Os grandes não estiveram à altura da sua grandeza


Não se compreende o silêncio das direções do Benfica e do Sporting. É conhecida a rivalidade, e até a inimizade, entre os clubes de Lisboa e o FC Porto.


O mundo está a mudar a uma velocidade estonteante e se alguém tinha dúvidas disso elas ficaram desfeitas na noite de 27 de abril do ano passado, quando André Villas-Boas foi eleito presidente do FC Porto. Atrevo-me a dizer que a derrota de Jorge Nuno Pinto da Costa representou para o futebol português algo de semelhante ao que a queda do Muro de Berlim representou para a política europeia: o fim de uma era.

Agora, o desaparecimento físico do dirigente mais titulado do futebol mundial constituiu mais um choque, não apenas para os adeptos do FC Porto, mas para quase todos os portugueses – até para os seus inimigos.

Dito isto, não se compreende o silêncio das direções do Benfica e do Sporting. É conhecida a rivalidade, e até a inimizade, entre os clubes de Lisboa e o FC Porto. Frederico Varandas chamou corrupto com todas as letras ao presidente portista e Rui Costa sabe bem o que terá passado no estádio das Antas nos idos anos 90, onde os anfitriões tornavam o ambiente irrespirável para os visitantes. Mas, para lá do plano das simpatias ou antipatias, está o plano institucional – e, goste-se ou não dele, Pinto da Costa foi presidente de um dos principais clubes da nossa praça durante mais de 40 anos. Neste aspeto, os clubes “grandes” de Lisboa não tiveram um comportamento à altura da sua grandeza.

Seja como for, ninguém pedia nem a Varandas nem a Rui Costa que dissessem que Pinto da Costa foi um santo. E de facto não foi. Incutiu uma mentalidade de guerrilha, por vezes doentia, contra a capital e, como disse, criou no estádio das Antas um clima de intimidação, quase de terror, para os seus adversários. Tinha tiradas de uma ironia corrosiva, mas outras de uma deselegância grosseira. As suas relações com o mundo da arbitragem são no mínimo nebulosas, havendo fortes suspeitas de que ofereceu recompensas a árbitros para beneficiarem o seu clube. Por fim, ficaram bem à vista as ligações que manteve com figuras pouco recomendáveis, que lhe serviriam, ao que diz muita gente, de “guarda pretoriana”.

Mas os títulos falam por si. Não sei se Pinto da Costa foi um grande homem, sei que foi sem dúvida um grande dirigente, que deu muitas alegrias aos adeptos do seu clube. E até a adeptos de outros clubes, como eu, que nunca fui portista, mas vibrei intensamente com as vitórias do Porto em Viena, Sevilha e Gelsenkirchen.

Os grandes não estiveram à altura da sua grandeza


Não se compreende o silêncio das direções do Benfica e do Sporting. É conhecida a rivalidade, e até a inimizade, entre os clubes de Lisboa e o FC Porto.


O mundo está a mudar a uma velocidade estonteante e se alguém tinha dúvidas disso elas ficaram desfeitas na noite de 27 de abril do ano passado, quando André Villas-Boas foi eleito presidente do FC Porto. Atrevo-me a dizer que a derrota de Jorge Nuno Pinto da Costa representou para o futebol português algo de semelhante ao que a queda do Muro de Berlim representou para a política europeia: o fim de uma era.

Agora, o desaparecimento físico do dirigente mais titulado do futebol mundial constituiu mais um choque, não apenas para os adeptos do FC Porto, mas para quase todos os portugueses – até para os seus inimigos.

Dito isto, não se compreende o silêncio das direções do Benfica e do Sporting. É conhecida a rivalidade, e até a inimizade, entre os clubes de Lisboa e o FC Porto. Frederico Varandas chamou corrupto com todas as letras ao presidente portista e Rui Costa sabe bem o que terá passado no estádio das Antas nos idos anos 90, onde os anfitriões tornavam o ambiente irrespirável para os visitantes. Mas, para lá do plano das simpatias ou antipatias, está o plano institucional – e, goste-se ou não dele, Pinto da Costa foi presidente de um dos principais clubes da nossa praça durante mais de 40 anos. Neste aspeto, os clubes “grandes” de Lisboa não tiveram um comportamento à altura da sua grandeza.

Seja como for, ninguém pedia nem a Varandas nem a Rui Costa que dissessem que Pinto da Costa foi um santo. E de facto não foi. Incutiu uma mentalidade de guerrilha, por vezes doentia, contra a capital e, como disse, criou no estádio das Antas um clima de intimidação, quase de terror, para os seus adversários. Tinha tiradas de uma ironia corrosiva, mas outras de uma deselegância grosseira. As suas relações com o mundo da arbitragem são no mínimo nebulosas, havendo fortes suspeitas de que ofereceu recompensas a árbitros para beneficiarem o seu clube. Por fim, ficaram bem à vista as ligações que manteve com figuras pouco recomendáveis, que lhe serviriam, ao que diz muita gente, de “guarda pretoriana”.

Mas os títulos falam por si. Não sei se Pinto da Costa foi um grande homem, sei que foi sem dúvida um grande dirigente, que deu muitas alegrias aos adeptos do seu clube. E até a adeptos de outros clubes, como eu, que nunca fui portista, mas vibrei intensamente com as vitórias do Porto em Viena, Sevilha e Gelsenkirchen.