No balanço do primeiro ano de Narendra Modi à frente do governo indiano, marcado ontem, o líder que muitos receiam que possa vir a empurrar a maior democracia do mundo para as trevas não realizou milagres nem conquistou a confiança de todos, mas não deixou de surpreender muitos ao ter dado passos firmes no sentido de cumprir algumas promessas de campanha. Modi comprometeu-se a transformar o rosto da Índia em cinco anos, com uma profunda reforma da economia, pondo fim à corrupção e apostando na criação de empregos. Sob a sua liderança, o Bharatiya Janata Party (BJP), partido nacionalista hindu, de direita, conseguiu afastar a formação que dominou o país desde a independência, o Partido do Congresso Nacional Indiano.
Depois de uma campanha tumultuosa em que a política deu lugar a um confronto odioso – e ao fim de uma década de governação do Congresso que deixou atrás de si um rasto de escândalos de corrupção a evidenciar o fracasso de uma economia a desacelerar, enquanto a inflação galopava – o antigo governador do estado de Gujarat manteve-se, ao longo deste primeiro ano, fiel a um estilo de liderança pragmática, mapeando os seus objectivos com listas, e focando-se essencialmente em livrar a Índia do inferno burocrático que facilita a corrupção e dificulta os negócios privados, o que aumenta o risco para os investidores.
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Os 12 anos de Modi à frente de Gujarat, um estado com 60 milhões de habitantes, têm-lhe servido para apresentar ao mundo o projecto que tem para o país onde vivem quase 1300 milhões de pessoas. O seu governo tem cortejado sem descanso o investimento directo estrangeiro (só o primeiro-ministro já fez 19 visitas a outros países, estabelecendo o recorde para um ano de governação) para o aplicar em indústrias da defesa, construções e transporte ferroviário. Anunciou reformas das leis laborais, a desregulamentação dos preços do gasóleo e tem vindo a reduzir os subsídios estatais.
Por outro lado, os investimentos programados bateram novos recordes indo além dos 57 mil milhões de euros até ao final do ano passado, e de acordo com o BJP, o crescimento nos sectores industrial e de serviços superou o de qualquer outra das nações BRIC, as economias emergentes desta região.
Até ao final do seu mandato Modi prevê construir uma centena de cidades inteligentes – um projecto global que aposta nas novas tecnologias para desenvolver modelos sustentáveis e humanos aos níveis da engenharia, arquitectura e outras áreas, cuja junção serve de base à criação e manutenção de centros urbanos –, atraindo cerca de um bilião de dólares (919 mil milhões de euros) em investimento e criando milhões de empregos.
Outra das grandes causas de Modi é a luta por uma Índia mais limpa. Lançou uma campanha nacional num ataque directo a um problema endémico que sai muito caro ao país, pelas doenças e mortes prematuras, e também pelas perdas para a produtividade laboral.
Para os opositores, no entanto, o boom económico que se registou desde Maio de 2014 não se deve aos esforços do governo, mas sim à abrupta queda dos preços do petróleo, o que significa um forte impulso para um país que importa 80% do petróleo que consome. De resto, o primeiro ano do governo do BJP fica marcado também por conversões forçadas, ataques a igrejas, comentários racistas de polítics de extrema-direita associados ao partido e o agravar das tensões com o Paquistão.