A embaixada do Equador em Lisboa vai ser encerrada no início de abril após as autoridades portuguesas terem prescindido de instalar uma representação diplomática em Quito num edifício cedido a preço simbólico, disse hoje à Lusa fonte diplomática equatoriana.
Em agosto o Presidente equatoriano, Rafael Correa, anunciou o encerramento de nove embaixadas do país, incluindo em Portugal, Holanda e Bélgica, ao invocar “motivos administrativos e financeiros” no âmbito de uma reestruturação da rede diplomática, mas a principal razão deveu-se à “não existência de representações” desses países em Quito, referiu a mesma fonte.
“Entendemos os problemas orçamentais de Portugal que condicionavam a existência de uma representação em Quito, e face a essa dificuldade o presidente da câmara da capital disponibilizou a preço muito simbólico um edifício onde pudesse funcionar a representação de Portugal. Portugal agradeceu, mas não foi suficiente…”, adiantou.
Em resposta, fonte oficial do ministério dos Negócios Estrangeiros português confirmou à Lusa que a diplomacia portuguesa equaciona a possibilidade de uma presença em Quito, mas num sistema de co-localização, “à semelhança do modelo que atualmente existe no Panamá e em Astana”.
A mesma fonte confirmou que as autoridades equatorianas informaram da decisão de encerrar “temporariamente” a sua missão em Lisboa e da intenção de designar “um embaixador não-residente para Portugal”, referindo que foi justificada pela necessidade de aplicar medidas de austeridade financeira na gestão dos serviços externos e de outras áreas de ação do Estado”, mas sem prejudicar “o bom relacionamento bilateral entre os dois países”.
O Equador mantém um consulado honorário no Porto, mas a representação diplomática em Lisboa vai deixar de existir dentro de duas semanas e ainda não foi decidido a partir de que capital passará a funcionar, admitindo-se como principais hipóteses as embaixadas do Equador em Londres ou em Paris.
De acordo com o responsável diplomático de Quito, a decisão em instalar uma embaixada em Lisboa, há dois anos, obedeceu a diversos critérios, incluindo a maior proximidade geográfica de Portugal com o continente americano, as características do país e a possibilidade de se tornar numa “plataforma” para a projeção de diversos interesses económicos do país sul-americano no continente europeu.
“Até há pouco tempo, até janeiro deste ano, a sede da representação regional para assuntos comerciais do Equador na Europa estava em Lisboa, funcionava na embaixada. Este gabinete coordenava todos os gabinetes comerciais do Equador no continente europeu”, precisou o responsável diplomático.
Uma decisão, segundo referiu, “também para contrariar a dinâmica dos maiores países como a França, Espanha ou Itália, e tentar projetar desde Portugal a entrada do Equador na Europa”. No entanto, a representação foi extinta quando foi decidido o encerramento da embaixada.
Apesar de considerar que as decisões anunciadas em Lisboa e Quito “não devem afetar as relações entre os dois países e devem ser respeitadas”, o mesmo responsável reconhece que não existe um forte relacionamento entre os dois países a nível comercial, diplomático ou de cooperação, quando números oficiais indicam que a comunidade equatoriana em Portugal não ultrapassa as 350 pessoas.
“São dois países que se mantiveram distantes”, lamentou. “Mas nos dois últimos anos o comércio entre o Equador e Portugal teve um crescimento exponencial. Os números são pequenos, 30 milhões de euros, mas as exportações de Portugal para o Equador subiram nesse período 140% e as do Equador para Portugal 40%”, sublinhou.
Neste contexto, referiu-se a um aumento do interesse das empresas portuguesas pelo Equador, em particular nas áreas das infraestruturas e construção “no país que dedica a maior percentagem do PIB a este setor em toda a América Latina”.
“A maior dificuldade que tivemos foi o desconhecimento do Equador em Portugal”, reconheceu. “As relações entre os países baseiam-se na confiança e as embaixadas funcionam para criar esse clima, dar a conhecer o país, servir de ponte entre as empresas dos dois países, entre as entidades estatais equatorianas e portuguesas”.
“Queremos preservar as melhores relações com Portugal, em que se prolonguem no futuro os laços de amizade e cooperação com Portugal e para que se possa avançar no estabelecimento de embaixadas”, concluiu o responsável diplomático equatoriano.
A fonte oficial do MNE português também defendeu a intensificação das relações bilaterais com o Equador, que “tem vindo a ganhar, nos últimos anos, uma maior expressão” e sublinhou o “reforço das relações económicas e comerciais” no âmbito da “estratégia de diversificação do relacionamento de Portugal com a América Latina”.
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico aplicado pela Agência Lusa