimos prestar atenção a “True Detective”, no início do ano passado, fizemo-lo por três razões: primeiro porque logo no final de 2013 a série aparecia em todas as listas do género “programas de televisão que não pode perder em 2014”; depois porque se tratava de uma produção da HBO e isso costuma ser garantia de qualidade; por fim, porque juntava Matthew McConaughey e Woody Harrelson, dois cowboys que nos causavam tantas dúvidas como motivavam perguntas do género “será que esta dupla vai fazer alguma coisa que jeito tenha?”.

Foi o que se viu (quem não o fez, por favor, dedique-se aos melhores oito episódios que a televisão recebeu nos últimos anos): um desfile de escrita genial, interpretações magníficas e uma produção que reflecte na perfeição o investimento cada vez maior nas coisas da TV (e que tem sido desviado daquilo que era costume chegar ao cinema). Isto tudo apesar de não haver consenso quanto ao desenlace, mas enfim… A segunda temporada começa amanhã nos EUA (ficamos à espera da estreia em Portugal) e já ninguém duvida que se trata de um dos acontecimentos televisivos do ano.

Parte dois Comecemos pelo que se sabe – está quase tudo no trailer que tem andado pela internet: “True Detective” continua a ser uma série policial, escura e sombria, sem que se veja qualquer hipótese de redenção ou salvação no horizonte. Esta nova temporada troca o Louisiana pela Califórnia. Os arredores de Los Angeles são o cenário (a cidade ficcionada da história chama-se Vinci), mas nem por isso a coisa se torna soalheira. Os protagonistas são Collin Farrell, Rachel McAdams e Taylor Kitsch, três polícias que pouco mais têm que trabalho. E depois há Vince Vaughn no papel de mafioso que procurar mudar de vida. Outra vez oito episódios, outra vez uma banda sonora feita de América tradicional mas ao mesmo tempo condenada à desgraça – a canção que acompanha o trailer é “The Only Thing Worth Fighting For”, de Lera Lynn, e é uma espécie de balada country para funerais de gente má que não vai deixar saudades a ninguém (uma maravilha).

O que também continua é a mania de Nic Pizzolatto – o homem que escreve tudo isto – de tirar conclusões para o mundo e para a humanidade a partir da desgraça privada de quatro ou cinco personagens que nada de positivo têm nos seus dias. E é isso que assombra tanto a história como a cabeça de quem a vê. Na primeira temporada nunca acreditámos que a felicidade chegasse às terras pantanosas por onde rumavam os detectives Rust e Martin, a questão era mais quando é que tudo isto ia desabar de forma definitiva. E em parte foi isso que tornou a desventura tão viciante.

Para esta segunda temporada, Pizzollato continua empenhado em seguir o mesmo caminho, recrutando de novo actores que por defeito não seriam os mais óbvios para a missão – Vince Vaughn, quase sempre ligado à comédia, Rachel McAdams, eterna namorada de todos e todas que a têm visto no cinema, Taylor Kitsch, um ídolo pós-adolescente, e Colin Farrell, bom, nunca ninguém sabe muito bem o que ele é.

Primeiros relatos de quem já viu o primeiro episódio (que lemos só na diagonal para não estragar o que o futuro inevitavelmente nos reserva) dizem que continua o tom monocórdico e psicótico que vimos na primeira temporada – tudo em bom; que prosseguem as mentes obsessivas e sem remédio destas tramas obscuras; que o suspense volta a ameaçar ser viciante. E que vamos ter de ver tudo, oito episódios para marcar 2015, só pode.