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“Rei Bibi”, “Senhor Segurança”, “O grande sobrevivente”, “Rei de Israel”. São vários os nomes pelos quais Benjamin Netanyahu é popularmente conhecido. Além de ser o líder há mais tempo no poder, desde a criação do Estado de Israel, em 1948, chegou também a ser considerado o mais jovem primeiro-ministro da história de Israel, aos 47 anos.
Amado por uns, odiado por outros, Netanyahu é uma figura que divide opiniões no seio israelita. Para os seus seguidores, é um líder forte que protege Israel de ameaças externas e mantém o país economicamente próspero. Para os críticos, representa um perigo para a democracia e segurança de Israel e é um símbolo da corrupção política.
Ascensão ao poder
Nascido em 21 de outubro de 1949, em Tel Aviv, Netanyahu teve uma educação marcada por períodos nos Estados Unidos e pelo serviço militar nas Forças de Defesa de Israel, onde integrou a unidade de elite Sayeret Matkal, a unidade antiterrorista de Israel.
De acordo com Bethan McKernan, correspondente do jornal britânico The Guardian em Jerusalém, citado pela BBC, Netanyahu “cresceu num ambiente secular, mas socialmente conservador, com ideias muito fortes sobre o sionismo e o que o jovem Estado de Israel estava destinado a ser.”
Após completar o serviço militar (com a patente de capitão), retornou aos EUA em 1972 para estudar Arquitetura e Administração de Empresas no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, onde se formou com distinção.
A sua carreira política iniciou-se na década de 1980, ascendendo ao cargo de primeiro-ministro pela primeira vez em 1996. Ao longo dos anos, Netanyahu consolidou-se como líder do partido de direita Likud, destacando-se por ter uma postura firme e combativa em questões de segurança e por uma política externa assertiva.
“Teve uma ascensão meteórica por uma série de razões. Tinha formação militar, mas ainda mais importante, o seu domínio do inglês, a sua eloquência, eram evidentes. Netanyahu era uma figura revigorante, atraente, falava inglês como se tivesse nascido nos EUA, era intelectualmente forte e tinha princípios”, explicou Dore Gold, antigo conselheiro de política externa de Netanyahu, ao programa Profiles da BBC Radio 4 em 2009.
Sob a sua liderança, Israel fortaleceu laços com os Estados Unidos, especialmente durante o primeiro Governo de Donald Trump, que reconheceu Jerusalém como a capital israelita e negociou os Acordos de Abraão, normalizando as relações de Israel com vários países árabes. No entanto, a sua trajetória política não esteve isenta de controvérsias e polémicas.
Mandado de prisão
Um dos objetivos principais ao longo do seu longo mandato sempre foi manter Israel em segurança – daí ter sido apelidado “Senhor Segurança” –, mas esta imagem acabou minada, após o ataque no dia 7 de outubro de 2023, quando o grupo armado palestiniano Hamas, que governa a Faixa de Gaza, realizou um ataque surpresa a cidades israelitas, matando mais de 1400 pessoas e fazendo cerca de 240 reféns, segundo autoridades locais. Os ataques marcaram o início da guerra Israel-Hamas, quase exatamente cinquenta anos após o início da Guerra do Yom Kippur, em 6 de outubro de 1973.
Como resposta, Netanyahu lançou uma guerra para destruir o Hamas, que continua sem resolução mais de um ano depois. Pelo menos 44 mil pessoas foram mortas pelos ataques de Israel em Gaza, de acordo com o ministério da saúde do território administrado pelo Hamas.
Os índices de aprovação de Netanyahu caíram após o ataque do Hamas, com constantes pedidos para que o primeiro-ministro israelita assumisse a responsabilidade pela pior falha de inteligência na história de Israel. Uma culpa que até agora Netanyahu tem evitado assumir, mas que não passou despercebida aos olhares da comunidade internacional, que crítica aquilo que considera ser uma limpeza étnica e uma resposta desproporcional contra os civis palestinianos.
Por esse motivo, Benjamin Netanyahu tornou-se o quarto líder mundial a receber um mandado de prisão por crimes contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), o que o coloca ao lado de figuras como Vladimir Putin, da Rússia, Omar al-Bashir, do Sudão, e Muammar Gaddafi, da Líbia. O então ministro da Defesa de Netanyahu – assim como três líderes do Hamas – enfrentaram acusações semelhantes.
