Prémio Camões para Hélia Correia

Prémio Camões para Hélia Correia


Júri foi unânime na escolha da escritora para a 27.ª edição deste prémio.


“Os prémios são coisas aleatórias. Não podem tornar-se motivo de cobiça nem de frustração”, dizia Hélia Correia em entrevista a Maria Ramos Silva, publicada no i em Março de 2013, a propósito dos prémios Vergílio Ferreira e Correntes d’Escritas Casino da Póvoa, conquistados nesse mesmo ano.

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Mas mesmo sem os procurar, eles continuam a aparecer. Recentemente foi distinguida com o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco da Associação Portuguesa de Escritores e agora chega o Prémio Camões, a mais importante distinção literária de língua portuguesa.

A escritora foi escolhida por unanimidade pelo júri, composto por Rita Marnoto, professora na Universidade de Coimbra, Pedro Mexia, crítico literário e escritor, Inocência Mata, professora nas universidades de Lisboa e de Macau, e pelos escritores Afonso Romano de Sant’Anna, António Carlos Secchin e Mia Couto.

À Lusa Hélia Correia confessava-se ontem surpreendida: “Há grandes escritores de língua portuguesa com uma obra de muito maior impacto e fecundidade do que a minha.” Afirmou ainda que nunca se viu “a fazer parte destas pessoas com probabilidade de obter estas distinções.”

Confessou-se ainda “preguiçosa e descuidada” face à produção literária: “É uma espécie de compensar o defeito, em vez de compensar a virtude. Não sou esforçada e responsável perante as exigências editoriais. Tenho um traçado de vida muito selvagem e anti-social que não espera cruzar-se com estas benesses tão importantes e tão relevantes, ligadas a um nome como o de Camões, que merece toda a nossa veneração.”

Figura discreta mas essencial na literatura portuguesa das últimas décadas, Hélia Correia começou a “ler sem querer”, como dizia ao i – nas brincadeiras que recriavam a escola e a escrever cedo, com quatro anos ou “desde sempre”, como referiu na mesma entrevista, mas nem por isso considera ter uma obra, preferindo, modestamente, chamá-la de textos fruto do acaso.

“De vez em quando aparece um texto e quando a preguiça lhe cede eles são escritos.” E cedeu muitas vezes, em romances, novelas, contos e poesia. Foi, no entanto, e como apontava ontem a secretaria de Estado da Cultura, como ficcionista “que se revelou como um dos nomes mais importantes e originais da sua geração”.

“Lillias Fraser”, romance passado entre Portugal e Escócia, publicado em 2001, foi o que lhe valeu mais prémios literários: o Prémio de Ficção do Pen Club e Prémio D. Dinis.  “Bastardia”, “O número dos vivos”, “Soma”, “A chegada de Twainy”, “A Ilha Encantada”, “Adoecer” ou “A Terceira Miséria” são outros títulos publicados pela autora, nascida em Lisboa em 1949.

Hélia Correia é licenciada em Filologia Românica e estudou teatro. Dedica-se  actualmente à tradução e à escrita, mas foi a sua actividade enquanto professora do ensino secundário aquela que considera ter sido a única profissão que teve na vida e a sua verdadeira vocação. “Aí poderia ter entrado numa carreira, que também não quis, porque queria era dar aulas aos meninos a seguir ao básico, os que melhor se associavam comigo na liberdade da imaginação”.

Com a distinção de Hélia Correia, o Prémio Camões, com o valor de 100 mil euros, volta a ser atribuído a um autor português (o 11º, o mesmo número de vencedores brasileiros), quatro anos depois de Manuel António Pina o ter conquistado. O primeiro distinguido, em 1989 (ano em que o prémio foi instituído, por Portugal e pelo Brasil), foi o escritor Miguel Torga. Em 2014, foi atribuído ao historiador e ensaísta brasileiro Alberto da Costa e Silva.