António Costa mostrou ao que vai


O resultado das eleições dependerá de um combate entre os que colam Costa a Sócrates e o PS ao despesismo 


O primeiro objectivo de António Costa é ser uma verdadeira alternativa. É decisivo que o consiga com ideias diferenciadas do projecto de inspiração liberal liderado por Passos Coelho. Para que não haja qualquer ambiguidade, é vital que assuma uma visão de esquerda, única maneira de, em campo aberto, existir um combate ideológico entre modelos antagónicos.

A possibilidade de o país escolher ideias e caminhos, mais do que pessoas, ou tanto como elas, é uma boa notícia. Até por existir uma corrente muito em voga (Marinho e Pinto, Paulo Morais, Joana Amaral Dias) que tem defendido projectos que não são de esquerda ou de direita, projectos moralizadores contra a corrupção e em defesa dos descontentes que definem a política como um combate entre “nós” e “eles”. Por conveniência de linguagem podemos defini-los como movimentos populistas.

Na apresentação da “agenda para a década”, os economistas escolhidos por António Costa apresentaram um conjunto de ideias genericamente de esquerda. O líder socialista agiu bem. Entre outras vantagens permitiu que os portugueses escolham livremente entre dois modelos de sociedade, entre uma visão do mundo de esquerda e outra de direita. Não é coisa pouca. 

Por um lado temos uma visão que acredita ser o Estado o motor do progresso e da defesa de uma ideia de igualdade. Um projecto que defende a existência de elites não elitistas, que crê numa solidariedade social efectiva que compense a frieza do mercado em relação às pessoas que vão tropeçando na vida. Um modelo que acredita que o investimento público ajudará a criar emprego, a multiplicar o consumo e a aumentar as receitas fiscais. Por outro lado uma visão que acredita pouco num Estado interveniente, que prefere estar ao lado dos que consideram o mercado o motor do progresso e a iniciativa privada definidora de uma escolha natural dos bons, que ascendem, e dos maus, que ficam para trás. Um projecto que acredita muito mais na liberdade individual que na procura da igualdade. Que não desdenha a elitização das elites (porque se convenceu de que o mundo é injusto e pouco pode ser feito em relação a isso), que defende que a solidariedade social deve ser feita preferencialmente por instituições sociais. Que professa que o investimento deve ser estimulado pela força da própria economia e não pelo peso tutelar do Estado. 

De um lado, estará António Costa. Do outro, Passos Coelho. O primeiro deveria ganhar com maioria absoluta as próximas eleições: quatro anos de austeridade castigaram milhares de famílias. Mas o fantasma de Sócrates não o deverá permitir. O resultado das eleições dependerá então de um combate entre os que têm medo da mudança e colam Costa a Sócrates e o PS ao despesismo e os que desejam a mudança ou acreditam que o Estado deve regular a vida em sociedade.  
Uma boa notícia, repito. Teremos política e uma possibilidade de escolha que não contempla a hipótese de qualquer coligação entre PSD e PS. De uma maneira simples, é isto. Quanto ao que cada um fará das suas ideias na prática, isso é outra história.

A isso podemos chamar carácter, uma outra matéria, um outro editorial.  

António Costa mostrou ao que vai


O resultado das eleições dependerá de um combate entre os que colam Costa a Sócrates e o PS ao despesismo 


O primeiro objectivo de António Costa é ser uma verdadeira alternativa. É decisivo que o consiga com ideias diferenciadas do projecto de inspiração liberal liderado por Passos Coelho. Para que não haja qualquer ambiguidade, é vital que assuma uma visão de esquerda, única maneira de, em campo aberto, existir um combate ideológico entre modelos antagónicos.

A possibilidade de o país escolher ideias e caminhos, mais do que pessoas, ou tanto como elas, é uma boa notícia. Até por existir uma corrente muito em voga (Marinho e Pinto, Paulo Morais, Joana Amaral Dias) que tem defendido projectos que não são de esquerda ou de direita, projectos moralizadores contra a corrupção e em defesa dos descontentes que definem a política como um combate entre “nós” e “eles”. Por conveniência de linguagem podemos defini-los como movimentos populistas.

Na apresentação da “agenda para a década”, os economistas escolhidos por António Costa apresentaram um conjunto de ideias genericamente de esquerda. O líder socialista agiu bem. Entre outras vantagens permitiu que os portugueses escolham livremente entre dois modelos de sociedade, entre uma visão do mundo de esquerda e outra de direita. Não é coisa pouca. 

Por um lado temos uma visão que acredita ser o Estado o motor do progresso e da defesa de uma ideia de igualdade. Um projecto que defende a existência de elites não elitistas, que crê numa solidariedade social efectiva que compense a frieza do mercado em relação às pessoas que vão tropeçando na vida. Um modelo que acredita que o investimento público ajudará a criar emprego, a multiplicar o consumo e a aumentar as receitas fiscais. Por outro lado uma visão que acredita pouco num Estado interveniente, que prefere estar ao lado dos que consideram o mercado o motor do progresso e a iniciativa privada definidora de uma escolha natural dos bons, que ascendem, e dos maus, que ficam para trás. Um projecto que acredita muito mais na liberdade individual que na procura da igualdade. Que não desdenha a elitização das elites (porque se convenceu de que o mundo é injusto e pouco pode ser feito em relação a isso), que defende que a solidariedade social deve ser feita preferencialmente por instituições sociais. Que professa que o investimento deve ser estimulado pela força da própria economia e não pelo peso tutelar do Estado. 

De um lado, estará António Costa. Do outro, Passos Coelho. O primeiro deveria ganhar com maioria absoluta as próximas eleições: quatro anos de austeridade castigaram milhares de famílias. Mas o fantasma de Sócrates não o deverá permitir. O resultado das eleições dependerá então de um combate entre os que têm medo da mudança e colam Costa a Sócrates e o PS ao despesismo e os que desejam a mudança ou acreditam que o Estado deve regular a vida em sociedade.  
Uma boa notícia, repito. Teremos política e uma possibilidade de escolha que não contempla a hipótese de qualquer coligação entre PSD e PS. De uma maneira simples, é isto. Quanto ao que cada um fará das suas ideias na prática, isso é outra história.

A isso podemos chamar carácter, uma outra matéria, um outro editorial.