Bomba atómica. A arma destruidora que mostrou o poder do nuclear

Bomba atómica. A arma destruidora que mostrou o poder do nuclear


A primeira vez que o mundo assistiu ao poder de uma bomba atómica foi durante a Segunda Guerra Mundial, ainda que ela tivesse sido testada primeiro. O pai do engenho chegou a arrepender-se e tal arma mortífera não voltou a ser usada. Mas são cada vez mais os países com arsenal nuclear.


1945. Estávamos em plena Segunda Guerra Mundial e foi aqui que o mundo sentiu, pela primeira vez, o poder da destruição das armas nucleares. Foram duas bombas atómicas lançadas no Japão, em Hiroshima.

Até à atualidade, os bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki foram os únicos usos de armas nucleares em guerras até hoje. Mais tarde, com a Guerra Fria, as duas superpotências detentoras, então, desta tecnologia – Estados Unidos e Rússia – procuraram intimidar os seus inimigos com a realização de testes dos seus arsenais. Apenas ameaças, até agora. E ainda bem. É que as consequências das duas bombas atiradas no Japão são devastadoras: o número de mortos das duas explosões superou os 210 mil, para não falar das consequências para a saúde de tantos dos que sobreviveram.

Recuemos umas semanas antes dessa tragédia no Japão. Foi a 16 de julho de 1945 que foi realizada a primeira detonação nuclear da história. Decorreu no deserto do Novo México e tratava-se do projeto Manhattan. A experiência foi liderada pelo físico Robert Oppenheimer e é conhecida como Trinity. Diz-se que, ao testemunhar a explosão – que aconteceu pouco depois das cinco da manhã – Oppenheimer citou uma passagem do texto sagrado hindu, o Bhagavad Gita: “Agora tornei-me a morte, o destruidor dos mundos”.

Mas antes de Oppenheimer, é preciso falar de Albert Einstein. Diz-se que foi o pai da bomba atómica, mas nem todos concordam com esta observação. O físico debruçou-se muito sobre os assuntos da física nuclear e a origem de tudo isto está na equação que criou: E = mc². Foi através dela que provou que a massa e a energia são intercalares e preparou terreno para o terreno da energia nuclear e, consequentemente, da bomba atómica.

No fundo, esta foi apenas a sua “ajuda” na criação desta arma. A 2 de agosto de 1939, o físico alemão, com o auxílio do físico Leo Szilard, escreve uma carta ao então Presidente americano, Franklin D. Roosevelt. “Os trabalhos recentes na física nuclear aumentaram a probabilidade de transformar o urânio numa nova e importante fonte de energia”, escreveu, onde acrescenta que essa mesma energia poderia ser utilizada “para a construção de bombas extremamente poderosas”. Pedia que os Estados Unidos se apressassem porque suspeitava que os nazis poderiam estar a preparar alguma coisa.

A primeira bomba da história Foi então, na verdade, Oppenheimer a criar a primeira bomba nuclear, ainda que tivesse sido ‘apenas’ um teste. Foi em 1939 que nasceu o Projeto Manhattan que surgiu de uma preocupação do físico nuclear Leo Szilard, em agosto de 1939. Este físico húngaro – que morava nos EUA – convenceu Albert Einstein a assinar essa carta que foi dirigida ao Presidente americano.

Iniciada a Segunda Guerra Mundial, Roosevelt decidiu levar a carta a sério e, com outros políticos, cientistas e militares, levou a cabo este projeto que resultaria então na explosão da primeira bomba atómica.

A liderança deste desafio para algo nunca antes feito no mundo inteiro foi entregue ao físico americano Robert Oppenheimer. Diz-se que Einstein não participou neste projeto pelas suas ligações alemãs e pelas suas ideias de esquerda.

Detonada a 16 de julho de 1945, a Trinity tinha uma potência de 20 mil toneladas de dinamite. A sua luz foi vista a uma distância de 320 quilómetros.

Nessa altura pouco se sabia sobre as consequências de uma explosão desta dimensão na saúde humana. Mas houve-as. A esperança média de vida nos locais em volta caiu, havia mais casos de cancro e leucemia e mesmo a mortalidade infantil aumentou.

A experiência tinha então “corrido bem” e a 6 e 9 de agosto de 1945, outras duas bombas do Projeto Manhattan foram lançadas pelo avião bombardeiro B-29, Enola Gay, sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.

Oppenheimer, o pai da desgraça Ainda que tenha sido uma descoberta e uma experiência importantes, não se terá propriamente orgulho de ser o criador de uma arma mortal desta dimensão. E Oppenheimer nem sempre o teve. Diz-se que sempre foi um homem muito à frente do seu tempo e que a sua inteligência foi aproveitada pelo Governo americano. “Ele ama quem não o ama a ele”, chegou mesmo a dizer Einstein, referindo-se à relação entre o governo e Oppenheimer.

Diz-se que depois da guerra, o comportamento do físico mudou. Aliás, já teria mostrado algumas mudanças depois da explosão da Trinity. Quem esteve presente, como foi o caso de um militar, citado pelos historiadores Kai Bird e Martin J. Sherwin, garantiu: “Ficou mais tenso quando soaram os últimos segundos. Ele mal respirava…”

O próprio chegou a referir que as armas nucleares são instrumentos “de agressão, de surpresa e de terror” e que a indústria das armas é como “o trabalho do demónio”.

Mais tarde, numa reunião com o Presidente americano Harry S. Truman, o criador da bomba atómica disse uma frase que se tornou pública e famosa: “Sinto que tenho sangue nas mãos”. O Presidente tentou tirar-lhe esse peso. Que talvez nunca lhe tenha saído da mente.

Durante muitos anos, o físico chegou a falar mal do nuclear, o que resultou na sua saída dos assuntos secretos da Comissão de Energia Atómica dos Estados Unidos e, posteriormente, viu a sua relação com o Governo chegar ao fim.

Morreu aos 62 anos de cancro na garganta e mais tarde foi realizado um filme com o seu nome, que mostra a construção da bomba e as suas reações.

Tratados e dados sobre o nuclear Assinado em 1968 e em vigor desde 1970, está o tratado de não proliferação de armas nucleares (TNP) , que conta com a adesão de 189 países, cinco dos quais reconhecem ser detentores de armas nucleares: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China. Este tratado tem como objetivo promover o desarmamento nuclear geral e completo, impedir a proliferação das armas nucleares e fomentar a cooperação no uso pacífico da energia nuclear.

O tratado tem sido renovado algumas vezes, nos seus 11 artigos, assenta em três conceitos essenciais: a não-proliferação, o desarmamento e a canalização da energia nuclear para fins pacíficos.

Depois, em 2017, foi criado outro acordo: o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares. É o primeiro acordo internacional legalmente a proibir exaustivamente as armas nucleares, com o objetivo de levar à sua eliminação total. Entrou em vigor em 2021.

Mas o tratado ainda não fez efeito até porque, atualmente, existem vários países que possuem armas nucleares. São os Estados Unidos e Rússia que controlam quase 90% de todas as ogivas nucleares: juntos têm mais de 11.300 ogivas, com uma pequena vantagem para os EUA.

Mas há outros. O terceiro lugar é ocupado pela China, com 500 ogivas.

Segue-se Reino Unido e França. Paris controla 290 armas nucleares e Londres 225.

Nesta lista juntam-se ainda Índia, com 172 ogivas, e o Paquistão, com 170. Destaque ainda para Israel e Coreia do Norte.