Combustíveis simples. Dois meses depois, os preços continuam longe do low cost

Combustíveis simples. Dois meses depois, os preços continuam longe do low cost


Valores praticados pelos hipermercados continuam mais baixos 9 cêntimos e a tendência é para se manter. Petrolíferas criticam nova lei por tirar opções aos clientes


Dois meses depois da entrada dos combustíveis simples no mercado nacional, as opiniões dividem-se e nem todos os responsáveis do sector ouvidos pelo i vêem com bons olhos a entrada da nova lei. A verdade é que a promessa de redução de preços com as gasolineiras a apostarem em valores low cost está longe de ser alcançada, uma vez que os descontos rondam um cêntimo.

A Associação de Defesa do Consumidor (Deco) já tinha alertado para o facto de as diferenças de preços serem mínimas face às versões normais e por isso mesmo não se mostra surpreendida com esta “falha”. “Não houve um grande impacto e como era de prever não houve quedas abruptas de valores nem grandes ganhos para os consumidores”, revela ao i Pedro Silva, especialista da Deco, que admite, no entanto, que “este cêntimo, multiplicado por milhões de litros com certeza é dinheiro”. “Se não tivesse existido esta lei provavelmente esta redução de um cêntimo não existiria”, reconhece.

O responsável admite que já foi benéfico este tipo de combustíveis estar disponível em todo o país e acredita que a médio prazo as gasolineiras poderão sofrer pressão para reduzir os valores. “Os hipermercados e as bombas low cost concentravam-se, por norma, nos grandes centros urbanos e na faixa litoral, e neste momento este tipo de combustível está disponível em todo o país. Não havia no interior bombas a praticarem preços baixos e só isso já foi benéfico para os consumidores porque democratizou e massificou este tipo de combustível.”

Mesmo assim, a Deco reconhece que os valores praticados pelos hipermercados continuam a ser mais baixos 9 cêntimos. “Antes da entrada em vigor da lei existia aqui uma diferença de 10 cêntimos, neste momento a diferença é de 9 cêntimos. Terá de ser o consumidor a decidir onde quer comprar e tem liberdade de escolha para ver se compra na bomba A ou num hipermercado porque o combustível é exactamente o mesmo”, diz Pedro Silva.

Menos optimista está a Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (APETRO), que garante que só poderia fazer um balanço destes dois meses se os postos de abastecimento “continuassem a vender todos os produtos, o que não acontece”, refere ao i fonte da entidade.

A associação vai mais longe e garante que não é possível, nos postos de abastecimento convencionais, conseguir reduções do preço de venda ao público semelhantes aos apresentados pelos low cost. “Trata-se de modelos de negócio completamente diferentes. O modelo low cost é orientado para o baixo custo, através da compressão do investimento e dos custos operacionais, da simplificação de processos e da oferta, tanto de produtos como de serviços, e estão localizados normalmente em zonas contíguas ou em parques de estacionamento de grandes superfícies, não são o negócio nuclear do complexo comercial onde se inserem, funcionando em muitos casos como um gerador de tráfego para a venda de outros produtos.”

Já para a Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis (Anarec), quem é beneficiado com os combustíveis simples são as petrolíferas. De acordo com a mesma, as gasolineiras fizeram um esforço para cumprir a lei e as petrolíferas têm transmitido a mensagem de que os combustíveis aditivados são melhores, “quando para muitos carros os simples são muito bons”, e são vendidos aos revendedores a preços que não podem baixar mais para os consumidores.

Operadores A Galp também critica a nova lei e garante que “esta inovação em nada contribuiu para reforçar um mercado livre e concorrencial, reduzindo as opções dos consumidores sem qualquer benefício significativo em termos de preços”. A empresa optou por retirar da sua oferta os combustíveis premium, mantendo a gama “normal”. Ou seja, passou a ter uma oferta composta por gasolinas e gasóleos “normais” aditivados e por combustíveis sem aditivos, deixando de ter a oferta de topo, com preços mais altos.

Contactada pela i, a petrolífera afirma que a maioria dos clientes continua a optar por combustíveis aditivados, “não só devido aos preços competitivos que a Galp apresenta, mas também pelos benefícios que os clientes reconhecem a estes combustíveis”. Em parte também porque recorrem a política de descontos que é praticada pela empresa. De acordo com as contas da Galp, mais de 70% das vendas são feitas com algum tipo de descontos para os clientes. “No ano passado, os descontos concedidos apenas ao abrigo da parceria com o Continente representaram mais de 30 milhões de euros em benefícios para os clientes”, diz.

Já a Repsol manteve os combustíveis de topo, que considera terem alta qualidade, retirando parte significativa da oferta de combustíveis de segmento intermédio – as gasolinas e gasóleos “normais” com poucos aditivos –, que são substituídos por uma oferta massificada de combustíveis de base, sem os aditivos tradicionais. A empresa garante que “todos os combustíveis se encontram devidamente sinalizados nas bombas de abastecimento” e continua a apostar numa estratégia de fidelização que dá descontos através de cartões de fidelização.