Ficou-se a saber o que era “estar na berlinda”. As berlindas são carruagens leves, rápidas, de quatro rodas. E vão estar em exposição, assim como a maior colecção do mundo de coches, no novo museu que abre portas a 23 de Maio em Belém, Lisboa.
O projecto é do “Pritzker” brasileiro Paulo Mendes da Rocha, em colaboração com Bak Gordon Arquitectos e Nuno Sampaio Arquitectos. Paulo Mendes da Rocha vai estar na inauguração do Museu dos Coches na próxima semana, mas foi Ricardo Bak Gordon que explicou ontem a ideia do edifício, que passa “pelo diálogo entre a cidade e o museu”. A atenção especial à envolvente da estrutura resultou num edifício que “deixa correr” a cidade até por baixo, uma vez que a estrutura está implantada em pilares numa cota superior. O mesmo edifício surge dividido em duas áreas distintas – ligadas entre si, naturalmente, mas com finalidades diferentes. Na zona principal vão estar expostos coches, berlindas, carros eclesiásticos, liteiras, cadeirinhas e carros de grandes boulevards, de quando, além da realeza, a alta burguesia também começou a deslocar-se nestas jóias sobre rodas. No outro lado do edifício vão estar instaladas a biblioteca, a cafetaria, a oficina de restauro, o auditório e a loja.
O projecto Oprimeiro espaço estará repartido por duas grandes salas com pouca luz, para não danificar os hipomóveis (ou, traduzindo, carros puxados por cavalos), e o “segundo”, parcialmente transparente, aparece quase como atravessado pelos jardins de Belém, o antigo Museu dos Coches, a Rua da Junqueira, a Avenida da Índia e o rio Tejo.
Durante a visita guiada ao museu, o arquitecto Ricardo Bak Gordon referiu que o maior desafio foi “a resposta que o edifício dá do ponto de vista urbano”, isto é, “fazer a cidade a partir da arquitectura”. Ricardo explicou que antes de estar concluído o museu surgia aos olhos das pessoas como uma enorme caixa, mas agora “percebe-se a preocupação com a envolvente e ainda com a criação de praças e espaços que vão ser atravessados todos os dias pelas pessoas”. O arquitecto deu o exemplo da parte superior do museu, junto da Rua da Junqueira, onde se criou uma pequena praça e para onde foi deslocada a paragem do eléctrico.
O responsável explicou que as duas grandes salas contíguas, onde os coches estão expostos, têm lajes únicas de betão pré-esforçado, sem juntas, com um tamanho de 135 metros por 25, cada uma delas. As quatro paredes são feitas de vigas metálicas.
Além deste novo edifício está ainda em construção uma passagem superior para peões e bicicletas entre o museu e a marginal junto ao rio, sobre a Avenida da Índia e a linha ferroviária, mas que só ficará concluída em meados do próximo ano.
No auditório, o palco fica ao nível térreo, nivelado com o piso do exterior do museu, o que permite que os veículos entrem de um lado e saiam do outro. O arquitecto referiu que aquele espaço pode ser utilizado por privados, por exemplo “para a apresentação de um automóvel”.
O museu O novo Museu Nacional dos Coches foi apresentado pelo secretário de Estado da Cultura, que confirmou uma estimativa de 350 mil visitantes por ano. Jorge Barreto Xavier acrescentou que primeiras contas apontam para um orçamento anual dos dois museus (o antigo e o novo)na ordem dos 2,7 milhões de euros, um valor inferior ao anteriormente anunciado, de 3,3 milhões. O apoio anual do Estado cifra-se em cerca de 500 mil euros. O secretário de Estado explicou que o novo Museu dos Coches custou cerca de 40 milhões de euros, “financiado quase exclusivamente pelas verbas do Casino de Lisboa, através do Turismo de Portugal”. Relativamente ao preço dos bilhetes, o secretário de Estado da Cultura ainda não avançou com um valor. Sabe-se que poderá haver ingressos para cada um dos museus separadamente e para os dois em conjunto.
Segundo a directora do museu, Silvana Bessone, que vai assumir a direcção dos dois espaços, vão estar em exposição os 70 veículos do final do século xvii até ao século xix. Neste último período, a exposição termina com uma carruagem dos correios, a mala-posta, que marca o início do transporte público em Portugal. A nova exposição vai contar com um valioso extra: os 26 carros que vieram do núcleo museológico de Vila Viçosa. Além dos coches, o museu vai ter expostos adereços e fardas da época, para que a visão seja abrangente. Quanto ao antigo museu, vai acolher de forma permanente quatro coches e quatro berlindas, adereços, tapeçarias e pinturas da dinastia de Bragança.