Montenegro e os desenfreados


Precisamos de mais foco na construção das respostas por dar aos portugueses, algo incompatível com a política de circunstância ou os meros afagos dos egos.


Os portugueses fazem pela vida. As empresas fazem pela vida. O primeiro-ministro e os seus desenfreados ajudantes fazem pela vida, sem olhar a meios e às circunstâncias, perante a tolerância soporífera com posicionamentos não enquadráveis no que é possível em gestão, a “prática dos atos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos”. O povo diria que estão desembestados, mas podemos ficar pela constatação de um desenfreado pulsar de decisão e de ação, com a correspondente quarta parte de disparate. O desenfreio governativo está imparável, mas revela um Luís Montenegro altivo e proto-arrogante no debate e no exercício político, que contrasta com o posicionamento frouxo e relaxado nas respostas às dúvidas sobre as zonas cinzentas das suas atividades profissionais. O conforto do arquivamento eleitoral das suspeitas da governação do PSD na Madeira parece enfunar um quadro de navegação similar ao que, no passado com Pedro Passos Coelho e Paulo Portas no governo, levou à privatização da TAP entre a dissolução da Assembleia da República e a pronúncia eleitoral dos portugueses. Este num inaceitável “vale tudo”, que intensifica práticas inaceitáveis do passado de governos em gestão.

Ele há ministros em inaugurações de obras, em apresentação de planos, em lançamento de grandes ideias e em impulsos que poderão não sair dos papéis dos guiões dos eventos de propaganda governativa pagos com o dinheiro dos contribuintes.

Ele há ministros na pele de ministros a responder a intervenções políticas no quadro partidário, que deveriam ter respostas pelo PSD ou pelo CDS, cada vez mais no papel que o PEV tinha para o PCP.

Ele há pesporrência do líder do PSD em não querer participar em todos os debates eleitorais, porque já fez muitos debates parlamentares com todos, como se as diversas dimensões e fases da democracia tivessem um cartão de pontos em que Montenegro já teria 18 pontos, remetendo para alguns desses debates, ditos menores, o desprovido de pontos no cartão Nuno Melo, líder do CDS.

Ele há o esforço de afirmação político-eleitoral do governo em gestão que é visível e as ações discretas, sub-reptícias, porventura, mais eficazes, pelo que induzem de mobilização das designadas forças vivas para o voto em determinado sentido como acontece com o agigantar do Banco Português de Fomento. Para os mais distraídos, o Banco de Fomento, há anos numa letargia similar à de tantas outras instituições, veja-se a demora da ativação da Entidade para a Transparência ou do Mecanismo Nacional Anticorrupção, entrou numa deriva de proatividade em período pré-eleitoral. Uma semana depois do chumbo da moção de confiança, o Banco de Fomento emitiu 24 mil milhões em garantias pré-aprovadas correspondentes a 125 mil garantias para as pequenas e médias empresas e para as que têm projetos do Portugal 2030, do PRR e do PEPAC, algo equivalente a 10% do PIB. Naturalmente, vislumbra-se o impacto positivo deste impulso na aprovação de projetos, nas tesourarias das empresas e na mobilização eleitoral em modo Nelly Furtado, “como uma força que ninguém pode parar”.

O governo está em campanha como se não houvesse amanhã, ultrapassando linhas vermelhas de bom senso, desesperado para configurar as vontades eleitorais dos portugueses, num rumo em que os fins justificam todos os meios, do governo a instituições como a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que na semana que passou usou as redes sociais para promover a candidatura de Luís Marques Mendes na Futurália, ignorando as restantes visitas políticas ao certame. Não é nada de novo, mas surpreende num contexto em que o escrutínio, a ética e a exigência pareciam ser parte da equação da avaliação do exercício político. A não ser assim, é normal que o relaxo permita a inclusão nas listas de deputados de quem foi demitido do governo por inaceitáveis imprudências ético-legais ou a falta de filtro na elaboração das listas de candidatos a deputados e na posterior configuração do novo governo.

A democracia precisa de mais exigência, no poder e na oposição, em quem está no exercício e em quem é alternativa, algo que não se vislumbra nas ações desesperadas do governo nem no esforço de consolidação de uma alternativa através de uns débeis Estados Gerais. Precisamos de mais foco na construção das respostas por dar aos portugueses, algo incompatível com a política de circunstância ou os meros afagos dos egos.

