A tensão entre judeus e muçulmanos aumentou quando a comunidade internacional concedeu aos britânicos a tarefa de formar um “lar nacional” para o povo judeu na Palestina. Recorde-se que o Reino Unido assumiu o controle dessa região após a Primeira Guerra Mundial. Para os judeus, a Palestina era o seu lar ancestral, só que os árabes palestinianos também reivindicavam esse território e nunca aceitaram essa mudança. Em 1947, as Nações Unidas tentaram dividir a Palestina em dois Estados; um judeu e o outro árabe. O plano foi aceite pelos líderes judeus, mas os árabes rejeitaram, e o antigo secretário-geral da Liga Árabe, Assam Pasha, afirmou à época que: “A linha da repartição será apenas uma linha de sangue e fogo”, e acertou. No ano seguinte, os líderes judeus declararam a criação do Estado de Israel e, desde então, nunca mais houve paz na região.
Israel tem fronteira com quatro países: Jordânia, Egito, Síria e Líbano. O Egito e a Jordânia têm acordos de paz, já a Síria e o Líbano são inimigos. Israel atua em várias frentes para defender o seu território. Tornou-se a única potência nuclear da região e investe cerca de 19 mil milhões de dólares em defesa todos os anos, mais do dobro do inimigo Irão, e dispõe de tecnologia avançada, caso do sistema de defesa antiaérea Iron Dome.
O Estado judaico afirma que está rodeado de inimigos e a maioria dos seus vizinhos considera Israel um inimigo, que tem de ser eliminado. Ao longo da história foi colecionando ódios de estimação que levam a atos tão bárbaros como o ataque de 7 de outubro de 2023, perpetrado por seis mil combatentes do Hamas, que matou 1.200 israelitas, entre civis e solados, e sequestrou 251 pessoas, incluindo mulheres e crianças, que foram levadas como reféns para a Faixa de Gaza.
Ameaça real
Desde a Revolução Iraniana levada a cabo por fundamentalistas islâmicos, em 1979, que o Irão é o maior e mais perigoso inimigo pelo seu antissemitismo. Teerão define reiteradamente a extinção do Estado de Israel e, na maioria das vezes, os ataques são ordenados pela cúpula dos ayatollah, mas levados a cabo pelos seus aliados no Líbano, Iémen, Iraque e Faixa de Gaza, de onde são lançados regularmente centenas de mísseis contra território israelita.
Israel e Irão encontram-se num dos momentos geopolíticos mais tensos da sua história, depois de a República Islâmica ter atacado diretamente Israel. As Forças de Defesa de Israel (FDI) disseram que foram lançados mais de 300 mísseis a partir do Irão, Iraque o Iémen e Líbano. O Irão justificou esse ato como uma retaliação pelo ataque aéreo contra a sua representação diplomática em Damasco, na Síria, que causou a morte a Mohammad Reza Zahedi, comandante da Guarda Revolucionária do Irão. As ameaças vêm também do Hamas, na Faixa de Gaza, e do Hezbollah, um pouco mais a norte. Nos últimos anos tem sido igualmente atacado por inimigos geograficamente mais distantes como os Hutis do Iémen e outros grupos terroristas que atuam no Iraque. Todos estes “atores” têm em comum o facto de serem apoiados pelo Irão.
Os últimos anos mostraram uma coligação de governos e milícias militares que atuam em toda a região. Perante este cenário ameaçador, a questão que se coloca é saber se o Governo de Benjamin Netanyahu está disposto a enfrentar todos os inimigos em simultâneo, com o risco de levar ao Médio Oriente para um cenário de guerra total. Para já, sabe-se que a cúpula do exército israelita considera a possibilidade de um cenário de guerra múltipla. E a verdade é que a guerra de Gaza, a repressão sobre os palestinianos na Cisjordânia, as ofensivas no sul do Líbano e os bombardeamentos no Iémen são alguns dos conflitos em aberto.
