Há muito que sabia que o fim estava próximo. Foi o próprio a fazer o guião da sua última viagem no livro Azul até ao fim, lançado em outubro do ano passado, onde convidou uns quantos para a despedida e vetou muitos mais, incluindo André-Villas Boas, atua presidente do FC Porto. O estado de saúde de Pinto da Costa deteriorou-se depois de uma longa batalha contra um cancro na próstata e perdeu a sua última batalha no passado sábado. Para a história ficam 42 anos de uma presidência forte e vitoriosa, o que fez dele um ícone para a nação portista. Venceu 15 atos eleitorais, sendo que em 12 foi candidato único. A longevidade de Pinto da Costa é um caso único no futebol mundial e se olharmos para Portugal a situação é igualmente marcante. No mesmo período em que liderou os destinos do FC Porto, o Benfica teve oito presidentes e o Sporting 13!
Pinto da Costa entrou no FC Porto aos 20 anos quando aceitou ocupar o lugar de vogal na secção de hóquei em patins. Em 1962, passaria a chefe de secção, cargo que viria a acumular com o de chefe da secção de hóquei em campo. Cinco anos mais tarde ficou responsável pela secção de boxe, onde conheceu Reinaldo Teles, na altura atleta da modalidade, e que se tornou seu braço direito.
Símbolo de uma região Pinto da Costa esteve na presidência do FC Porto entre abril de 1982 e maio de 2024. Nesse período, tornou o maior clube do norte do país um símbolo do futebol português além-fronteiras. Sem nunca esquecer as suas raízes, o FC Porto cresceu com a cidade e a cidade cresceu com o FC Porto, e podemos dizer que há um antes e um depois de Jorge Nuno Pinto da Costa, o presidente com mais títulos a nível mundial – 69 troféus conquistados pela equipa sénior, sendo sete internacionais – o principal perseguidor é Florentino Perez, de 77 anos, que conquistou 60 troféus com a equipa principal do Real Madrid.
O antigo presidente portista conseguiu o feito único de ser pentacampeão em Portugal – continua a ser uma ferida aberto no orgulho dos clubes de Lisboa. Não satisfeito com isso, durante 42 anos ganhou 23 campeonatos, contra 14 do Benfica e quatro do Sporting. Venceu também mais Taças de Portugal (16) do que o Benfica (11) e Sporting (7) e, no total, chegou aos 69 troféus, um número que envergonha Benfica e Sporting, que juntos conquistaram apenas 64 troféus (Benfica 40 e Sporting 24). No seu discurso passou sempre a ideia de que as finais não se jogam, ganham-se. Mas nem sempre foi assim, e, no Museu do FC Porto, falta apenas a Taça das Taças, esteve quase, mas o golo de Boniek na final de 1984 deu o troféu à Juventus. Nos 15.344 dias das sua presidência assistiu, quase sempre no relvado, a 2.106 jogos da sua equipa, e festejou como poucos, com as 1.435 vitórias (68%), os empates foram 373 e registou 298 derrotas.
Legado inigualável Pinto da Costa dedicou mais de seis décadas da sua vida ao FC Porto como dirigente. Em 1969, foi convidado por Afonso Pinto de Magalhães para integrar a sua lista para as eleições como diretor das modalidades amadoras, foi a primeira que assumiu um cargo no FC Porto. Desde então, foi o responsável pelo crescimento e afirmação do seu clube e que trouxe para Portugal sete títulos internacionais, mais ninguém conseguiu semelhante feito. Sob a sua presidência, o FC Porto viveu os melhores momentos da sua história de mais de 131 anos com duas Ligas dos Campeões (1987, 2004), duas Ligas Europa (2003, 2011), uma Supertaça Europeia (1987), duas Taças Intercontinentais (1987, 2004), 23 títulos de campeão de Portugal (entre 1985 e 2022), 16 Taças de Portugal (entre 1984 e 2022), 22 Supertaça de Portugal (entre 1983 e 2022) e uma Taça da Liga (2023).
A obra do ex-presidente vai além dos sucessos desportivos e inclui também a construção do Estádio do Dragão, do Dragão Arena e do Museu, que deverá chamar-se Pinto da Costa. São obras que valorizaram e modernizaram o principal clube de cidade Invicta. “Vemos partir um homem que marcou o FC Porto, os seus associados e adeptos, a cidade, a região norte e o país. O presidente dos presidentes dedicou toda uma vida para colocar e elevar o nome da instituição ao topo do mundo. O FC Porto abraçá-lo-á na eternidade”, disse o atual presidente André Villas-Boas.
Fim de ciclo O desgaste provocado por mais de 40 anos de uma liderança fechada, os graves problemas financeiros confirmados pela recente auditoria forense realizada pela consultora Deloitte e a proteção dada à sua guarda pretoriana, leia-se Super Dragões, contribuíram para o pesado desfecho nas eleições para a presidência realizadas o ano passado, e cujos resultados se recusou a aceitar. Foi o princípio do fim…que chegou aos 87 anos. Por tudo aquilo que fez pelo clube, Pinto da Costa deveria ter saído em grande, mas preferiu a negação e a fuga para a frente. Um líder que sempre desafiou os poderes instituídos acabou a defender a sua corte (talvez mal assessorado/aconselhado), alguns dos que o bajulavam não mereciam tamanho sacrifício. Para a história do FC Porto e do futebol português ficam as vitrinas repletas de troféus e os sete livros escritos por Pinto da Costa sobre os 42 anos de presidência azul e branca.