Roteiro pelas casas de fado da capital. ‘Silêncio, que se vai cantar o fado!’

Roteiro pelas casas de fado da capital. ‘Silêncio, que se vai cantar o fado!’


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Declarado Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, o fado é uma das formas mais genuínas de sentir Lisboa. E, na capital, não faltam opções para conhecer este género musical português. Passeando pelas ruas, o canto ecoa das casas de fado. Seja no Bairro Alto, em Alfama, na Mouraria, ou na Lapa, qualquer pessoa pode viajar até às suas raízes, conhecer as vozes que marcaram a sua história e ouvir aqueles que lhes vão dando uma nova roupagem. A Luz apresenta-lhe um roteiro pelas mais emblemáticas casas de Fado da metrópole.

Maria da Mouraria

«Quem passa pela Capela da Nossa Senhora da Saúde, às portas da Mouraria, entra num mundo que reflete a verdadeira essência da cidade, onde os vários aromas, línguas e dialetos se misturam num Caldeirão de culturas que parece reflectir um passado longínquo transportados aos dias de hoje», introduz a página do restaurante Maria da Mouraria. E eis que surge a antiga casa da Casa da Severa, «uma Mulher que tocava a guitarra e evocava um canto dorido e melancólico, como se estivesse a cantar ao destino, à saudade, à desgraça, aos amores e desamores». A casa que foi reconstruída e adaptada pelo arquiteto José Adrião, é agora um restaurante de degustação de petiscos portugueses, a única Casa de Fados do Bairro da Mouraria. O fadista Hélder Moutinho e os seus sócios, Bela e Carlos Silva, fazem atualmente as honras da casa.

O Clube de Fado, Alfama

Em pleno coração de Alfama, encontra-se o Clube de Fado que existe desde 1995 e apresenta música ao vivo e boa gastronomia todas as noites na capital portuguesa. Fundada pelo músico e compositor Mário Pacheco, tem feito história pela inquestionável qualidade artística e pela procura de novas vozes. Foi neste espaço que a guitarrista Marta Pereira da Costa aprendeu o ofício. Do elenco fixo fazem parte Carlos Leitão, Cristina Madeira, Lina, Maria Ana Bobone, Peu Madureira, Sara Paixão, Silvana Peres, Sofia Ramos e Zé Maria e os músicos David Ribeiro, José Manuel Neto e Rui Poço na guitarra portuguesa, entre outros.

Mesa de Frades, Alfama

Diz ser «um dos tesouros mais bem guardados de Alfama». E, mais do que um restaurante, segundo a sua página, A Mesa de Frades é um espaço icónico do «roteiro fadista». Há quem lhe chame «a capelinha do fado», já que foi aberta em 2006 numa antiga capela de um edifício oitocentista – o palácio da Dona Rosa -, decorada a belíssimos azulejos. «Nesta antiga capela, repleta de azulejos do séc. XVIII, o Fado acontece todas as noites com fadistas da nova geração e vozes consagradas do Fado», explica o site. Por lá passaram Carminho, Ricardo Ribeiro, José Manuel Barreto, Rodrigo Rebelo de Andrade, Tânia Oleiro, Pedro Moutinho e Ana Sofia Varela. É atualmente cenário de atuação de Rodrigo Rebelo de Andrade, Ana Sofia Varela, Teresinha Landeiro ou João Braga.


Segundo a revista Fugas, esta «tasca polida» é «onde os fadistas vão quando querem ouvir fado», já que estes têm aqui «liberdade máxima enquanto os clientes podem esperar jantares, petiscos, noites não formatadas e serem surpreendidos».


O ambiente é informal e o menu do jantar percorre vários sabores da gastronomia portuguesa.

A Severa, Bairro Alto

«Quem vier visitar o Bairro Alto/ P’ra ouvir esta canção sempre sincera/ Não poderá passar sem dar um salto/ Ao Restaurante Típico A Severa». É desta forma que a mais antiga Casa de Fado de Lisboa recebe os seus visitantes. A Severa, no Bairro Alto, abriu portas em 1955, pelas mãos de Júlio e Maria José de Barros Evangelista. Já nessa altura, um dos seus objetivos era dar vida a algumas das maiores vozes do fado. Atualmente, a quarta geração da família continua ao leme do negócio, por onde têm passado nomes como Lina Santos, Natalino de Jesus ou Nadine. Segundo o seu site, num ambiente acolhedor à luz de velas, os visitantes poderão desfrutar de uma noite memorável ao som do Fado e do sabor da gastronomia tradicional.

A Tasca do Chico, Bairro Alto

Tal como escreveu o Jornal i em 2019, «o fado vadio ainda é rei na Tasca do Chico, onde estrangeiros e portugueses se ajeitam como podem para ouvir o que vai na alma de fadistas amadores ou profissionais». Foi inaugurada em 1996 num espaço onde antes funcionava um armazém de azeitonas e enchidos. O seu fundador, Francisco Gonçalves, é um apaixonado pelo Bairro Alto, onde vive desde 1972. Escreve o Museu do Fado que, «embora os reis da noite sejam os amadores, não são poucos os profissionais que visitam a tasca depois das noites de fado profissional nas casas de fado onde atuam todos os dias há muito terem terminado». Por lá passaram nomes como Raquel Tavares, Carminho e Ana Moura. Além disso, a tasca ficou no mapa pela visita de Anthony Bourdain que lá foi comer um chouriço assado e ouvir o fado.

Senhor Vinho, Lapa

O Restaurante Sr. Vinho, localizado no bairro da Lapa, foi fundado no ano 1975 por José Luís Gordo, Maria da Fé e António Melo Correia. Desde o princípio que, segundo o próprio espaço, «houve sempre a preocupação de servir o melhor que a gastronomia portuguesa nos oferece e apresentar um elenco de grandes nomes do Fado». «Proporcionamos o verdadeiro Fado, o chamado Fado de raiz», garante. Pela casa passaram grandes nomes como Ada de Castro, Mariza, Camané, Ana Moura, António Zambujo, Jorge Fernando, Aldina Duarte, Maria da Nazaré, Gisela João ou Machado Soares acompanhados por músicos de excelência.

O Faia, Bairro Alto

Fundado em 1947, O Faia continua a ser uma referência da noite lisboeta. Criado pela fadista Lucília do Carmo, começou por ser um negócio familiar e assim se manteve até 1980, altura em que Carlos do Carmo, que então o geria, decidiu vendê-lo. Nessa altura, explica o site do espaço, António Ramos foi contratado para trabalhar no bar. Poucos anos depois, foi convidado a fazer parte da sociedade. E, em meados dos anos 90, assumiu, com os dois filhos, Pedro e Paulo, os destinos da casa. Por lá passaram grandes nomes como Alfredo Marceneiro, Tristão da Silva, Fernando Maurício, Ada de Castro, Beatriz da Conceição, Vasco Rafael, Camané, Ricardo Ribeiro, entre outros. Atualmente, conta com presenças de Lenita Gentil, António Rocha, Sara Correia, Maura Airez e Beatriz Felício, acompanhados por Fernando Silva na guitarra portuguesa e Paulo Ramos na viola.