Gavrilo Princip. O homem que deu os primeiros tiros da Grande Guerra


O jornalista Tim Butcher partiu para os Balcãs para perceber melhor o homem Gavrilo Princip. Isabel Pedrome também gosta de anarquistas e aproveitou para conhecer este em particular \r\nEntre 1 de Janeiro de 1913 e 1 de Junho de 1914, Conrad von Hötzendorf, o chefe do estado-maior do Império Austro-Húngaro, aconselhou 26 vezes o seu governo…


O jornalista Tim Butcher partiu para os Balcãs para perceber melhor o homem Gavrilo Princip. Isabel Pedrome também gosta de anarquistas e aproveitou para conhecer este em particular 

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Entre 1 de Janeiro de 1913 e 1 de Junho de 1914, Conrad von Hötzendorf, o chefe do estado-maior do Império Austro-Húngaro, aconselhou 26 vezes o seu governo a declarar guerra à Sérvia – quem o diz é Max Hastings, autor de uma história recente da Primeira Guerra Mundial. Vem isto a propósito de “O Gatilho”, um livro de Tim Butcher acerca de Gavrilo Princip, o jovem que matou o arquiduque Francisco Fernando, o pretexto com que a Áustria-Hungria invadiu finalmente a Sérvia, desencadeando com isso uma guerra à escala global.

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“O Gatilho” é o terceiro livro que Tim Butcher escreve no molde que criou para “Rio de Sangue” e “À Caça do Diabo”. Os seus livros-reportagem partem de viagens por terreno minado, neste caso literalmente, para completar com uma perspectiva humana histórias palpitantes mal conhecidas. Há dez anos, quando cobria a guerra em Sarajevo para o “Daily Telegraph”, Butcher descobriu no meio da cidade o túmulo de Gavrilo Princip, um pequeno mausoléu transformado em latrina pública. Os sinais contraditórios de uma certa reverência à mistura com o insulto ou o esquecimento pareceram-lhe prometer uma boa história. Com o centenário da guerra a aproximar-se, decidiu refazer o percurso de Gavrilo desde que este partiu da sua aldeia miserável na Bósnia até que morreu de tuberculose, em 1918, em Teresienstadt, perto de Praga, depois de ter passado por Sarajevo para espoletar uma guerra mundial.

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Transformar a discussão das pistas, muito limitadas, num livro de viagens é uma ideia da China. Tim Butcher fez-se ao caminho com meia dúzia de documentos da investigação policial que se seguiu ao assassínio, mas produziu um livro vivo, cheio de imprevistos, e acabou por descobrir fontes que até agora não eram tidas em consideração.

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Um dos pontos altos do périplo foi o encontro com vários familiares de Gavrilo, dois dos quais conheceram bem os seus pais. Entretanto já foram entrevistados em vários canais de televisão e o assunto tornou-se banal, mas o que é surpreendente é esta história com interesse jornalístico tão evidente ter estado ali, à disposição do primeiro que teve a ideia, na aldeia de origem da família. Do mesmo modo, os boletins escolares originais do jovem sérvio que, por sorte, não foi daqueles alunos que iam passando a tudo com 10, continuavam onde seria de esperar, nos Arquivos da Cidade de Sarajevo.

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Ninguém com vestígios de sensatez atribui a um adolescente com ideais revolucionários a responsabilidade pelo cataclismo de 1914, nem sequer a Von Hötzendorf, na apreciação de Churchill, um ser profundamente estúpido e intensamente enérgico numa posição de poder. Ainda assim, o perfil de Princip é uma boa contribuição para a bibliografia do centenário. Além disso, depois de estes novos elementos serem recuperados pela historiografia, “O Gatilho” vai de certeza manter-se um documento interessante sobre os Balcãs posteriores à guerra da Bósnia. Se não, a explicação de como bastou um pouco de irreverência para desencantar materiais novos num assunto tão estudado já vale o nosso tempo.