Há muitas dúvidas e incertezas em relação à possibilidade de os actuais trabalhadores terem acesso à reforma. O envellhecimento da população aliado à emigração, à precariedade laboral e à subida da taxa de desemprego põem em risco o acesso a esta prestação.
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Mas as más notícias não ficam por aqui. De acordo com o último estudo divulgado por Bruxelas, também o período para aceder a pensão de reforma em 2060 terá subido cerca de sete anos em Portugal. Aliás, este é um dos maiores aumentos entre os estados-membros da União Europeia (UE).
Além do aumento legal da idade da reforma, há ainda outros motivos para o aumento dos períodos contributivos, como o fim de muitos esquemas de reformas antecipadas ou critérios de elegibilidade mais restritos. Em muitos sistemas, os anos de serviço militar ou o número de filhos são valorizados no acesso à reforma, o que poderá ser alterado.
Em Portugal, tendo em conta os dados de 2014, a Comissão Europeia estima que até 2060 será estendido 6,8 anos o período contributivo para que os trabalhadores possam aceder à pensão de velhice completa.
Isso significa que Portugal fica acima do aumento estimado para a média da (UE), de quatro anos, sendo mesmo o segundo país com o aumento mais significativo, só atrás da Grécia (7,1 anos).
Este envelhecimento da popuçação também vai fazer pressão sobre os gastos públicos. As despesas com a população mais velha – com pensões, cuidados de saúde ou outros – deverão aumentar na UE até 2060.
Em dez países, entre os quais Portugal, é previsto um aumento moderado, até 2,5 pontos percentuais do produto interno bruto (PIB).
Já na despesa especialmente relacionada com as pensões de velhice é esperada uma redução em Portugal, como aliás na maioria dos estados-membros, o que Bruxelas atribui à execução de reformas nos sistemas de pensões para manter a sua sustentabilidade.
Todos estes factores causam alguma apreensão não só na geração activa actual, futura pensionista, como na dos seus pais, os reformados do presente, que temem que a velhice dos filhos tenha ainda menos segurança que a sua, mas também uma maior solidão pela alteração das estruturas e dos laços familiares. Mas o cenário de amanhã não é apenas de pessimismo e incerteza e o discurso do conflito de gerações é afinal desmontado por aqueles que vêem o seu futuro nos olhos dos seus progenitores, como revelam os testemunhos recolhidos pelo i. É, por outro lado, através da experiência que estes vão tendo do que é chegar às últimas etapas da vida que se vai construindo a sociedade das próximas décadas, através do diagnóstico de situações, da criação de estruturas que apoiem e incentivem os mais velhos para que continuem a viver activamente e a participar na comunidade e a pensar a tecnologia para todos, porque todos já estamos a envelhecer.
Da robótica à saúde, passando pelo turismo e pelo lazer, os desafios levantam-se a vários níveis. Com o aumento da esperança média de vida, os idosos em 2060 não serão tão velhos, nem física, nem psíquica, nem socialmente, como antevê a especialista em gerontologia Zaida Azeredo. E, pela sua heterogeneidade enquanto grupo, a tendência é que sejam cada vez mais participativos nas acções que lhe são dirigidas, ou mesmo mentores de algumas delas.
As relações provavelmente serão diferentes, e até menos inter-geracionais, tendo as tecnologias um papel fundamental no combate ao isolamento e na criação de outras redes sociais. Mas os que já chegaram à fase sénior alertam para a solidão que já começa a afectar as pessoas da geração a seguir à sua e que ainda estão no activo. Aí, alertam, é preciso ultrapassar barreiras e aprender ou reaprender a fazer amizades, ou simplesmente aventurar-se por conta própria em situações e actividades habitualmente parti-lhadas com outros. Para que a casa não seja uma prisão e porque as novas tecnologias serão sempre novas, o futuro já está a envelhecer e tem de ser pensado hoje.