Auto-propostos os candidatos, os partidos políticos, na maior parte das vezes (recorde-se a ausência de apoio a um candidato por parte do PS em 2016 e em 2021…), tornarão pública a escolha de um preferido. O patrocínio partidário tem para o candidato uma consequência importante: a solvência financeira. As campanhas eleitorais são caras e, até ao presente, só Marcelo pôde fazer campanhas eleitorais baratinhas, beneficiando de quase um vinténio de exposição mediática remunerada (TSF 1993-96, TVI 2000-04, RTP 2005-10, TVI 2010-15). Outros (Freitas do Amaral, Maria de Belém) foram menos prudentes e tiveram de pagar do seu bolso muitas das despesas das campanhas. Também há candidatos (e proto-candidatos) que não são financiados por partidos políticos, beneficiando de decisões de investimento financeiro no futuro por parte dos que têm posses para as tomar. Alguns candidatos terão bolsos mais fundos e mais escuros.
A tradição divisionista da esquerda está bem representada em Portugal, os melhores exemplos dentro do PS, com sucessivas duplas de candidatos às presidenciais (Zenha-Soares, Alegre-Soares) e militantes que, face à ausência de escolha pelo PS, se assumiram como candidatos independentes (Maria de Belém em 2016, Ana Gomes em 2021). O fantasma divisonista assombra, de novo, o Largo do Rato. Não querendo a actual liderança socialista recorrer às eleições primárias, foram acontecendo umas secundárias, com Augusto Santos Silva a regressar às origens e a “malhar” na esquerda, no caso António José Seguro, e Ana Gomes a tentar desfazer o outro proto-candidato, acusando António Vitorino de ser o representante dos interesses (revelando pouca atenção aos movimentos de um dos seus ódios de estimação, apoiante interessados de António José Seguro e de um outro candidato).
Na história do PS o dividir para reinar alimentou outras candidaturas à esquerda: Maria de Lurdes Pintassilgo (grande responsável pelo terceiro lugar de Zenha em 1986), Fernando Nobre (que terá tirado muitos votos a Manuel Alegre em 2011) e Sampaio da Nóvoa (que em 2016 beneficiou dos votos da esquerda do PS contra a candidatura de Maria de Belém).
Para as presidenciais de 2026 aguarda-se um candidato anti-sistema, sem apoio partidário. A campanha eleitoral obrigará Gouveia e Melo a falar, partilhando com os eleitores novas pérolas do seu pensamento. A partilha, somada à multiplicação de candidatos, conduzirá a uma segunda volta. O outro candidato mais votado poderá vir a beneficiar de dois efeitos de concentração de votos. O primeiro resulta de um afunilar da candidatura de Gouveia e Melo à direita, tomada de assalto pela campanha e pelo programa do Chega, com uma antecipação da entrada deste para aquilo que venha a ser o XXV Governo Constitucional, pela mão de um Almirante recém-eleito Presidente da República. O primeiro movimento identifica-se com a vitória de Mário Soares em 1986, fazendo o pleno da esquerda. O segundo movimento de concentração de votos pode resultar da soma dos votos partidários (à esquerda e à direita) contra o aventureirismo, o discurso anti-sistema e anti-democracia partidária. O segundo movimento tem pontos em comum com a eleição de Chirac em 2002, contra Jean-Marie Le Pen.
Marques Mendes, ao anunciar já a candidatura, deu provas de sensatez e de querer fazer pela vida, não deixando Gouveia e Melo vencer por falta de comparência dos adversários. Pelo PS deveriam fazer o mesmo.