Sampaio da Nóvoa não é um bom candidato


Sampaio da Nóvoa não disse nada nos últimos 40 anos que tenhamos memorizado. Por isso, quando se auto-elogia amplifica apenas o pouco que tem para mostrar. A vida é o que é


Sampaio da Nóvoa não é um bom candidato à Presidência da República. Digo-o sem prazer; não tenho (ou tento não ter) a tentação de rejeitar à partida, de não gostar, de não oferecer o benefício da dúvida. Gosto de gostar. E adoraria que um candidato independente pudesse candidatar-se e ganhar. Seria um óptimo sinal; permitiria uma regeneração dos partidos e daria força a uma sociedade civil independente e que não quer andar a reboque do Estado. 

Ser o Partido Socialista a apoiar Sampaio da Nóvoa pareceu-me uma ideia arriscada mas interessante. Com esse improvável apoio, António Costa daria um sinal ao país de que estava ao lado dos que não temem mudanças, dos que acreditam que os partidos precisam de se abrir ao exterior, às elites, aos homens e mulheres livres que não se revêem na participação político-partidária. Escrevi até que, com o apoio de Soares, Eanes e Sampaio, o ex-reitor da Universidade de Lisboa poderia ganhar as eleições se do outro lado da barricada estivesse Rui Rio. Mas ninguém se deve enganar. Sampaio da Nóvoa é um homem com valor, um professor universitário com uma carreira de topo.

Porém, por muito que custe a quem nele investirá tempo, recursos e esperança, não é um bom candidato. 
Vi e li as suas entrevistas. Por reconhecer o handicap de poucos portugueses saberem quem é, tem a preocupação de gastar uma parte substancial do seu tempo mediático a apresentar-se num tom (compreensível) de auto-elogio. Pela sua boca sabemos que fez isto, aquilo e aqueloutro. Que na juventude leu clássicos, se apaixonou, participou em manifestações, organizou colóquios e jogou à bola. O problema é que nada retemos que seja distintivo para a escolha de um Presidente da República. 

Fernando Nobre sofria do mesmo problema. Mas Nobre fizera a AMI, dedicara a sua vida a salvar pessoas, o seu perfil era o de um romântico que aos olhos das pessoas tornara o mundo melhor. Teve por isso quase tantos votos como Manuel Alegre, a quem o PS apoiou. Até pode ser mais estruturado nas ideias que Nobre, mas o seu currículo (político, afectivo e profissional) não convence ninguém. Sampaio da Nóvoa não disse nada nos últimos 40 anos que tenhamos memorizado. Por isso, quando se auto-elogia, amplifica apenas o pouco que tem para mostrar. A vida é o que é. 

Ter tido uma vida memorável não faz um bom ou mau candidato. O grave é não ter um discurso novo, não ser um motor de esperança, não mobilizar o entusiasmo das pessoas e das novas gerações, não ter uma ideia que seja nova, criativa, redentora. Os seus discursos são retóricos, uma homenagem ao parisiense Flore, no boulevard Saint-Germain, onde Sartre, Beauvoir e Camus marcaram o tempo. É curto.

Não me parece que possa ir longe. António Costa sabe-o. Apoiará Nóvoa, mas deixará o grosso do trabalho a Sampaio, Soares e Eanes, se confirmar o apoio. Um conselho de sábios que dará jeito a um PS que irá a jogo sem ir a jogo. É a última das preocupações do líder do PS – se ganhar as legislativas, o resto é secundário; se as perder, pouco lhe importará. 


Sampaio da Nóvoa não é um bom candidato


Sampaio da Nóvoa não disse nada nos últimos 40 anos que tenhamos memorizado. Por isso, quando se auto-elogia amplifica apenas o pouco que tem para mostrar. A vida é o que é


Sampaio da Nóvoa não é um bom candidato à Presidência da República. Digo-o sem prazer; não tenho (ou tento não ter) a tentação de rejeitar à partida, de não gostar, de não oferecer o benefício da dúvida. Gosto de gostar. E adoraria que um candidato independente pudesse candidatar-se e ganhar. Seria um óptimo sinal; permitiria uma regeneração dos partidos e daria força a uma sociedade civil independente e que não quer andar a reboque do Estado. 

Ser o Partido Socialista a apoiar Sampaio da Nóvoa pareceu-me uma ideia arriscada mas interessante. Com esse improvável apoio, António Costa daria um sinal ao país de que estava ao lado dos que não temem mudanças, dos que acreditam que os partidos precisam de se abrir ao exterior, às elites, aos homens e mulheres livres que não se revêem na participação político-partidária. Escrevi até que, com o apoio de Soares, Eanes e Sampaio, o ex-reitor da Universidade de Lisboa poderia ganhar as eleições se do outro lado da barricada estivesse Rui Rio. Mas ninguém se deve enganar. Sampaio da Nóvoa é um homem com valor, um professor universitário com uma carreira de topo.

Porém, por muito que custe a quem nele investirá tempo, recursos e esperança, não é um bom candidato. 
Vi e li as suas entrevistas. Por reconhecer o handicap de poucos portugueses saberem quem é, tem a preocupação de gastar uma parte substancial do seu tempo mediático a apresentar-se num tom (compreensível) de auto-elogio. Pela sua boca sabemos que fez isto, aquilo e aqueloutro. Que na juventude leu clássicos, se apaixonou, participou em manifestações, organizou colóquios e jogou à bola. O problema é que nada retemos que seja distintivo para a escolha de um Presidente da República. 

Fernando Nobre sofria do mesmo problema. Mas Nobre fizera a AMI, dedicara a sua vida a salvar pessoas, o seu perfil era o de um romântico que aos olhos das pessoas tornara o mundo melhor. Teve por isso quase tantos votos como Manuel Alegre, a quem o PS apoiou. Até pode ser mais estruturado nas ideias que Nobre, mas o seu currículo (político, afectivo e profissional) não convence ninguém. Sampaio da Nóvoa não disse nada nos últimos 40 anos que tenhamos memorizado. Por isso, quando se auto-elogia, amplifica apenas o pouco que tem para mostrar. A vida é o que é. 

Ter tido uma vida memorável não faz um bom ou mau candidato. O grave é não ter um discurso novo, não ser um motor de esperança, não mobilizar o entusiasmo das pessoas e das novas gerações, não ter uma ideia que seja nova, criativa, redentora. Os seus discursos são retóricos, uma homenagem ao parisiense Flore, no boulevard Saint-Germain, onde Sartre, Beauvoir e Camus marcaram o tempo. É curto.

Não me parece que possa ir longe. António Costa sabe-o. Apoiará Nóvoa, mas deixará o grosso do trabalho a Sampaio, Soares e Eanes, se confirmar o apoio. Um conselho de sábios que dará jeito a um PS que irá a jogo sem ir a jogo. É a última das preocupações do líder do PS – se ganhar as legislativas, o resto é secundário; se as perder, pouco lhe importará.