O S. João, ao que se sabe, é dos santos populares mais celebrados em todo o planeta. Mas não há nenhum como o do Porto, com uma cidade parada e toda a gente na rua. É a festa em que todos somos muito mais iguais uns aos outros.
A noite de 23 para 24 de Junho mobiliza meio mundo. No Canadá, no Brasil, no Báltico, em Itália, na Polónia ou na Irlanda. E em Espanha, sobretudo na Galiza e na Catalunha. Há anos, passei um S. João em Barcelona e consegui sentir-me quase, quase em casa. Só se nota a diferença pela falta do alho-porro e dos martelinhos.
Mas o S. João do Porto é único pela autenticidade e pela diversão. A começar nas Fontainhas ou em Miragaia, subindo aos Aliados ou à Rotunda, descendo depois até Massarelos ou a Nevogilde, todas as misturas acontecem. Com ou sem carrinhos de choque e farturas. Necessariamente com bailaricos e marteladas.
Obrigatoriamente com balões de papel, cheiro a manjerico e sardinhas assadas. Não haverá muitos portuenses que não tenham uma vez queimado as calças a saltar uma fogueira ou que não se lembrem de terminar a noite na Foz, já de manhã, quase a adormecer na praia.
Até por coincidir com o solstício de Verão, o dia mais longo do Porto é aquele em quase tudo é possível e em que vale praticamente tudo. Uma menina chique pode dançar com o empregado de café, e um polícia apanhar uma martelada de um carteirista.
Este ano, prevê-se que meio milhão de pessoas participe no S. João do Porto, num entusiasmo que não divide nem separa, numa festa que é verdadeiramente interclassista e genuinamente democrática. Não se fazem contas ao dia seguinte. Vai haver eleições? Há crise? Contas para pagar? Nada disso. No Brasil, a vida começa depois do Carnaval. No Porto, é só depois do S. João.
Escreve à quinta-feira