Startups. Só uma ideia genial é pouco para o sucesso

Startups. Só uma ideia genial é pouco para o sucesso


Para desenvolver uma ideia potencialmente inovadora é preciso um plano, uma equipa e talvez um investidor. Mas falta muito mais.


Uma ideia capaz de mudar a vida pode surgir a qualquer momento. Durante uma viagem, numa conversa informal ou até por causa de um problema familiar. E a ideia é o ponto de partida de qualquer candidato a empreendedor. Pô-la em prática é o desafio mais difícil.

E agora? Esta é a questão com que a maioria dos empreendedores tem de se debater. O primeiro rasgo de criatividade até pode ser genial, mas será preciso dar muitos mais passos se o objectivo é alcançar o sucesso. Filipe Castro Matos, co-fundador da OMEUCOPO, uma startup de subscrição de vinhos, conta que “a ideia, sendo o início de tudo, vale apenas 1 por cento. O resto é execução”. Ou seja, trabalho, muito trabalho, capacidade de organização, estratégia e uma boa equipa.

Tiago dos Santos Carlos, responsável pelo marketing da Prodsmart, uma ferramenta de análise e gestão de produtividade industrial, defende que o primeiro passo é encontrar utilizadores/clientes dispostos a usar o produto. No caso de o projecto implicar custos, então será necessário ir à procura de um investidor que fique entusiasmado com a ideia, acrescenta o também fundador da “Ship”, uma publicação que dá a conhecer startups nacionais.

Já para Gonçalo das Neves, co-fundador dos Ninjas Financeiros, uma equipa que está a desenvolver uma aplicação que visa permitir levantar dinheiro recorrendo apenas ao telemóvel, “deve-se percorrer a internet e tentar perceber se já existe algo igual”.

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Se alguém já tiver tido uma ideia parecida, a alternativa é descobrir se se é capaz de melhor: “Procurar vantagens competitivas que possam alavancar o conceito inicial”, esclarece, acrescentando que, além disso, deve-se também “procurar bons exemplos de pitches e de bons planos de negócio para tornar o produto vendível. O passo seguinte será procurar um parceiro, seja um investidor ou uma incubadora.”

Conseguir algo diferente é, então, o ponto fundamental. “Às vezes pode ser uma coisa mínima, mas o suficiente para alguém me pagar mais do que aos outros”, diz Filipe Castro Matos, relevando o facto de que nem tudo o que está dentro da nossa área de actuação é concorrência: “Muitas vezes há oportunidades benéficas para mais do que uma empresa”. Também por essa razão “é importante conhecer os players da mesma indústria”.

Ninguém quer ser uma cópia. Para Tiago dos Santos Carlos, “a competição é uma das formas de validar uma ideia”. Significa que não somos os únicos a pensar que determinado mercado é interessante: “Não é por haver muitas bandas de punk rock que eu vou deixar de querer ter a minha.”

A equipa Mas antes de avançar, é preciso ter uma equipa. Para a StartUp Lisboa, uma incubadora de empresas, trata-se do momento “mais importante e decisivo do processo”. Uma das características de uma startup é “a ambição de criar um negócio altamente escalável com poucos recursos humanos e financeiros”. São equipas pequenas,“com uma média de quatro membros mas, muitas vezes, só com dois fundadores”. É importante que sejam complementares: “Que os fundadores tenham conhecimento e experiência na área de mercado em que pretendem entrar.”

“Habitualmente temos de arranjar um engenheiro, um designer e um comercial” para dar início ao negócio, explica Gonçalo das Neves. “Todos têm de ter espírito criativo e empreendedor e um mínimo de pensamento denegócio”, acrescenta. Já Filipe Castro Matos refere que “é vulgarmente aceite que a equipa ideal numa startup seja multidisciplinar”. Mas nem sempre isto é regra “porque depende daquilo que é core no negócio em causa”. Para os empreendedores, “tudo é uma questão de equilíbrio entre tempo e dinheiro”. O entrosamento entre os membros da equipa é também uma questão a ter em conta: “A relação entre os fundadores de uma empresa é como se fosse a relação de um casal. É preciso ter noção de que se vai passar mais tempo com o colega do que com o marido ou a mulher.”

