Não sou normal? Porque agradeço um insulto? Creio que sou. Leia-me primeiro e julgue-me o leitor. Parto de um princípio básico da vida em sociedade: só não temos inimigos se somos neutros. Amorfos. Se não contamos para o estrito grupo dos que pesam na decisão. Se gostamos que gostem de nós, ainda mais gostamos que nos respeitem. Gostar de nós muitos gostam, e começamos lá por casa. As mães e os pais, os irmãos (às vezes), os primos e outros quantos, entre os quais estão, obviamente, os nossos amigos.
Os que não gostam de nós têm com certeza muitas razões para isso: ou nos acham presunçosos, ou cheios de nós, mal-educados, incompetentes, atrevidos, malandros, entre tantos outros epítetos, uns mais e outros menos simpáticos. Lembro-me do que diziam os pais sobre um conhecido e condenado vigarista que conheci e era um advogado famoso, não pela competência mas pelo mediatismo que outras funções lhe davam: “Como podem dizer que o meu filho é vigarista ou roubou o que quer que seja a alguém? Logo ele, que é tão amigo da família.”
Mais importante que gostarem de nós é respeitarem-nos. É bom, mesmo muito bom, saber que aqueles que não gostam de nós reconhecem que somos bons no que fazemos. Ouvir um concorrente que pela frente nos faz elogios e nas costas diz o pior de nós acabar o dia a dizer “não posso com ele, rouba-me negócios, mas é muito competente” é mesmo muito bom. O respeito é o melhor estímulo a que prossigamos. Devemos, pois, fazer tudo bem. Tudo com profissionalismo. Mesmo aqueles que optam por caminhos ínvios, por enganar clientes, “montar Donas Brancas disfarçadas de bancos privados” e deixar todos os clientes na penúria, esperando que o Estado pague aos mesmos, devem saber fazer a sujeira bem feita.
Faz lembrar um pouco a história do corrupto sério e do corrupto desonesto. Não conhecem? Pois bem, segundo alguns, corrupto sério é aquele que recebe (falo do passivo, claro) e entrega o que prometeu. Corrupto desonesto, pelo contrário, é aquele que vende “a mãe” duas vezes, pela simples razão de que nunca entrega o que vendeu. E como isto está cheio de incompetentes. Outro género de incompetência vem daqueles que montam esquemas financeiros, se apresentam como banqueiros, enganam os investidores e depois descobrem que afinal o esquema estava mal montado, a careca vai-se descobrindo e… a culpa é dos enganados que não prestaram atenção ao mercado ou do mercado que evoluiu de maneira diferente do esperado ou do regulador que regulou ou do Ministério Público que os acusou ou vai acusar. E quando descobrem, bem, quando descobrem vale tudo.
Começam por pregar moral, escrever artigos de opinião, pois o nome dos vigaristas é chamativo em qualquer jornal (têm a sua legião de fãs entre clientes enganados que esperam recuperar algum e aspirantes a vigaristas que querem aprender algo), escrever livros (está muito em voga) que são apresentados por figuras públicas que rapidamente desaparecem quando descobrem quem realmente é o meliante, e insultar quem não é da sua estirpe.
Voltando ao princípio, gosto muito que me respeitem, mesmo aqueles que de mim não gostam. Valorizo mais o respeito destes que o daqueles que de mim gostam, pois estes são suspeitos. A amizade tolda muitas vezes o raciocínio. Gosto muito que não gostem de mim e que não respeitem as minhas opiniões ou as ignorem, pois não gostar é legítimo e não concordar com a opinião de qualquer um, ou até desprezar o que pensa, é democraticamente desejável. Mas o que gosto mesmo, logo abaixo daquele gostar de quem não concorda comigo mas percebe o meu raciocínio ou faz o favor de achar que o tenho, é daqueles vigaristas, género sapateiros que tentam tocar rabecão, rendeiros armados em proprietários, banqueiros de esquemas de pirâmide, que me insultam.
Gosto que o façam. Reforça a minha credibilidade.
Empresário
Escreve à terça-feira