Líderes religiosos apelam à educação para travar radicalismo

Líderes religiosos apelam à educação para travar radicalismo


Xeque David Munir apela à Europa para integrar os muçulmanos. Fukuyama diz que regime chinês não se vai renovar.


O último dia das Conferências do Estoril ficou marcado por um diálogo entre representantes de três religiões. O debate em torno do conflito entre civilizações juntou o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, o xeque David Munir, da Mesquita Central de Lisboa e Abraham Skorka, que pertence ao Centro Rabínico Latino-Americano e é amigo pessoal do Papa Francisco. No final da sessão, os três trocaram cumprimentos debaixo de uma salva de palmas da plateia. 

A palavra mais vezes repetida pelos oradores foi educação. No entendimento dos três responsáveis, “só através da educação é possível conhecer melhor as razões dos outros”. D. Manuel Clemente alertou que “estamos perante um processo lento”. O xeque David Munir também recorreu à falta de educação de muitos jovens no Médio Oriente para justificar o crescimento do radicalismo islâmico. O imã da Mesquita Central de Lisboa acrescentou que “as populações nos países islâmicos estão frustradas por razões políticas, económicas e sociais”, tendo recordado que “99% dos migrantes que tentam ultrapassar o mar Mediterrâneo são de países muçulmanos”. 

PAZ O abraço entre os três protagonistas resultou de uma mensagem positiva que foi transmitida ao longo da concorrida sessão. Abraham Skorka garante que “a paz é possível só com palavras”, tendo acrescentado que “é necessário combater o radicalismo com o nosso espiritualismo”. Por seu lado, D. Manuel Clemente enumerou vários factores que “podem contribuir para a paz, como são os encontros inter-religiosos e a convivência entre as populações”. No primeiro discurso, o xeque David Munir fez um pedido para alguns países europeus. O imã entende que o “islão tem de ser considerado como uma religião da Europa”, pedindo “uma mente mais aberta aos responsáveis europeus”. 

MUNDO DIVIDIDO As convulsões sociais e políticas que transformaram os vários continentes nos últimos anos foram analisadas pelos especialistas que estiveram no Estoril. As tensões no Médio Oriente, a crise financeira na Europa, o crescimento da China e a força da Rússia motivaram várias análises pelos académicos, responsáveis políticos e líderes religiosos. Os únicos continentes que não mereceram críticas foram a América e a Ásia. O professor da Universidade de Stanford Francis Fukuyama explicou ao i que tipos de problemas enfrenta o mundo. O académico afirmou que “o mundo está dividido em dois blocos”, sendo o primeiro “composto pelo Médio Oriente e África”.

O segundo integra “a China e Rússia”. Fukuyama afirma que “o Partido Comunista Chinês vai ter problemas em se renovar”. A situação na Europa não foi esquecida. O autor de “Ordem Política e Decadência Política” acredita que “uma saída do Reino Unido da União Europeia é mais problemática do que a provável saída da Grécia”. A democracia norte-americana necessita de alterações. O académico entende que “a competitividade democrática nos Estados Unidos passa pelo surgimento de um terceiro partido”.