Também para Tiago dos Santos Carlos, a equipa é o nervo central para dar início ao projecto, e traça um perfil: “Provavelmente vamos querer alguém com a mesma obsessão que nós pelo problema que estamos a tentar resolver e pela forma como o estamos a tentar resolver.”

Dores de crescimento Ter uma boa ideia não é suficiente nem a receita para o sucesso. É isso que demonstram boa parte dos projectos que acabaram por não sair do papel. Para Gonçalo das Neves, “dois terços” dos seus amigos já tiveram ideias de negócio que podiam ter tido êxito, mas que acabam por não se concretizar. O verdadeiro desafio é “assumir que se vai levar o plano em frente e passar da ideia à prática”. E, muitas vezes, as empresas têm dores de crescimento. “O sucesso até pode ser fácil de atingir, o difícil é mantê-lo. E é aí que entra a fase de crescimento de uma empresa”, avisa Filipe Castro Matos. “Esta é também a etapa crucial em que muitas startups morrem, ou porque não têm um negócio interessante ou porque não têm a equipa certa para fazer face aos desafios”, acrescenta.

Tiago dos Santos Carlos chama ainda a atenção para outra questão:“Há projectos que têm muita piada no início, mas que deixam de a ter quando se atingem determinados objectivos. Tornam-se chatos.” Mas explica também que há casos em que acontece exactamente o oposto:“Parecem não ter grande piada inicialmente e tornam-se interessantes pelo caminho.”

Desde o início, há três anos, a StartUp Lisboa já apoiou mais de 200 empresas em desenvolvimento. “O ecossistema empreendedor nacional é recente, mas podemos afirmar que a taxa de mortalidade é baixa, na ordem dos 4%.”
 “Muitos desses empreendedores voltam ou prosseguem com outras ideias de negócio e, normalmente, são mais bem–sucedidos depois de várias tentativas, porque já aprenderam com os erros e ganharam experiência.” Actualmente, são apoiadas cerca de 100 empresas, 60 da área tech e as restantes ligadas ao comércio, turismo e serviços.

O estado de desenvolvimento da startup não é entrave à incubação. A StartUp Lisboa selecciona startups em diferentes estágios: desde uma fase muito inicial, em que não há empresa e se está a preparar o seu minimum viable product, até startups com menos de três anos que já estão no mercado, já receberam investimento e clientes e até já em voos internacionais.

Rentabilidade Quando já se tem a ideia, a equipa e o negócio montado, as atenções voltam-se, na maioria dos casos, para outro desafio: a rentabilidade. Mas este objectivo pode demorar. “Depende muito da área e modelo de negócio. O que vejo acontecer é que as pessoas começam por trabalhar em part-time ou pós-laboral na startup que criaram e só quando ela se torna séria é que deixam o emprego e se dedicam a full-time”, conta Gonçalo das Neves, acrescentando que este “é o primeiro sinal de rentabilidade”. Uma estrutura auto-sustentável pode, em média, demorar entre um e dois anos a conseguir alcançar.

Acima de tudo, criar uma startup significa incerteza. Durante um largo período de tempo “não é, de todo, vantajoso financeiramente e afecta as nossas vidas pessoais”, adverte Filipe Castro Matos. Mas a rentabilidade nem sempre é o objectivo inicial de um negócio: “Há projectos cujo objectivo pode nem passar pela rentabilidade a médio prazo. A característica principal de uma startup é o potencial de crescimento”, conclui Tiago dos Santos Carlos.

Etapas para o sucesso

•  Ter uma ideia
•  Conhecer e avaliar o mercado
•  Avaliar como a ideia se diferencia da concorrência. Se não se diferencia, como fazer melhor?
•  Lançar o produto no mercado
•  Obter a validação do mercado
•  Atrair clientes e/ou utilizadores
•  Receber feedback
•  Ver como se pode melhorar o produto apresentado
•  Expandir a empresa (contratar mais recursos humanos, por exemplo)

http://www.omeucopo.pt/