O The Artist abriu em Abril na antiga escola de artes do Porto onde em tempos funcionou uma fábrica de chapéus. Da escola ficaram as obras dos antigos alunos nas paredes. Clara Silva experimentou, Ricardo Castelo fotografou
\r\nAlfeu Perdigão: média final de 13 valores a Noções de História de Arte e 12 valores a Desenho de Figura, com um total de 7 faltas. Carmindo Jesus: 13 a Noções de História de Arte, 11 a Desenho de Figura, com 5 faltas no total. As pautas finais do curso de desenhador, gravador e litógrafo da Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis estão afixadas no hall de entrada do The Artist, mas ninguém parece reparar nelas. São do ano de 1962-63 e os turistas estão mais interessados em passear as malas até ao interior dos quartos do hotel, que funciona no espaço da antiga escola de artes do Porto.
\r\n“Há muita gente que ainda se refere ao hotel como ‘a Soares’”, conta Joana Fernandes, de 26 anos, a fazer um estágio no bar do hotel, o Bartist. “Costumam dizer, ‘Temos de ir ao bar da Soares’, e ainda têm recordações da escola.” As recordações ficam mais vivas para os antigos alunos que se aventuram pelos corredores do hotel inaugurado em Abril, com as paredes repletas de trabalhos de há mais de 50 anos que por ali se multiplicaram desde que a escola foi inaugurada, em 1927.
\r\n“Mantivemos o espólio da escola e muitas das coisas de decoração que temos aqui são de ex-alunos”, confirma Teresa Martins, directora do The Artist. “São 1500 obras de arte espalhadas por todo o hotel, desde fotografia, pintura, escultura, olaria e artes gráficas, as vertentes da escola nessa altura.”
\r\nCHAPÉUS NÃO HÁ MUITOS Antes de ser uma escola, no espaço do número 49 da Rua da Firmeza, a poucos minutos a pé da Rua de Santa Catarina, funcionava a entretanto desaparecida fábrica de chapéus Real e Imperial Chapelaria a Vapor. Agora, chapéus não há muitos – só os dos hóspedes que por lá têm passado, “quase todos turistas de visita à cidade”, diz Teresa. “E alguns que já voltaram.”
Nestes meses de arranque, e com a eleição do Porto como o melhor destino europeu de 2014, nem sempre é fácil arranjar quarto, mas também não é difícil a taxa de ocupação ser elevada: o hotel tem apenas 16 quartos e uma suíte, o que o transforma num sítio familiar e acolhedor. Mais ainda porque o staff é reduzido e é, na maioria, constituído por alunos da Escola de Hotelaria e Turismo do Porto, ali mesmo ao lado.
\r\n“Temos seis pessoas de uma equipa fixa e mais de 20 são alunos da escola, num estágio rotativo de 15 dias”, explica Teresa. Quer isto dizer que, durante duas semanas, uma turma inteira (apanhámos a turma de Cozinha) ocupa as diferentes funções do hotel – quer estejam ou não relacionadas com a sua área – e faz de tudo para recebê-lo bem.
MAIS FELIZ NA COZINHA “Era muito mais feliz na cozinha”, desabafa Joana Fernandes, a estudar Cozinha, mas a fazer o estágio no bar e na esplanada, onde vai servindo um ou outro café à espera de dias mais movimentados – com o bom tempo, a esplanada costuma encher, e no Verão está previsto um arraial de São João e também a exibição de vários jogos do Mundial.
Joana é enfermeira em Braga, mas percebeu que não era a profissão que queria seguir. “Cozinha é mesmo aquilo que quero fazer, é o que me apaixona. Gosto de ser enfermeira, mas não é o suficiente para me concretizar, até porque, para trabalhar, preciso de ter evolução.”
Durante o estágio no The Artist ainda vai ter a oportunidade de, pelo menos durante um dia, trabalhar na cozinha. Mais sorte teve David Couto, de 22 anos, a trabalhar com o chefe Rui Rodrigues, que veio do Hotel Porto Palácio, também da Sonae Turismo. “Estou a gostar bastante da experiência”, diz, um pouco nervoso – mais tarde, há-de confessar que suou mais durante a entrevista do que durante o trabalho. “O chefe dá-nos liberdade para criar os nossos pratos e ando a estudar alguns.”
\r\nUMA INCÓGNITA Talvez por isso, o menu do jantar no Bistrô do The Artist – menos direccionado para os hóspedes do hotel e mais para quem procura jantar bem pela cidade antes da “movida” – seja sempre uma incógnita.
Uma rapariga faz-nos um pequeno questionário para saber se somos alérgicos a alguma coisa e se preferimos carne ou peixe como prato principal, e a partir daí estamos nas mãos do chefe – e dos alunos.
\r\nMas não vale a pena temer, está tudo bem estudado e a lição na ponta da língua. O menu de degustação envolve “momentos”, que podem ser cinco, sete ou nove, a preços que começam nos 20 e acabam nos 30 euros (as bebidas não estão incluídas).
\r\nOs momentos são entradas que vão chegando aos poucos – por isso, não tenha mesmo pressa, porque é coisa para demorar – e incluem pratos como creme de legumes com hortelã, chamuças com compota de maçã, atum braseado com sementes de sésamo e molho de malagueta ou magret de pato com molho de laranja e amêndoa.
\r\nNão se admire também se à pessoa que estiver à sua frente servirem pratos diferentes – o chefe gosta de variar e de provocar inveja do prato que não lhe calhou.
Ao almoço há um menu económico a 10 euros (com sopa, prato principal, bebida e café) para atrair quem trabalha nas redondezas. Por exemplo, sopa da horta, sonhos de cherne com arroz de míscaros ou coxa de frango com citrinos, macarrão de legumes e gelado de nata com frutos vermelhos.
\r\nNota final: ao contrário de Alfeu Perdigão e Carmindo Jesus, do início do texto, o hotel passa com distinção.
\r\nThe Artist Porto Hotel & Bistrô, Rua da Firmeza, 49, Porto. Preço médio: 75 euros Aberto todos os dias. Tel.: 22 013 2700 O restaurante funciona de segunda a sexta das 12h30 às 14h30 e das 19h30 às 22h30