Ataques
O grupo islâmico Hamas, que significa Movimento de Resistência Islâmica é, neste momento, uma ameaça permanente já que tem a sua base na Faixa de Gaza, um território com 41 km de comprimento e 2 km de largura, que abriga mais de dois milhões de habitantes. Foi fundado em 1980 e é considerado pela União Europeia, EUA e alguns países árabes como uma organização terrorista, foi dos primeiros grupos a usar homens-bomba em território israelita. Em termos ideológicos, está muito próximo da Irmandade Muçulmana do Egito e tem atacado reiteradamente Israel com o objetivo de o destruir. Venceu as eleições parlamentares de 2006 e, desde então, governa a Faixa de Gaza. Desde há alguns anos que o Hamas tem apoio militar e financeiro do Irão. Foi o anterior líder do grupo, Ismail Haniyeh, morto em julho do ano passado, a confirmar que o Irão pagou 70 milhões de dólares para o desenvolvimento de mísseis com que atacou Israel a 7 de outubro de 2023. Recorde-se que Israel ocupou a Faixa de Gaza na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e ali permaneceu até 2005. Apesar de ter retirado as suas tropas, manteve o controlo do espaço aéreo, da fronteira comum e da linha de costa. Perante esse enquadramento, a ONU considera ainda hoje que é território ocupado por Israel.
Outra ameaça vem do Hezbollah, o Partido de Deus, que é um misto de partido político, organização militar e movimento religioso xiita. Foi criado em 1982 para combater Israel, que tinha ocupado grande parte do Líbano na luta contra a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Calcula-se que tenha entre 40 mil e 100 mil soldados, o que significa que é a maior organização guerrilheira do mundo. Não tem o apoio da maioria da população libanesa, mas é suportada financeiramente pelo Irão e teve, até há pouco tempo, forte apoio do ex-presidente sírio Bashar al-Assad. Em 1985, publicou um manifesto que tinha por objetivo expulsar as antigas potências coloniais do Líbano e destruir o Estado de Israel. O apoio iraniano essa milícia xiita vem de longa data. O Departamento de Estado dos EUA sinalizou, em 2006, que o Irão fornecia grande quantidade de mísseis e armas ligeiras ao Hezbollah, sendo, por isso, considerado o mais forte grupo militar não estatal no Médio Oriente. Os EUA, Alemanha e vários países árabes sunitas, colocam o Hezbollah entre os grupos terroristas, curiosamente a União Europeia tem uma visão mais bondosa e considera apenas a sua ala militar como terrorista.
Terrorismo tribal
Os Hutis são uma organização tribal, que ocupa grande parte do Iémen, o país mais pobre do Médio Oriente, incluindo a capital Saná. Esta milícia foi fundada em 1990 durante os protestos contra o presidente Ali Abdullah Saleh, tem uma ideologia xiita e inimigos bem identificados. O seu lema é “Deus é grande, morte aos Estados Unidos, morte a Israel, maldição para os judeus e vitória do Islão”, e tem atacado Israel inúmeras vezes com foguetes e mísseis. Participou igualmente em ações violentas ao lado da Al Qaeda na chamada “Primavera Árabe”, que derrubou vários regimes na região. Mais recentemente, os seus guerrilheiros passaram a atacar barcos no Mar Vermelho que se dirigiam ao Canal do Suez, por onde passa cerca de 70% do comércio mundial. Sem surpresa, recebe apoio militar e financeiro do Irão.
A Fatah foi criada em 1959 pelo carismático líder Yasser Arafat como um grupo guerrilheiro, mas, a partir dos anos 90, tornou-se num partido político laico da Palestina. Tem uma atitude mais branda e estabeleceu vários acordos com Israel, embora as Brigadas de Al Acsa sejam o seu braço armado e continuem a atacar civis. É o principal rival do Hamas e, repetidas vezes, entraram em conflitos violentos nas ruas da Faixa de Gaza.
No devastado território do Iraque existem várias milícias apoiadas por Teerão a que dão o nome de Frente da Mobilização Popular. A mais conhecida é a Kataib Hezbolá, formada em 2003, durante a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque de Saddam Hussein. A estrutura do grupo é pouco transparente, mas sabe-se que segue ordens do Irão e os seus representantes, bem como os de outras organizações, estão representados no parlamento iraquiano.