O martírio do político preso é uma ameaça ao PS
Por estes dias, tudo deveria estar a correr pelo melhor para António Costa. Após quatro anos de sacrifícios insuportáveis, a alternativa do PS deveria estar em ascensão. A equação parecia simples: afastado António José Seguro, o impopular, a chegada de Costa, o carismático e “de esquerda”, transformaria o PS numa máquina de produzir eleitores. Houve, entretanto, grãos na engrenagem. António Costa demorou a ganhar balanço e as políticas europeias dão pouca margem a grandes alternativas.
Mas o pior que está a acontecer a António Costa é o processo José Sócrates. O secretário-geral do PS bem se esforça por distanciar o partido do caso judicial do ex-primeiro--ministro. Ontem, na TSF, repetiu a “linha” de que não se afasta “um milímetro”. “Esse é um caso que está entregue à justiça, em que a acusação fará a investigação e em que a defesa apresentará a sua versão da história e se defenderá”, disse o secretário-geral do PS, afirmando que “não compete ao PS substituir-se nem à acusação nem à defesa, e muito menos à função do juiz”. António Costa chegou mesmo a falar na urgência de “despoluir” o debate político do caso Sócrates: “Temos de, de uma vez por todas, despoluir o debate político desta tentativa de transferir para o debate público o julgamento, que deve ser feito nos locais próprios.”
Infelizmente para António Costa, Sócrates considera-se um preso político e tudo fará para “poluir” o debate eleitoral. Ao tornar-se o primeiro detido português que recusa a pulseira electrónica, que entrou em vigor durante o mandato de António Costa como ministro da Justiça, por ser “instrumento de suavização, destinado a corrigir erros de forma a parecer que nunca se cometeram”, e invocando o seu “sacrifício pessoal” e “sacrifício para família e amigos”, Sócrates tenta atingir o estatuto de mártir. Ele não é um preso político, mas é um político preso. A martirização de Sócrates é a pior coisa que pode acontecer ao PS e é impossível prever os danos políticos.