László Krasznahorkai, o nome correcto do vencedor

László Krasznahorkai, o nome correcto do vencedor


O Booker Internacional foi entregue ao escritor húngaro. O júri comparou-o com Kafka: “Vai do assustador ao belo”.


Pode ainda ser preciso algum (bastante) tempo até que usemos com conforto expressões à maneira de “Este texto é tipicamente Krasznahorkai” ou “quando escreves assim és uma espécie de Krasznahorkai”. Só porque o apelido do húngaro de primeiro nome László é generoso nas consoantes, talvez de mais para quem não respira bem com palavras longas. Ainda assim, está tudo encaminhado para que pelo menos comecemos a pensar na possibilidade. Não que se tratasse de um autor ignorado, mas ganhar um prémio de impacto mundial costuma ter os seus efeitos. Neste caso falamos do Man Booker Internacional, entregue de dois em dois anos. O vencedor foi anunciado na noite de terça-feira e agora vem o resto, tem de ser.

Estaríamos provavelmente mais atentos ao evento deste ano (num prémio entregue de dois em dois a um autor vivo, de qualquer nacionalidade, pelo conjunto de uma obra escrita ou traduzida em inglês) porque Mia Couto era um dos finalistas – e que ninguém nos tenha em má conta por isso. Contas feitas, agora é esperar pelo efeito que as distinções têm nas coisas das letras. A primeira dessas consequências, espera-se, vamos vê-la na forma de traduções. Encontrar László Krasznahorkai só em língua estrangeira, ou então no cinema (que para o efeito de nacionalidade vai dar no mesmo). “Satantango” é o título mais popular do escritor, também graças a outro húngaro, Bela Tarr, que em 1994 transformou em longa-metragem a história de um aldeia à beira do colapso, de gente feita de maldade e pouco mais, à espera da oportunidade perfeita para ficar com tudo ou não deixar nada (pelo meio há até um visitante que pode mesmo ser o Diabo).

O livro é de 1985, o primeiro romance de Krasznahorkai e que está longe de algum dia conhecer prazo de validade. E está tudo relacionado com o que o escritor sempre foi, até fora dos livros. László nasceu em Gyula em 1954. Estudou Latim, estudou Direito, estudou Literatura Húngara. Viajou por todo o mundo, um profissional da observação do quotidiano tem de o fazer. Assim deve continuar este estudioso, sobretudo agora. 

Ao anunciar o vencedor (do prémio de mais de 80 mil euros), o júri do Booker referiu-se a Krasznahorkai como “herdeiro de Kafka”. Assumiu ter encontrado “alguém do mesmo calibre” e foram referidos truques que alguns escritores têm – ao que parece, o vencedor László é um desses privilegiados, da mesma forma que o tal Kafka também era: “Eles oferecem a emoção do desconhecido, passado algum tempo voltam a pôr-nos no meio da realidade, mas com imaginação.” Malandragem bem formada, que nos dá a volta, e nós deixamos.

Claro que o júri também disse que preferia “não ter escolhido um vencedor, cada um dos dez escritores é maravilhosamente diferente, qualquer um podia ter ganho”. Claro que podia, mas só ganhou um. Ganhou – cá vai, mais uma vez – Krasznahorkai, porque “é um escritor visionário, de intensidade extraordinária, que capta o dia-a-dia em cenas que podem ser assustadoras, surpreendentes, cómicas ou simplesmente belas”. Palavra de júri. O mesmo que não se cansou de elogiar o que se lê em obras como “The Melancholy of Resistance” (1989), “War and War” (1999) ou “Seiobo There Below” (2008). Os títulos aqui estão em inglês, que ficam sempre mais próximos que os originais húngaros. É esperar pelas traduções, que deverão estar a caminho.