A dança dos Sparks com os Franz Ferdinand começou da mesma maneira que a nossa. “Take Me Out”, o segundo single do álbum de estreia do grupo escocês, foi o herói de 2004 logo a partir de Janeiro.Nunca mais a pista rock’n’roll ficou como era e nunca mais os Sparks tiraram os Franz Ferdinand da ideia. Estamos ao telefone com Ron Mael, o tipo que na foto destas páginas está deitado no centro da tragédia: “Não sabíamos nada sobre eles, mas percebíamos que eram especiais.” Ron continua, diz–nos que “ser especial é ser diferente dos outros, mas jogando, ainda assim, pelas regras da pop” e que, por isso mesmo, quando na altura os encontraram em Los Angeles, disseram-lhes “temos de fazer algo juntos”. E fizeram. Onze anos depois, mas e então? “FFS” está à venda segunda-feira, concentremo-nos nisso.
É claro que lançámos a pergunta obrigatória, às vezes tem de ser. “Porquê 11 anos?” Sim, Ron, porquê? “Porque os Franz Ferdinand transformaram-se numa coisa superpopular, numa das maiores bandas dos últimos anos, e nunca mais pararam, nunca mais tiveram tempo para isso.” Nunca mais até que – outra vez a Califórnia – esta rapaziada voltou a cruzar caminhos, desta vez numa rua de São Francisco. “Olá, então como vais” e afins, e a conversa regressa ao “quando é que fazemos alguma coisa juntos?”. Mais uma vez, não houve data marcada, mas houve outro nível de compromisso. “Começámos a trocar ideias, à distância, sem plano, nunca ninguém quis fazer um disco.” Pois não, mas fizeram, e foi uma bela ideia.
“FFS” é dos melhores pingue-pongues que alguém já jogou em disco. Seis jogadores, mas nada de quatro para dois, tudo na mesma equipa. De um lado, a coisa é mais punk e tem a mão na anca; do outro, é mais cerebral e matemática, mas ela move-se, a ginga move-se e sempre esteve com os manos Mael, não era agora que isso ia desaparecer. Os Franz Ferdinand começaram em 2004, no meio do revivalismo de um pós-punk de garagem que virou o indie rock ao contrário; os Sparks arrancaram uns 30 anos antes, a trabalhar canções pop como mantas de retalhos electrossinfónicas, tudo minimalista mas tudo em grande (em álbuns como “A Woofer in Tweeter’s Clothing”, de 1972, “Kimono My House”, de 74, ou “Big Beat”, de 76, num percurso que continua). Estavam destinados a bailar mão-na-mão, tinha de ser.
E quando chegaram ao estúdio? Uma maravilha, naturalmente. “Demorámos uns 15 dias a gravar o disco. E antes disso tínhamos ensaiado talvez uma semana.Agora é só dar concertos. É engraçado que há coisas que não mudam, mesmo tantos anos depois, parece-me tudo muito simples.” Melhor ainda quando não há crises conjugais, não há dilemas para resolver. Corriam esse risco: esta foi uma relação criada à distância e depois teve morada conjunta; pouco tempo para tomar decisões, muita gente a pensar ao mesmo tempo; e uma diferença de idades que, bem o sabemos, nem sempre traz a melhor das saúdes à vida de um romance. “Todas essas coisas parecem uma complicação enorme, não é?” É, foi mais ou menos isso que pensámos, Ron. “Mas não foi. Foi até o que de melhor nos podia ter acontecido. Trabalhar sob pressão, discutir ideias ao mesmo tempo que as gravávamos no estúdio.E quanto à idade… bom, claro que eu e o Russell andamos nisto há mais tempo, mas isso não nos dá legitimidade para sermos paternalistas.” Sem espinhas. “Quando demos por ela, tínhamos um disco.”
Engraçado. Connosco passou-se o mesmo: quando demos por ela, os Sparks e os Franz Ferdinand tinham um disco. Como é que se faz isto de guardar segredo, nestes dias em que não dá para esconder nada de ninguém? “Há um primeiro passo fundamental: não contar nada à editora. Se a editora sabe, a partir daí é um dominó [a editora é a Domino, estes rapazes são tramados…]. Só contámos a alguns amigos, precisávamos desabafar sobre o assunto de vez em quando.”
E assim se evitou também a história do “supergrupo”. “Nada disso”, diz-nos Ron. “Supergrupos havia nos anos 60 e 70, quando se juntavam três ou quatro tipos de bandas diferentes para descobrir qual deles tinha o ego maior.Depois viajavam pelo mundo para que toda a gente soubesse disso.” Mas Ron, os FFS também vão viajar pelo mundo (pausa para relembrar que estes seis tocam em conjunto noSuper Bock Super Rock, no dia 18 de Julho)?“Sim, mas há sempre alguém que não vai dar por isso.” Todos em sintonia, todos pelo mesmo caminho. E têm eles uma canção com o título “Collaborations Don’t Work”. Brincalhões.