Em “Deus Branco” há um cão que é abandonado e que acaba por motivar uma revolta contra os homens. Mas mais do que abandonado por ser cão, “Hagen” é um rafeiro, um vira-lata sem raça.
Ora neste drama que é uma melancolia familiar, um thriller, um quase–terror com umas quantas cenas de acção pelo meio, o essencial é ver que os rejeitados podem muito bem vir a ser um dia os que decidem e tomam a atitude de mudar o que é preciso mudar.
Kornél Mundruczó nunca quis fazer um filme sobre cães ou qualquer outro animal, quis só fazer uma fantasia à volta da realidade. Uma parábola ambiciosa, não só pelos animais (o cão-estrela no papel de “Hagen” é, em palavras fáceis, o maior), mas também pela exigência visual necessária para fazer cair uma cidade sob as quatro patas x 300 de todos aqueles revoltosos com pêlo.
E é essa mistura de miséria-mais-técnica que resulta tão bem em “Deus Branco”. Moralista até ao último frame, o filme quer influenciar-nos a opinião, quer levar-nos a tomar uma atitude. Digamos sim ou não, reconheçamos a história ou recusemo-la, tanto faz.
“Deus Branco” vai conseguir sempre impressionar e levar a, pelo menos, um “será que?”. E depois as contas finais: 300 cães que, diz a produção, foram todos adoptados no final. Trezentos cães e nenhum foi maltratado. Números redondos e limpinhos.