NOTAS FINAIS

BE RESGATA QUADRO DE HONRA. A insuficiência da liderança política e do posicionamento eleitoral do Bloco de Esquerda, entre resmas de originais e fotocópias, fez a coordenadora Mortágua resgatar do Quadro de Honra ativos de outros tempos para tentar estancar a perda e a deriva de insignificância. Não fosse o inacreditável argumento de Louçã de que regressa porque “há um fascista na Casa Branca” e o exercício era pouco mais do que desespero político. Assim, é só ridículo. Trump foi Presidente dos Estados Unidos pela primeira vez de 2016 a 2021 e Louçã não veio em nossa defesa!

MOEDAS, O ESTROINA DOS JACARANDÁS. O valor facial é tramado. Porque pode ser desmentido pelo valor real e Carlos Moedas insiste em querer divergir da imagem que procura construir para continuar a aventura autárquica ou sabe-se lá. É difícil de contabilizar a invocação do passado, quase 4 anos depois da sua eleição, para justificar tudo e mais alguma coisa quando o quadro não é de glamour e afirmação. Se vem de trás e é mau, corrija-se. Se é da sua gestão política, o lixo, a degradação do espaço público, os buracos nas ruas e as intervenções sem respeito pelas pessoas, há sempre alguém que expia a culpa ou a responsabilidade. Óh Homem, faça, corrija, altere, deixe-se de ser estroina, agora dos jacarandás, tão belos quando floridos, dando alma a Lisboa.

ABUSO DA CIRCUNSTÂNCIA DE DOMINANTE. A circunstância não deveria ser sinónimo de abuso, mas é com demasiada frequência. Já não bastavam as diatribes de Trump, dentro e fora dos Estados Unidos, com espirais autocráticas em barda, agora, num momento em que a Europa e o mundo precisam da Turquia como ativo no atual quadro internacional, Erdogan faz-se valer dessa mais-valia estratégica para fazer o que bem entende com a oposição, porque haverá pudor em criticá-lo neste contexto. É um abuso em função da circunstância.

Montenegro e os desenfreados


Precisamos de mais foco na construção das respostas por dar aos portugueses, algo incompatível com a política de circunstância ou os meros afagos dos egos.


Os portugueses fazem pela vida. As empresas fazem pela vida. O primeiro-ministro e os seus desenfreados ajudantes fazem pela vida, sem olhar a meios e às circunstâncias, perante a tolerância soporífera com posicionamentos não enquadráveis no que é possível em gestão, a “prática dos atos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos”. O povo diria que estão desembestados, mas podemos ficar pela constatação de um desenfreado pulsar de decisão e de ação, com a correspondente quarta parte de disparate. O desenfreio governativo está imparável, mas revela um Luís Montenegro altivo e proto-arrogante no debate e no exercício político, que contrasta com o posicionamento frouxo e relaxado nas respostas às dúvidas sobre as zonas cinzentas das suas atividades profissionais. O conforto do arquivamento eleitoral das suspeitas da governação do PSD na Madeira parece enfunar um quadro de navegação similar ao que, no passado com Pedro Passos Coelho e Paulo Portas no governo, levou à privatização da TAP entre a dissolução da Assembleia da República e a pronúncia eleitoral dos portugueses. Este num inaceitável “vale tudo”, que intensifica práticas inaceitáveis do passado de governos em gestão.

Ele há ministros em inaugurações de obras, em apresentação de planos, em lançamento de grandes ideias e em impulsos que poderão não sair dos papéis dos guiões dos eventos de propaganda governativa pagos com o dinheiro dos contribuintes.

Ele há ministros na pele de ministros a responder a intervenções políticas no quadro partidário, que deveriam ter respostas pelo PSD ou pelo CDS, cada vez mais no papel que o PEV tinha para o PCP.

Ele há pesporrência do líder do PSD em não querer participar em todos os debates eleitorais, porque já fez muitos debates parlamentares com todos, como se as diversas dimensões e fases da democracia tivessem um cartão de pontos em que Montenegro já teria 18 pontos, remetendo para alguns desses debates, ditos menores, o desprovido de pontos no cartão Nuno Melo, líder do CDS.

