Palma de Ouro
Contra todos os livros de apostas e favoritismos, o grande vencedor em Cannes foi Jacques Audiard com “Dheepan”. O título do filme é também o nome do protagonista. Antonythasan Jesuthasan é Dheepan, um Tigre Tamil fugido do Sri Lanka e à procura de uma nova vida em Paris.
A crítica foi elogiosa quando o filme, quase sempre com a língua tamil como suporte para a história, foi apresentado a concurso, mas a maioria das estrelas ficaram para outros títulos. Ainda assim, o obrigatório regresso a Jesuthasan, que ganhará certamente nova atenção depois disto: ele próprio é um antigo soldado-criança entre os Tigres Tamil que nos anos 80 partiu para França, onde viria a transformar-se num bem–sucedido argumentista e escritor.
“Dheepan” foi, claro está, parcialmente baseado nas memórias do actor (ele que é um dos nomes que assinam o argumento do filme).
Antonythasan Jesuthasan (à direita) é o protagonista de Dheepan
Grand Prix
É o segundo prémio e o escolhido como vencedor foi durante estes dias de festival apontado como um dos filmes mais desafiantes de todo o concurso. Ganhou László Nemes, o realizador de “Son of Saul”. É um filme horrível, escreveram muitos, mas que retrata belissimamente um horror particular.
Nemes regressa a Auschwitz. Se isso não basta, continuemos. Nemes faz esta história dentro das câmaras de gás. Seguimos Saul, um judeu húngaro (papel atribuído a Géza Röhrig) que faz parte de um grupo especial de prisioneiros que, por um pouco mais de comida, carregam os corpos para as valas. É a primeira longa-metragem do realizador húngaro. À primeira fica em segundo na competição número 1 – uma aritmética que tem tudo para correr bem no futuro.
Melhor realizador
Hou Hsiao-hsien não realizava um filme há oito anos. Depois de “Flight of the Red Balloon”, aquele que é habitualmente inscrito na lista dos essenciais do cinema de Taiwan ganhou um dos prémios mais cobiçados graças a “The Assassin”, que mostra como uma assassina profissional regressa ao local do crime para compor o que tinha terminado como um mau trabalho. Mas isto numa viagem ao passado chinês, já que a narrativa se desenrola durante a dinastia Tang, entre os séculos VII e X. Ainda antes de o prémio ser atribuído a Hsiao-hsien estava já anunciado um futuro promissor para o realizador dentro do circuito comercial global que “The Assassin” deverá representar.
Prémio do Júri
O terceiro prémio, entregue pelo júri a um filme da selecção oficial, foi atribuído a Yorgos Lanthimos por “The Lobster”. O filme do realizador grego segue um dos argumentos mais originais de Cannes: num futuro próximo onde nem tudo corre bem, as pessoas que vivem sozinhas são colocadas num hotel durante 45 dias, durante os quais são obrigadas a encontrar um par. Quem não o fizer é transformado num animal e lançado na floresta. Mas depois acontecem coisas, como teria de ser, e é isso que faz de “The Lobster” um filme à parte.
Melhor Actor
“La Loi du Marché” é a lei do mercado e pelo título tiramos muitas conclusões acertadas. Este é o conto em modelo “podia ser qualquer um de nós” sobre um pai de família entregue à difícil missão de manter a ordem doméstica quando não há emprego e tudo o resto ameaça desaparecer também. O filme não arrancou elogios maiores, mas aqui a distinção é para Vincent Lindon como Thierry Taugourdeau, o herói desta história desencantada. A realização é de Stéphane Brizé.
Melhor actriz
A meio da cerimónia, o júri fazia o que lhe competia para tornar tudo bem mais interessante e imprevisível. Atribuía a distinção de forma repartida, dividia os lucros, atirava um ex aequo para os registos da história. Melhor actriz eram, afinal, duas: Rooney Mara e Emmanuelle Bercot, a primeira por “Carol” e a segunda pela interpretação em “Mon Roi”. Na adaptação do livro de Patricia Highsmith “The Price of Salt”, Mara é Therese Belivet, uma das protagonistas de um enredo feito de romance e conquista com Nova Iorque como cenário. A outra é Carol, a deslumbrante mulher que dá a volta às contas de Therese. Quanto a Emmanuelle Bercot, interpreta Tony, uma mulher em luta para aceitar que o final da relação com Georgio (Vincent Cassel) é o melhor e o pior, ao mesmo tempo, que lhe pode acontecer. Uma luta constante entre personagens fortes que seduziram a crítica presente no festival.