“Na noite de 30 para 31 de Janeiro acordei às três da manhã com a ideia repentina de que, por fim, tinha o tema para um romance novo, que andava à procura de maneira mais ou menos consciente”. As palavras são de José Saramago e referem-se ao livro “Ensaio sobre a Lucidez”, cujo proceso de criação é, esta quinta-feira, revelado pelo “El País”, para assinalar os cinco anos da morte do escritor português.
O jornal espanhol publica vários textos inéditos do Nobel da Literatura, que ilustram as anotações que o escritor fazia quando começava a trabalhar nos seus romances, e nas quais expressava dúvidas, indecisões sobre o interesse da trama ou os passos que ia dando durante a construção da narrativa.
Designados pelo “El País” como uma espécie de “making-of” do livro escrito em 2003 e publicado um ano depois, estes textos inéditos estão também disponíveis em português, na revista "Blimunda", da Fundação Saramago.
A história de “Ensaio sobre a Lucidez” passa-se num país indeterminado, onde decorre um processo eleitoral. No final do dia, contados os votos, verifica-se que, na capital, cerca de 70% dos eleitores votaram branco. Repetidas as eleições no domingo seguinte, o número ultrapassa os 80%. O romance debate e dramatiza o funcionamento das democracias no mundo de hoje, questionando até que ponto serão verdadeiramente representativas e não meramente formais.