Anshel Pfeffer, autor da biografia Bibi: The Turbulent Life and Times of Benjamin Netanyahu, afirmou que “Netanyahu sabe o quanto o fracasso em manter Israel seguro e evitar algo assim manchou a sua liderança” e destacou que Netanyahu intensificou divisões internas na sociedade israelita para benefício político, fomentando uma guerra cultural entre setores liberais e religiosos. Esta estratégia, segundo Pfeffer, resultou numa sociedade mais fragmentada.
Casos de corrupção
Enquanto decorrem as guerras contra o Hamas em Gaza, o Hezbollah no Líbano, além de um conflito intermitente com o o Irão, como pano de fundo Netanyahu enfrenta também problemas a nível doméstico.
O primeiro-ministro israelita foi formalmente acusado em três casos distintos de corrupção, fraude e abuso de confiança, tornando-se o primeiro chefe de Estado em exercício a ser julgado.
As acusações envolvem supostos esquemas, em que o Netanyahu teria recebido presentes luxuosos de empresários em troca de favores políticos e teria tentado manipular a cobertura da imprensa a seu favor.
No seu julgamento, iniciado em 2020, o líder israelita argumentou que “tudo não passava de uma caça às bruxas” como o objetivo de o derrubar. Estas acusações abalaram sua popularidade, levando a uma crise política que resultou em diversas eleições consecutivas sem maioria clara no parlamento.
Os conflitos armados acabaram por atrasar os procedimentos judiciais, o que criou especulações de que Netanyahu teria interesse em prolongar a guerra em Gaza para evitar o julgamento.
Reformas judiciais
O ataque de 7 de outubro e a guerra que se seguiu também acabou por travar os protestos semanais em massa contra as reformas judiciais avançadas por Netanyahu, que polarizaram o país por meses.
Em causa estava o projeto de uma contestada reforma judicial vista por críticos como uma ameaça ao Estado de direita, que visava tirar poder aos tribunais.
Os defensores da reforma alegavam que o sistema judicial israelita é demasiado politizado e que as novas medidas pretendiam apenas tirar o poder excessivo aos juízes.
Por outro lado, a oposição contestava que, com esta nova lei, Netanyahu pretendia evitar uma possível condenação nos vários casos de corrupção em que está a ser julgado. O Supremo Tribunal de Israel acabaria por travar o projeto de reforma em janeiro de 2024.
Parceria com Trump
Netanyahu sempre considerou a aliança com os EUA fundamental para a segurança e estabilidade de Israel, mas durante os governos de Bill Clinton e Barack Obama, a relação entre Israel e os EUA foi marcada por tensões diplomáticas, especialmente devido a divergências sobre a questão da Palestina.
Já a relação com Donald Trump, por outro lado, foi muito mais alinhada, desde o primeiro mandato do presidente norte-americano. Trump adotou uma postura pró-Israel sem precedentes, reconhecendo Jerusalém como capital do país e transferindo a embaixada dos EUA para lá. Por outro lado, essas medidas foram contestadas pelos palestinianos – que querem Jerusalém Oriental como a capital do seu próprio estado – e romperam laços com Washington.
Os americanos também saíram do pacto nuclear feito com o Irão em 2015, uma atitude elogiada por Netanyahu.
Já sob a administração de Joe Biden, a relação entre o primeiro-ministro israelita e Washington voltou a enfrentar desafios. Biden expressou apoio à segurança de Israel, mas também pressionou por soluções pacíficas para o conflito com os palestinianos e demonstrou preocupação com a reforma judicial proposta pelo governo Netanyahu.
Com o regresso recente de Trump ao poder, as relações entre os dois países voltaram a estar alinhadas, mas as tensões em Gaza não parecem estar perto de terminar.
Netanyahu afirmou que Israel e os Estados Unidos, sob a liderança do presidente Trump, compartilham uma estratégia comum no território palestiniano, onde um acordo cessar-fogo está em vigor entre Israel e militantes do grupo Hamas após 15 meses de guerra.
Recentemente, Trump propôs aos assumir o controlo de Gaza, deslocar seus habitantes para o Egito e Jordânia, e transformá-la num destino turístico de luxo, uma espécie de “Riviera de Gaza”. A ideia foi imediatamente rejeitada por todos os países envolvidos, mas Netanyahu já disse estar “comprometido” com o plano de Trump, que reitera ser “o melhor amigo que Israel já teve na Casa Branca”.