A previsão de crescimento da maioria PSD/CDS – “entre 2% e 3%” – não é de hoje e consta na “carta de garantias” apresentada ontem, com um acrescento: “se não existirem crises internacionais com impactos sistémicos ou globais”. Um risco não descartável nos próximos quatro anos, quando a Europa está a braços com o problema grego.
Pedro Passos Coelho já disse que o país está “apetrechado” (com os “cofres cheios”, como já disse a ministra das Finanças) para uma eventualidade dessas, mas na carta de garantias da coligação fica escrito que o crescimento do país está afinal condicionado por um eventual impacto vindo de fora.
Ontem, Passos Coelho e Paulo Portas estiveram lado a lado, num hotel em Lisboa, para apresentar este documento de nove garantias e também as “linhas de orientação geral para a elaboração do programa eleitoral”. Documentos que mais não fazem do que a súmula do que tem sido dito pelo governo (e até inscrito no Programa de Estabilidade entregue em Bruxelas em Abril), mas que agora aparece em forma de promessas eleitorais. Uma das que ainda não tinha ficado escrita foi a admissão da ministra das Finanças, há duas semanas, de poder vir a antecipar a reposição de salários na função pública, bem como a eliminação da sobretaxa de IRS. Em vez de 2019, o governo escreveu agora entre as suas “garantias” que “se as condições económicas o permitirem, a prioridade é a moderação da carga fiscal, portanto, aceleraremos essa redução a fim de a completar antes de 2019”.
A coligação avança para campanha basicamente com o que já tinha vindo a dizer (ver ao lado os pontos mais relevantes) desde que entregou o Programa de Estabilidade e o Plano Nacional de Reformas, e repete até omissões, caso da fórmula para a poupança de 600 milhões de euros nas pensões, para garantir a sustentabilidade do sistema. Mas até a ministra das Finanças já tinha dito que esse assunto seria para resolver na próxima legislatura. Na carta de garantias, a coligação compromete-se a fazê-lo por consenso (“e não condicionaremos a qualquer modelo prévio”, disse até Portas) e dentro da jurisprudência do Tribunal Constitucional.
Os líderes do PSD e CDS tentaram marcar a diferença em relação ao PS (sem nunca referir o partido). A estratégia passa por contrapor a “garantia de confiança, garantia de estabilidade, garantia de recuperação” (palavras de Paulo Portas), ou “uma estratégia que o país conhece” (nas palavras de Passos), às “invenções” de que os eleitores “estão cansados”, garante o líder social-democrata. OPS foi um alvo constante nos discursos, com Portas falar mesmo no “leilão de promessas” e Passos Coelho a dizer que “não basta ir testando uma ou outra medida para ver se descola nas sondagens”. O rosário da coligação (da “prudência”, da “previsibilidade” e da “esperança”) está afinado nisto e também na leitura do caminho até aqui. Passos sintetizou assim: “Sempre acreditámos que valia a pena passar pelo mais difícil desde que pudéssemos salvar Portugal e devolver esperança aos portugueses”.
Com J.d’E.