Ele há o esforço de afirmação político-eleitoral do governo em gestão que é visível e as ações discretas, sub-reptícias, porventura, mais eficazes, pelo que induzem de mobilização das designadas forças vivas para o voto em determinado sentido como acontece com o agigantar do Banco Português de Fomento. Para os mais distraídos, o Banco de Fomento, há anos numa letargia similar à de tantas outras instituições, veja-se a demora da ativação da Entidade para a Transparência ou do Mecanismo Nacional Anticorrupção, entrou numa deriva de proatividade em período pré-eleitoral. Uma semana depois do chumbo da moção de confiança, o Banco de Fomento emitiu 24 mil milhões em garantias pré-aprovadas correspondentes a 125 mil garantias para as pequenas e médias empresas e para as que têm projetos do Portugal 2030, do PRR e do PEPAC, algo equivalente a 10% do PIB. Naturalmente, vislumbra-se o impacto positivo deste impulso na aprovação de projetos, nas tesourarias das empresas e na mobilização eleitoral em modo Nelly Furtado, “como uma força que ninguém pode parar”.

O governo está em campanha como se não houvesse amanhã, ultrapassando linhas vermelhas de bom senso, desesperado para configurar as vontades eleitorais dos portugueses, num rumo em que os fins justificam todos os meios, do governo a instituições como a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que na semana que passou usou as redes sociais para promover a candidatura de Luís Marques Mendes na Futurália, ignorando as restantes visitas políticas ao certame. Não é nada de novo, mas surpreende num contexto em que o escrutínio, a ética e a exigência pareciam ser parte da equação da avaliação do exercício político. A não ser assim, é normal que o relaxo permita a inclusão nas listas de deputados de quem foi demitido do governo por inaceitáveis imprudências ético-legais ou a falta de filtro na elaboração das listas de candidatos a deputados e na posterior configuração do novo governo.

A democracia precisa de mais exigência, no poder e na oposição, em quem está no exercício e em quem é alternativa, algo que não se vislumbra nas ações desesperadas do governo nem no esforço de consolidação de uma alternativa através de uns débeis Estados Gerais. Precisamos de mais foco na construção das respostas por dar aos portugueses, algo incompatível com a política de circunstância ou os meros afagos dos egos.

NOTAS FINAIS

BE RESGATA QUADRO DE HONRA. A insuficiência da liderança política e do posicionamento eleitoral do Bloco de Esquerda, entre resmas de originais e fotocópias, fez a coordenadora Mortágua resgatar do Quadro de Honra ativos de outros tempos para tentar estancar a perda e a deriva de insignificância. Não fosse o inacreditável argumento de Louçã de que regressa porque “há um fascista na Casa Branca” e o exercício era pouco mais do que desespero político. Assim, é só ridículo. Trump foi Presidente dos Estados Unidos pela primeira vez de 2016 a 2021 e Louçã não veio em nossa defesa!

MOEDAS, O ESTROINA DOS JACARANDÁS. O valor facial é tramado. Porque pode ser desmentido pelo valor real e Carlos Moedas insiste em querer divergir da imagem que procura construir para continuar a aventura autárquica ou sabe-se lá. É difícil de contabilizar a invocação do passado, quase 4 anos depois da sua eleição, para justificar tudo e mais alguma coisa quando o quadro não é de glamour e afirmação. Se vem de trás e é mau, corrija-se. Se é da sua gestão política, o lixo, a degradação do espaço público, os buracos nas ruas e as intervenções sem respeito pelas pessoas, há sempre alguém que expia a culpa ou a responsabilidade. Óh Homem, faça, corrija, altere, deixe-se de ser estroina, agora dos jacarandás, tão belos quando floridos, dando alma a Lisboa.

ABUSO DA CIRCUNSTÂNCIA DE DOMINANTE. A circunstância não deveria ser sinónimo de abuso, mas é com demasiada frequência. Já não bastavam as diatribes de Trump, dentro e fora dos Estados Unidos, com espirais autocráticas em barda, agora, num momento em que a Europa e o mundo precisam da Turquia como ativo no atual quadro internacional, Erdogan faz-se valer dessa mais-valia estratégica para fazer o que bem entende com a oposição, porque haverá pudor em criticá-lo neste contexto. É um abuso em função da circunstância.