Desde os campos de futebol até aos palcos da política nacional, Luís Marques Mendes soube sempre reinventar-se. Um homem de Fafe, que começou a sua trajetória na cidade minhota como guarda-redes em vários clubes de futebol da Associação Desportiva de Fafe, da qual ainda hoje é sócio.
Aos 19 anos, Marques Mendes já se destacava, não só no futebol, mas também na política. Licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Coimbra e, ainda estudante, chegou a vice-presidente da Câmara Municipal de Fafe e a adjunto do governador civil de Braga. Apesar de muito jovem, conquistou rapidamente a confiança dos dirigentes locais. «Ele manifesta-se imprescindível para mim, ao ponto de considerar que era uma presidência bicéfala», recordou António Guimarães, na altura autarca de Fafe, em entrevista à SIC.
Esta conquista inicial foi o primeiro passo de uma ascensão que o levaria a tomar o pulso da política nacional, tendo sido deputado, secretário de Estado, ministro e líder dos sociais-democratas.
Perto da política, longe dos filhos
Ainda no liceu, Marques Mendes conhece a atual mulher, Rosa Sofia Salazar, com quem tem três filhos, Pedro, Ana Sofia e Miguel. Com uma vida política cheia, confessa que pouco tempo teve para ver os filhos crescer. «Tenho três filhos: o primeiro nasceu no primeiro Governo em que participei; a segunda nasceu no segundo Governo em que participei; o terceiro nasceu no terceiro Governo. Aquele momento de os ver crescer, de os educar, ir às festas de Natal… muitas vezes não tinha tempo, embora não me orgulhe nada disso. Portanto, a Sofia fez de pai e de mãe», revelou o antigo presidente do PSD no programa Júlia, da SIC.
Nenhum dos filhos seguiu as pisadas do pai, mas a mulher, Sofia, chegou a trabalhar, em 1992, no gabinete do secretário de Estado da Agricultura, Álvaro Amaro, quando Marques Mendes era secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros. Mais um familygate dos tempos do cavaquismo, que mais tarde Marques viria a reconhecer como «um erro».
Uma vida dedicada ao PSD
Por outro lado, o PSD foi uma presença constante na vida de Marques Mendes. Militante do partido desde os 16 anos, filiou-se em junho de 1974 ao então PPD, que em 1976 passaria a PPD/PSD. Logo depois de ingressar, começou a chamar a atenção pela sua competência e pelas suas capacidades de liderança, sendo rapidamente integrado em cargos de maior responsabilidade.
Exerceu advocacia durante os anos oitenta, mas foi obrigado a interromper a atividade para exercer, durante duas décadas consecutivas, cargos de natureza política, parlamentar e governativa.
Nas décadas de 80 e 90, integra os três governos de Cavaco Silva, mas não foi fácil de convencer. «Convidou-me para vir para o Governo, para secretário de Estado. Pedi umas horas para pensar, mas respondi dizendo que não podia. Para minha surpresa, ele insistiu e pedi mais um dia para pensar. Julgo que o surpreendi, porque pensava que eu ia dizer que sim e voltei a dizer-lhe que não. Ele colocou aquele ar hirto, de autoridade, e perguntou-me se tinha alguma coisa contra ele. Disse-lhe que não», disse em entrevista ao Observador.
Ainda assim, acabaria por ser secretário de Estado Adjunto do ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares entre 1985 e 1987 (acumulando com as funções de porta-voz), secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros entre 1987 e 1992 e ministro adjunto do primeiro-ministro, entre 1992 e 1995.
Teve ainda a tutela da comunicação social entre 1985 e 1987, quando foi constituída a Agência Lusa, e era ministro Adjunto quando foi criada a RTP Internacional.
A estreia como deputado aconteceu em 1987 ao ser eleito pelo círculo eleitoral de Braga. Em 1991 voltou a ser eleito, mas por Viana do Castelo e em 1999, 2002 e 2005 por Aveiro.
Em 2002, chegou ao governo como ministro da Administração Interna de Durão Barroso. No entanto, foi em 2005, após a derrota do PSD nas legislativas, que Marques Mendes chegou ao posto mais alto do partido, assumindo a liderança do PSD, que exerceu por pouco mais de dois anos. Durante a sua liderança fez aprovar uma revisão estatutária no partido que instituiu a eleição direta do presidente por todos os militantes, que substituiu o método de eleição pelos delegados em Congresso. Impediu ainda presidentes de Câmara envolvidos em processos judiciais de se recandidatarem, tendo vetado nomeadamente Isaltino Morais, atual presidente da Câmara Municipal de Oeiras.
Ao Nascer do SOL, o antigo ministro da Administração Interna Miguel Macedo refere-se a Marques Mendes como «um político que esteve sempre na linha da frente».
«Nunca foi um político de bastidores. Sempre deu a cara, liderou e protagonizou os combates políticos em nome do partido ou do Governo, na altura», recorda.
O político comentador
Após a sua saída da liderança do PSD, destronado por Luís Filipe Menezes, Marques Mendes afastou-se da política ativa, mas isso não significou o fim da sua presença no debate público. Na esperança de ser um putativo ‘sucessor’ de Marcelo, seguiu um percurso semelhante ao do atual Presidente, que foi comentador dominical durante vários anos.
O antigo líder do PSD foi convidado em 2013 a integrar a equipa de comentadores do Jornal da Noite da SIC, onde se tornou presença fixa aos domingo, depois de cerca de três anos a comentar na TVI24. Ali, exibiu a sua característica mais marcante: a capacidade de antecipar cenários políticos e de avaliar acontecimentos com uma objetividade fria e calculada, algo que lhe garantiu uma audiência fiel.
Candidatura a Belém
Agora, aos 67 anos, Marques Mendes prepara-se para voos mais altos e um regresso ambicioso à vida política. Esta quinta-feira retornou à terra para apresentar a candidatura à Presidência da República. O anúncio foi feito na sala do lar da Santa Casa da Misericórdia de Fafe, a que foi atribuído o nome do seu pai, António Marques Mendes, fundador do PSD no distrito e ex-deputado na Assembleia da República e eurodeputado.
«Portugal precisa de um Presidente da República com experiência política, com provas dadas de trabalho e dedicação às causas da liberdade e da democracia. Os tempos que se vivem a nível europeu e mundial, apelam ao perfil de Luís Marques Mendes», diz ao Nascer do SOL o atual presidente da Câmara de Fafe, Antero Barbosa. «Temos uma longa amizade e, em comum, o amor pela nossa terra e pelo nosso país. É uma pessoa bem disposta, de agradável conversa, genuína e reveladora de uma grande cultura e dos reais problemas do país», acrescenta o autarca.
A formalização de uma candidatura já há muito expectável conta com o apoio do primeiro-ministro e presidente do PSD. «[Marques Mendes] preenche em absoluto todos os requisitos que nós estabelecemos para podermos estar ao lado de uma candidatura ganhadora», disse Luís Montenegro.
Também Miguel Macedo sublinha «a larguíssima experiência política muito relevante, uma vez que temos um parlamento muito fragmentado, e a capacidade que tem de criar consensos e procurar soluções entre várias forças políticas». Sobre se Marques Mendes terá capacidade para superar Gouveia e Melo, segundo várias sondagens o favorito na corrida a Belém, o antigo ministro do PSD é perentório: «Claro que tem!»