Com as listas de deputados a terem de ser entregues no Tribunal Constitucional até dia 7 de Abril, os bastidores dos principais partidos agitam-se, exceção feita a PSD e CDS que terminaram o processo de escolha esta quarta -feira e deixaram quase tudo na mesma.
Cartazes, estratégias de campanha e debates ocupam as discussões com intensidades diferentes conforme a força política de que estejamos a falar. Este não é o momento para dar visibilidade a discordâncias internas, até porque qualquer palavra em falso pode significar um afastamento de listas. Embora ninguém queira fazer um paralelo entre o que se passou na Madeira e o que se poderá passar no país, a verdade é que no interior de AD, PS e Chega, há muito quem recomende um olhar mais afinado.
Estratégia de Pedro Nuno levanta dúvidas
Enquanto Pedro Nuno Santos vai dirigindo os mini Estados-Gerais, formato que adaptou face ao cenário de eleições antecipadas, na retaguarda muitos socialistas estão mais preocupados com a linha de campanha que o líder pretende seguir, sobretudo no que respeita à exploração do caso Spinumviva e das questões éticas em torno do primeiro-ministro.
Entre muitos socialistas ouvidos por estes dias pelo Nascer do SOL, ainda se levantam dúvidas sobre o papel do PS no desencadear da crise política, com muitas vozes a defender que o partido se deveria ter abstido na votação da moção de confiança, evitando eleições nesta altura.
«Agora chegámos aqui», dizem-nos e é preciso pensar muito bem qual deve ser o caminho a seguir. «O PS não tem nenhuma vantagem em ir a eleições agora, não estamos preparados e o Pedro Nuno ainda tem problemas de afirmação», diz-nos um outro socialista preocupado, que comenta que os dois cartazes escolhidos «não foram bem recebidos». Os dois cartazes têm ambos a imagem de Pedro Nuno Santos sozinho, um deles com o lema «É Já», no outro cartaz lê-se «Pronto Para Portugal». E é este último que motiva uma piada que circula entre alguns grupos de socialistas, mais críticos da estratégia do Secretário Geral socialista, chamando-lhe candidato PPP, numa alusão às parcerias público-privadas.
Piadas à parte, a verdade é que no interior do partido há quem esteja preocupado com um possível mau resultado nas eleições de 18 de maio. De acordo com uma das vozes ouvidas pelo nosso jornal «o Pedro Nuno é bom internamente, porque tem o aparelho do partido, mas sempre que entra em campanha perde». Os críticos falam num excesso de inspiração em sondagens e focus group, em detrimento de um olhar menos científico e mais próximo das pessoas, «a maior parte do tempo fala para a bolha», lamentam.
A versão final das listas de deputados é um dos temas que mais está a preocupar. «É bom lembrar que desta vez o Pedro Nuno Santos já não tem o problema dos 37% do José Luís Carneiro, isso já passou». Este facto em conjunto com a saída de alguns nomes de peso que já foram anunciados como candidatos autárquicos (oficialmente o partido ainda não tomou posição sobre o impedimento ou não de estes nomes entrarem nas listas), faz prever uma renovação significativa na bancada socialista. Ao que nos dizem, esta é a principal razão para que o ambiente seja de máxima discrição, mesmo entre os mais críticos. «Se soubessem que iam ganhar falavam mais alto», diz-nos um militante com muita experiência em processos eleitorais no partido. Se tivesse que apostar, este socialista diria que Pedro Nuno Santos quer ter um grupo parlamentar mais à sua imagem e menos à imagem do seu antecessor.
Chega, tudo à espera das decisões do líder
Ao contrário do que se passa no PS e no PSD, no Chega não há regras na escolha dos nomes que vão ocupar os lugares na Assembleia da República.
Nos últimos dias, as várias distritais do partido fizeram chegar às mãos de André Ventura as suas propostas de nomes para integrarem as listas, mas, ao que nos disse um responsável distrital, «a nossa participação acaba aí». No último Conselho Nacional do partido foi dada carta branca a Ventura para decidir todas as escolhas e é isso que vai acontecer.
«Neste momento estamos todos às escuras, ninguém sabe se fica ou sai», garante-nos a nossa fonte, que admite que o processo de decisão possa ocorrer de forma semelhante à das eleições de 2024, em que André Ventura anunciou as listas por fases, à medida que ia conseguindo negociar com nomes sonantes, muitas vezes vindos diretamente de outras bancadas.
Face aos problemas associados a algumas das escolhas de 2024, como foi o caso de Miguel Arruda, desta vez há um crivo especial? Ninguém sabe. Está tudo nas mãos do líder.
BE recupera fundadores e JPP deve entrar
Decididas estão já as escolhas do Bloco de Esquerda, que, preocupado com o desgaste dos últimos atos eleitorais, aposta tudo no regresso dos fundadores, para tentarem arrebanhar os votos que faltaram em distritos onde o BE perdeu representação por margens que o partido considera recuperáveis.
Novidade na próxima sessão legislativa é a entrada mais do que certa do JPP no Parlamento. Depois dos resultados obtidos na Madeira é praticamente certo que o partido venha a eleger.