Braga de Macedo. “Bancarrota desordenada prejudica Grécia e zona euro no seu todo”

Braga de Macedo. “Bancarrota desordenada prejudica Grécia e zona euro no seu todo”


Economistas contactados pelo i temem que onda de choque de um défault grego chegue a Portugal.


Já se imaginou a olhar para um castelo de cartas e a ter de tirar uma, tentando adivinhar de que forma vão cair as outras? É mais ou menos esta a situação em que está a esmagadora maioria dos economistas face a um cada vez provável défault grego. Previsões há muitas, mas o real impacto só será mensurável no dia em que isso acontecer. Ou não.

Para o economista João César das Neves, e em termos estritamente financeiros, o impacto da saída da Grécia da zona euro  será pequeno. “Como o problema já é antigo”, afirma, “todas as entidades já provisionaram o que tinham a provisionar e, com a liquidez toda que o BCE tem emitido, não haverá impactos muito significativos”. Mesmo assim, o professor de Economia na Universidade Católica considera que o problema não é estritamente financeiro mas de imagem e reputação. “Pode haver consequências imprevistas se os mercados tomarem esse défault como contagioso

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Não há razão para isso, mas no nervosismo actual a lógica nem sempre domina. Esse nervosismo traduz-se nas taxas de juro das dívidas soberanas, que mais uma vez não têm grande significado, para além de mostrarem que este triste caso da Grécia mina a confiança na Europa toda e em especial nas zonas marginais”, diz ao i. O ex-ministro das Fianças, Jorge Braga de Macedo, defende a saída desta crise através de uma “bancarrota ordeira”. “Continua a ser possível, além de altamente desejável, acordar numa bancarrota ordeira, que não teria consequências directas para a economia nacional. Uma saída no quadro de uma bancarrota desordenada seria mais penalizadora para os gregos e para a zona euro como um todo”, afirma ao i.

O economista lembra que “nos últimos meses se tem assistido ao caso raro de uma crise financeira ‘em câmara lenta’, na qual as opiniões de uns e outros sobre o desenrolar das negociações contam mais do que os dados concretos que descrevem as perspectivas económicas e financeiras da Grécia e as consequências das reformas estruturais”. “Portugal e a Zona Euro estão hoje bem mais bem apetrechados do que em 2012, embora a arquitectura institucional continue deficiente enquanto se não completar a união bancária e financeira”, afirma Jorge Braga de Macedo.
João Duque diz-se preocupado com “as ondas de choque que podem chegar a Portugal pelo facto de “um país membro não ser capaz de se manter no euro”. E adverte: “Não podemos escorregar em lado nenhum, nem com o PS nem com a coligação. Se a Grécia sair do euro, Portugal deve ficar sob os holofotes e não temos margem para escorregar”.
Mais à esquerda, Manuel Caldeira Cabral,  que integrou o grupo de economistas que desenhou o cenário macroeconómico do PS, considera que a Grécia está entre a espada e a parede. “Se não chegar a acordo com os credores, tem um problema de liquidez no curto prazo. Mas se chegar, nem o problema de solvabilidade no longo prazo nem o problema da economia são resolvidos”.  

O economista recorda que num relatório recente do FMI, “havia nove países em toda a OCDE com dívidas em risco de solvabilidade. E destes, oito eram da zona euro. Ou seja, esta transformou-se num risco acrescido para alguns dos seus estados-membros”.  Para Caldeira Cabral,  é impossível ter uma ideia exacta do que aconteceria se a Grécia saísse do euro. “Qual será a consequência em termos de fuga de capitais ou na emigração? E como é que Bruxelas reagiria? Não é só um problema de financiamento do Estado e da banca. Se houver uma grande fuga de capitais, Atenas poderá suspender alguns mecanismos do mercado único. E a Inglaterra, por exemplo, pode travar a entrada de gregos se houver uma emigração massiva. E há ainda um outro risco, a entrada dos russos em Atenas, naquela que pode ser a entrada do Kremlin dentro da União Europeia”.

Oeconomista Miguel St. Aubyn, do ISEG, considera, tal como César das Neves, que grande parte dos riscos já foi descontada pelos mercados. “A minha preocupação é mais com o caminho onde estamos a entrar, enfraquece a ideia não só da União Monetária como da própria União Europeia”.

Octávio Teixeira, economista e ex-deputado do PCP, defende que “um eventual défault grego coloca problemas ao nível da subsistência da zona euro”. “Há mais possibilidades de outros países optarem pelo mesmo caminho porque os mercados financeiros podem reduzir substancialmente a confiança no euro. E podem ser criados impactos e pressões, a começar pelo aumento das taxas de juro nas dívidas soberanas. O efeito Grécia está muito longe de ter sido descontado”, afirma ao i. Oeconomista lembra ainda que quando o FMI se desligou das negociações disse expressamente que teria de existir  uma maior cedência por parte da UE, “porque senão conduziria ao descalabro completo da Grécia”.

Lusa