Grécia. Perdemos todos (e a democracia também)
A derrota de Tsipras é a derrota de qualquer tentativa de corte com a austeridade.
A derrota de Alexis Tsipras, que não conseguiu convencer a Europa da bondade de uma agenda antiausteridade, está longe de ser apenas a derrota do Syriza e da Grécia. Tsipras, eleito com um mandato para manter a Grécia no euro, provou que qualquer tentativa de conseguir uma alternativa de esquerda para um país está condenada ao fracasso ou à saída da zona euro.
A derrota de Tsipras é a derrota de qualquer tentativa de corte com a austeridade. Dentro da Europa não há matizes: infelizmente existe uma agenda única, a dos “compromissos europeus”, que podem ser mais ou menos bem desenvolvidos conforme as personagens envolvidas. Acabaram agora as ilusões: não há política sem austeridade na zona euro. A Europa ilegalizou a social--democracia quando aprovou o famoso “défice zero” do Tratado Orçamental, como na altura vários economistas notaram.
Alexis Tsipras disse ontem que não cedia mais porque estava em causa a democracia, o programa com o qual foi eleito – e não queria deixar morrer a democracia no lugar onde ela nasceu, a Grécia. Mas os acontecimentos na Grécia provam que a democracia tal como a conhecemos deixou de existir na prática, fruto da confluência de várias democracias sobrepostas. Ou seja, os eleitores da Alemanha, da Finlândia e de muitos outros países não permitem uma agenda contra a austeridade.
Os países mais frágeis, como a Grécia (e o nosso), têm duas alternativas: ou se submetem, fazendo das eleições legislativas nacionais uma escolha entre a opção A e a opção A+, ou saem do euro. A maioria do eleitorado grego não queria sair do euro e foi por isso que Alexis Tsipras sempre recusou apresentar a hipótese aos eleitores – mas ficou provado que a Europa não mudou e dificilmente irá mudar depois de tantos esgazeados de contentamento com a derrota grega.
O problema desta história é que, como dizia Draghi, navegamos para “águas desconhecidas”. Imaginar que Portugal sai disto ileso não passa pela cabeça de nenhum economista.