
O novo filme de Margarida Cardoso, "Yvone Kane", que tem estreia mundial agendada para segunda-feira, em Lisboa, evoca a história de uma ativista e apresenta personagens como fantasmas sem território em permanente busca de um lugar.
Em declarações à agência Lusa, Margarida Cardoso recordou que o projeto vem de 2009 e foi subsidiado nesse ano pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), tendo conseguido depois uma coprodução com o Brasil.
Nesta ficção, Yvone Kane, uma ex-guerrilheira e ativista política morta em circunstâncias estranhas, é o pretexto para uma viagem de Rita (Beatriz Batarda) a um país africano sem nome, com marcas da guerra, onde reencontra a mãe, Sara (Irene Ravache), uma médica branca, antiga “revolucionária”, que vive ali há muitos anos.
A ação acontece em Portugal e em Moçambique, mas Margarida Cardoso prefere não dar um nome aos países onde decorre "Yvone Kane".
"Foi rodado em Portugal, mas quase todo em Moçambique. Mas na realidade o país onde se passa não tem nome, é imaginário, mas que se consegue perceber e identificar que teve uma história recente semelhante: uma guerra de libertação, uma independência, uma revolução socialista e agora uma atitude mais liberal economicamente", disse a realizadora.
Por não ter nome, "torna-se mais metafórico em relação a uma série de acontecimentos, como a perda de relação ideológica com África, que é um bocadinho isso de que o filme trata. Pessoas que se empenharam muito numa luta ideológica e na defesa de uma ideia para um país novo e livre e que hoje são uma espécie de fantasmas nestes países".
A realizadora afirma que o filme mostra esses personagens como fantasmas que estão sempre em busca de algo, uma pertença, e vão encontrando ruínas do passado.
"Sou sempre muito ligada aos espaços e aos lugares. A expressão de uma memória de um império, hoje decadente, é o que me move mais. Gosto muito de ruínas e das marcas do tempo nos edifícios, nas ruas. Eu noto que hoje as coisas vão desaparecendo com uma rapidez terrível, e foi também essa vontade de captar estas coisas enquanto existem e tentar transformar isso nesta história de procura", salientou.
Outro ponto importante do filme é a relação entre Rita e Sara: "Essencialmente o filme é a história de uma mãe e de uma filha. Política e memória e História estão por detrás dessa história" disse a realizadora de "A Costa dos Murmúrios", também passado em Moçambique, onde viveu parte da infância.
Além de Beatriz Batarda e Irene Ravache, o filme conta com os atores Gonçalo Waddington, Mina Andala, Samuel Malumbe, Herman Jeusse, Iva Mugalela, Maria Helena, Mário Mabjaia, Francilia Jonaze, Adriano Luz, Anne Kristine, Rosa Vasco e João Manja.
Com escrita e realização de Margarida Cardoso, a longa-metragem tem direção de fotografia de João Ribeiro, montagem de João Braz e direção de produção de João Ribeiro.
Esta produção da Filmes do Tejo II tem como ainda coprodução de MPC & Associados e apoio de Ancine (Brasil), RTP - Radio e Televisão de Portugal e da Fundação Calouste Gulbenkian/Próximo Futuro.
"Yvone Kane" tem estreia mundial marcada para segunda-feira, às 22:00, no anfiteatro ao ar livre da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no âmbito do Programa Próximo Futuro, e deverá estrear-se nas salas de cinema do país em outubro deste ano.
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico aplicado pela agência Lusa