A crise política que se vive em Portugal faz-nos arriscar a ter no futuro “uma classe política constituída por medíocres, narcisistas e delinquentes”, como disse Carlos Guimarães Pinto ao Nascer do SOL. As trapalhadas são tantas, e não falamos só dos negócios familiares de Luís Montenegro, que o comum dos mortais se irá afastar cada vez mais da política, deixando espaço para oportunistas que nada têm a perder. Vai começar a ser ainda mais difícil convencer, por exemplo, altos quadros de empresas ou professores universitários, com conhecimento, a aventurarem-se no mundo duvidoso da política, onde se vasculha tudo até ao tutano, e onde são descobertos podres que dispensaríamos de saber que existem. Isto é: as pessoas de bem não querem ser confundidas com a ilustre flor do entulho.
Passando à frente, as últimas sondagens mostram, aparentemente, que pouca coisa irá mudar se as eleições legislativas se realizarem em maio, como anunciou o Presidente da República, caso a moção de confiança seja chumbada. E aqui quem corre mais riscos é, inevitavelmente, Pedro Nuno Santos, pois não é muito normal um secretário-geral do Partido socialista perder duas eleições legislativas e manter-se no cargo. Percebe-se pois a situação incómoda em que está o líder socialista, que quer ver a trapalhada de Luís Montenegro totalmente esclarecida, mas que que gostaria de não ter de ir a votos. Ao manter a sua intenção de chumbar hoje a moção de confiança, Pedro Nuno Santos corre o sério risco de ser afastado da liderança do seu partido.
Mas Luís Montenegro também não está numa situação muito melhor, pois se ganhar as eleições por ‘poucachinho’, não se livrará da sombra de Pedro Passos Coelho, o homem que muitos, à direita, acreditam que poderá unir os partidos que ficam à direita do Partido Socialista.
Conjunturas políticas à parte, estou perfeitamente convencido que a abstenção irá subir bastante, pois os desiludidos do Chega não deverão voltar a pôr os pés numa assembleia de voto tão depressa. Com o descrédito do homem das malas, das supostas queixas contra abusos sexuais e por aí fora, penso que será bem difícil a André Ventura aproximar-se dos 18% das últimas legislativas.
Quem também deverá sofrer com os seus escândalos é o Bloco de Esquerda que corre o sério risco de eleger apenas dois deputados. Afinal, os escândalos não afetam só os outros, e o BE tem telhados de vidro muito frágeis.
P. S. Será que a votação da moção de confiança irá coincidir com a hora do jogo do Barcelona-Benfica? Será que os deputados benfiquistas mais fanáticos irão ter cabeça para pensar em política? Brincadeirinha…