Tape Junk. Quatro mãos, oito pistas e um produtor para a mesma fita

Tape Junk. Quatro mãos, oito pistas e um produtor para a mesma fita


O projecto de João Correia deixou de ser só dele. O segundo disco trouxe a banda para dentro de casa.


Os Tape Junk – lê-se agora no plural – chegam ao segundo disco como banda  e com isso entram numa nova fase, a quatro, a primeira como grupo. Talvez por isso não tenha sido necessário inventar mais nomes para chamar ao  álbum que não o da própria formação: “Tape Junk”. Gravado no sótão da casa de Luís Nunes (anteriormente conhecido por Walter Benjamin), no Alvito, a partir de um gravador de oito pistas, o álbum reflecte esse ambiente, mas também o caminho trilhado desde a estreia, com “The Good and the Mean”.

A evolução para o novo formato, explicada pelo ainda líder João Correia, aponta nesse sentido: “O primeiro [disco] existe como um conjunto de canções que quis escrever, gravar e registar, mas a banda só se formou depois, quando começaram a aparecer propostas para tocar ao vivo. Só aí é que nos juntámos os quatro”, recorda o músico.

Entretanto surgiram músicas novas e a ideia para gravar um novo disco. Porque não juntar os contributos já experimentados e rodados em palco? “Falei com o Luís Nunes para nos produzir, e a ideia dele de gravação do disco, do conceito, acabou por nos juntar ainda mais, por nos levar a fazer um disco em que tocámos live no sótão dele. Esse conceito fez com que estivéssemos muito mais juntos como banda, porque só nos conhecíamos os quatro, em concerto, a tocar aquelas canções.”

O processo de gravação definiu os Tape Junk como banda e a própria sonoridade do álbum, simples e directo. “Tínhamos de assumir alguns riscos. Como o som entrava era como ia ficar.” Ou seja, sem complicações e a pensar muito no resultado final. O ambiente ajudou, já que o disco foi gravado numa casa e não num estúdio convencional. “O facto de estarmos os quatro a tocar no mesmo espaço algumas músicas que nem sequer estavam muito rodadas pela banda fez com que voltássemos um bocadinho àquele espírito de banda de garagem sem muito compromisso. Sabíamos que queríamos era chegar lá e tocar as canções e passar um bom bocado pelo meio”, explica João Correia.

Um processo em muita coisa diferente do que acontece com a escrita das canções, que continuam a ser um momento solitário e caseiro do músico. Para este disco levou cerca de 20 temas dos muitos que já tinha composto e registado. Luís Nunes acabou por ajudar a fazer a selecção e algumas das composições que à partida não estava previsto fazerem parte do disco acabaram por entrar. Azares dos bons, mais ou menos isso. “Nunca consegui escrever com nenhum projecto, nem com os Julie and The Carjackers, nem aos pares [risos]. É sempre um processo que faço sozinho. Claro que montar a música e o caminho que ela pode levar muitas vezes já se faz com a banda toda. Neste caso o Luís deu muitas ideias de como as músicas deviam soar.”

E foram muitas as discussões entre os dois e o caos a instalar-se, enquanto os outros elementos assistiam a tudo com alguma perplexidade. “Não são discussões muito sérias, são de irmãos. Mas toda a gente sentia alguma tensão”, confessa, resumindo que na origem de tudo isso está o seu pessimismo, que esbarra no optimismo do produtor do álbum. “Quero fazer o melhor que sei para lhe provar que mesmo fazendo o melhor que consigo aquela música se calhar não é a certa para gravarmos, e ele quer provar que eu vou fazer o melhor que consigo e que aquilo vai resultar. E o resto da banda quer tocar.” Antes isso que não haver debate e troca ideias, assim se saibam gerir as opiniões. Um pouco como acontece com os vários projectos que acumula. Um caso sério de vício, mais ou menos isso.

“Tenho tido muita sorte desde o início com estes projectos todos. Às vezes é com amigos muito próximos, como o Bruno Pernadas ou o Frankie Chavez. Agora estou a tocar com o Jorge Palma e o Sérgio Godinho, que não são amigos próximos mas é um convite de trabalho de pessoas que admiro muito. O telefone toca e convidam-te e tu ou dizes que sim ou dizes que não.” João é dos que dizem que sim, quase sempre.