Cooking Through Generations. Cozinha para inglês comer

Cooking Through Generations. Cozinha para inglês comer


O britânico de uma estrela Michelin Marcus Eaves e o português Manel Lino foram os chefes convidados do Pine Cliffs Resort.


Mesas postas e relva aparada no campo de golfe mesmo ao lado, tudo pronto para o evento “Cooking Through Generations” do Pine Cliffs Resort, com um elevador que pousa em plena praia da Falésia, no Algarve. “E se uma bola de golfe nos acertasse?”, pensamos a olhar ora para os buracos do campo ora para o champanhe francês com morangos que temos na mão. Não há aselhas do golfe neste resort popular entre ingleses e caçadores de vistos gold, mas pelo sim pelo não podemos abrigar-nos no restaurante que o jantar vai ser servido.

Na verdade são dois jantares, preparados por Marcus Eaves, chefe britânico de uma estrela Michelin agora à frente do londrino Pied à Terre, e Manel Lino, o português de 28 anos do recém-inaugurado Tabik, em Lisboa, na Avenida da Liberdade.

O resort costuma dinamizar verões e invernos com eventos como jantares em cima de campos de golf – aqui sim, será mais fácil levar com uma bola – ou concertos para nostálgicos, como o de Michael Bolton ou Rick Astley, uma boa alternativa aos programas de bailes de junta de freguesia à beira da piscina que acontecem Algarve fora.

No fim-de-semana passado foi a vez da quinta edição deste “Cooking Through Generations”, que prometia mesas esgotadas e uma fusão de estilos e influências destas “estrelas em ascensão na cozinha mundial”. Em anos anteriores, Marc Fosh, Luke Thomas, Philippe Brun e Daniel e Stéphane Chambon foram os chefes escolhidos e é a primeira vez que um português é convidado para o evento.

Claro que num hotel cheio de ingleses convém sempre chamar um nome que mate saudades de casa. O de Marcus Eaves, com a sua primeira estrela Michelin aos 27 anos no seu L’Autre Pied, também em Londres, e uma presença regular em programas como o MasterChef da BBC, serve na perfeição.

Aplausos, fotos e menu explicado ao microfone numa noite em que se falou inglês dentro e fora da cozinha. Os pratos do britânico para a noite, esses são bem portugueses: caranguejo com pêssego, espargos, ervilhas e hortelã, vieiras marinadas com pepino e rábano, lombo de novilho com cogumelos selvagens e vinho da Madeira e, para acabar, tangerina, manga e coco e um cheesecake de fava tonka (uma especiaria semelhante à baunilha) com morangos ingleses (embora não saibamos distinguir com precisão dos portugueses), sorbet de morangos selvagens e lúcia-lima para rematar.
Na noite seguinte, Manel Lino, natural de Salvaterra de Magos, tentou impressionar com um menu “com produtos que fazem sentido na zona, como a amêndoa, a laranja ou o carabineiro”, explica.

 Tártaro de ostra e novilho com dashi (um molho usado na cozinha japonesa), gamba de leite com amêndoa, pregado com caldo de cebola tostada, aipo e borragem, pato com funcho e emulsão laranja e ganache com chocolate branco com espuma de citronela e merengue de limão foram os cinco pratos da ementa que preparou para a noite.

Uma das jovens revelações da gastronomia portuguesa, Manel conta que o interesse pela cozinha aconteceu quase por acaso e “já tarde”. “Sempre fiz coisas em casa. A minha mãe nunca foi grande cozinheira e dava-me bastante liberdade na cozinha”, conta.

Foi ela que o convenceu a inscrever-se na Escola de Hotelaria e o curso levou–o mais tarde a restaurantes como o El Celler de Can Roca, dos irmãos Roca, na Catalunha, considerado um dos melhores do mundo. “Gosto de cozinhar para pessoas que gostam de comer e que estão de mente aberta, sem preconceitos e sem medo de ter experiências diferentes.”