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Assunção Esteves compara manifestantes com "carrascos"

Assunção Esteves compara manifestantes com "carrascos"

11/07/2013 00:00
Dezenas de pessoas pediram a demissão do governo no parlamento. Próxima conferência de líderes vai debater acesso às galerias

"Não podemos deixar que os nossos carrascos nos dêem maus costumes", foi a frase de Simone de Beauvoir adaptada ontem por Assunção Esteves para prosseguir a sessão plenária após dezenas de pessoas terem sido retiradas das galerias do parlamento - gritando "demissão" e "25 de Abril sempre, fascismo nunca mais". A frase valeu à presidente da Assembleia da República contestação alargada nas redes sociais e que a própria já veio desvalorizar dizendo que se referia a "qualquer elemento de perturbação".

A comparação feita por Assunção Esteves levantou críticas imediatas. A expressão de Simone de Beauvoir, ontem citada pela líder dos deputados, foi escrita no pós-Segunda Guerra Mundial. Para a filósofa francesa, os "carrascos" que criaram maus hábitos no seu país foram os nazis, durante o período da ocupação, tal como escreveu no seu ensaio "Olho por olho".

Não foi esta a primeira vez que a presidente utilizou a expressão. Já numa anterior intervenção, enquanto eurodeputada, as mesmas palavras de Beauvoir serviram para ilustrar a situação na prisão de Guantánamo.

"Dezenas de pessoas protestam violentamente nas arcadas da AR. É das regras evacuar as mesmas. Mas a presidente da AR não pode chamar "os nossos carrascos" ao povo desesperado, dizendo que a AR não pode ter "medo"", escreveu a deputada Isabel Moreira na sua página de Facebook, juntando-se à onda de protestos que rapidamente alastrou nas redes sociais, não só com comentários, mas também com fotografias e citações da presidente.

Assunção Esteves explicou, após o plenário, que utilizou a expressão "sem querer ofender nada nem ninguém". "Significa que quando as pessoas nos perturbam não devemos dar atenção", esclareceu a presidente.

Restrição nas galerias Após a expulsão das dezenas de manifestantes que, além de gritar, largaram papéis e balões para cima dos deputados, a presidente da Assembleia da República condenou "a sucessão de acontecimentos" que têm tido lugar nas galerias de acesso público e disse que os deputados não foram eleitos para "ter medo, para ser coagidos" ou para não serem "respeitados". Sendo as galerias de acesso livre, servindo muitas vezes para acomodar visitas de estudo, peticionários ou convidados da Assembleia da República, Assunção Esteves disse ontem que "as regras de acesso às galerias" deveriam ser reconsideradas.

Não é a primeira vez que a limitação de acesso às galerias é referida no parlamento desde que os protestos populares se alargaram à Assembleia. Depois das "grandoladas" e manifestações individuais ou colectivas dos últimos meses, a Conferência de Líderes - que reúne os presidentes de todas as bancadas partidárias e a líder da Assembleia - já abordou a questão, embora não se tenha chegado a uma medida efectiva.

O BE e o PCP - que ontem, ao contrário dos restantes partidos, não aplaudiram a intervenção de Assunção Esteves - só tomarão uma posição formal na próxima conferência de líderes, marcada para quarta- -feira.

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