Renováveis, Nuclear ou Fósseis? A batalha pelo futuro da energia

Renováveis, Nuclear ou Fósseis? A batalha pelo futuro da energia


Energia barata, limpa e eficiente: será possível ter tudo ao mesmo tempo? Enquanto os combustíveis fósseis são apontados como vilões ambientais e as renováveis enfrentam desafios de volatilidade e custos, a energia nuclear ressurge como uma opção viável, mas controversa. Qual o melhor caminho energético?


Como garantir energia suficiente para sustentar o crescimento económico e, ao mesmo tempo, reduzir os impactos ambientais? A questão tem sido colocada por vários especialistas, mas é pouco consensual. As fontes tradicionais, como os combustíveis fósseis são confiáveis, mas o seu impacto ambiental é insustentável. As energias renováveis são promissoras, mas enfrentam desafios de volatilidade e infraestrutura. Já a energia nuclear surge como uma solução estável e eficiente, apesar dos custos e as preocupações com a segurança.

Comparar os custos e benefícios de cada tipo de energia pode ser um exercício complexo e equilibrar os pratos na balança nem sempre é tão claro quanto parece. A opção pelas energias renováveis tem sido há muito apontada como a solução mais viável, num momento em que as palavras “transição energética” e “emissões zero” tomam conta do espaço público e das políticas governamentais. As energias verdes são também associadas a uma redução das tarifas de energia elétrica, mas será que os consumidores estão a pagar menos?

De acordo com dados do Eurostat relativos aos preços da eletricidade, incluindo taxas e impostos, pagos pelos consumidores domésticos na UE-27 no segundo semestre de 2020, revelam que o preço médio nos países em que a produção a partir de fontes de energia renovável (FER) representa menos de 25% do consumo de eletricidade, foi de 14 cent/kWh. Nos países em que as FER representam entre 25% e 50% do consumo o preço médio foi de 19 cent/kWh e naqueles em que representam mais de 50% do consumo, onde se inclui Portugal, o preço médio foi de 24 cent/kWh. Já na Alemanha, o maior produtor europeu de energia solar fotovoltaica, os consumidores pagam a eletricidade mais cara, 30 cent/kWh. Por outro lado, a Bulgária e Hungria têm os preços mais baixos, com cerca de 10 cent/kWh, sendo que as FER representam 18% e 9% do consumo, respetivamente.

Michael Shellenberger, ativista ambiental e grande defensor da energia nuclear, defendeu que estamos “no fim de uma era” de energia barata na Europa, numa conferência da CNN.

Energia Fóssil: Custo Baixo, Alto Impacto Ambiental

Os combustíveis fósseis, como o carvão, petróleo e gás natural, ainda dominam a matriz energética mundial. A principal vantagem é o baixo custo inicial para produção inicial e a infraestrutura consolidada, mas são também o principal “vilão” a abater do ponto de vista ambiental. Considerados os principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa, os combustíveis fósseis são altamente poluentes e potenciam o aquecimento global.

No âmbito do Pacto Ecológico Europeu, o consumo deste tipo de energia tem vindo a ser reduzido na União Europeia. O carvão, por exemplo, da 3.ª maior fonte de energia em 2019 caiu para a 6.ª em 2024. O ano passado, este combustível fóssil foi, pela primeira vez, ultrapassado pelo solar.

A volatilidade dos preços do petróleo e do gás natural é apontada como outra desvantagem, por ser uma potencial causadora de instabilidade económica.

Benefícios:

• Baixo custo inicial

• Infraestrutura estabelecida

• Fornecimento contínuo e confiável

Desvantagens:

• Altas emissões de CO2

• Recursos finitos e poluição

• Impactos geopolíticos e ambientais

Energia Renovável: Mais limpas, mas voláteis

As fontes renováveis são consideradas a alternativa por excelência aos combustíveis fósseis, mas os custos e benefícios diferem. A energia solar é uma das mais acessíveis e sustentáveis e tem sido uma aposta cada vez maior nos países europeus que querem apostar em energias mais verdes. Portugal fechou 2024 com mais um ano recorde de instalação de centrais fotovoltaicas e as previsões apontam para que no próximo ano as fotovoltaicas possam tornar-se a fonte de eletricidade com mais potência instalada no país. A nível mundial, mais de 30% da energia é atualmente produzida a partir de fontes renováveis, segundo um relatório da Ember.

Mas nem tudo são flores. O principal desafio das energias renováveis é a intermitência ou a volatbilidade. No caso da energia solar, esta depende da disponibilidade de luz solar, exigindo baterias ou fontes complementares para garantir um suprimento contínuo, bem como de áreas amplas para a instalação de painéis solares. Já a energia eólica, que aproveita o vento para gerar eletricidade, depende da localização das turbinas, sendo que a variabilidade dos ventos pode comprometer a estabilidade do fornecimento.

“Pode-se tornar os painéis solares mais baratos e as turbinas eólicas maiores, mas não se pode fazer o sol brilhar mais regularmente ou o vento soprar de forma mais confiável. Lidar com fontes de energia que são inerentemente voláteis ​exigem grandes extensões de terra tem um alto custo económico”, argumenta o ambientalista Shellenberger.

No caso da energia hidroelétrica, que utiliza a força da água para gerar eletricidade, embora seja eficiente e tenha um baixo custo operacional, está dependente da disponibilidade hídrica – um desafio em tempos de seca extrema – e a construção de grandes barragens pode causar impactos ambientais e deslocamento de populações.

A biomassa aproveita resíduos orgânicos, como madeira, restos agrícolas e resíduos urbanos, para gerar eletricidade e calor. Entre as principais vantagens estão a redução de resíduos e da dependência de combustíveis fósseis, bem como a possibilidade de produção contínua, ao contrário de fontes intermitentes como a solar e a eólica. No entanto, a queima ainda gera emissões poluentes e precisa de grandes áreas para cultivo de matéria-prima.

Energia Nuclear: Mais eficiente, Custo elevado

Michael Shellenberger argumenta que a energia nuclear tem sido injustamente demonizada e defende que esta deve desempenhar um papel central na transição para um futuro sustentável. O ambientalista alerta que a dependência excessiva de energias renováveis intermitentes tem riscos e que, sem uma fonte estável como a nuclear, a transição energética pode resultar em custos elevados e maior dependência de combustíveis fósseis.

A principal vantagem da energia nuclear é a capacidade de gerar grandes quantidades de eletricidade de forma estável e sem emissões de carbono. Por outro lado, um relatório da rede global de campanhas Greenpeace de março de 2022 considerou que a energia nuclear é muito cara e muito lenta para ser implementada em comparação com outras energias renováveis. Uma central nuclear leva cerca de 10 anos a ser construída, “o que tem implicações importantes para as metas climáticas”.

Apesar das reticências, o futuro parece mais aberto ao nuclear. Cinco das maiores economias do mundo – EUA, Índia, Reino Unido, Japão e China – anunciaram metas para aumentar substancialmente a capacidade nuclear. Mas os argumentos ainda não chegaram para convencer países europeus, como a Alemanha, que em 2023 concretizou o fim da era nuclear no país. Com o encerramento de todas as centrais nucleares, o país passou a apostar nas energias renováveis, mas também ficou dependente da importação de energia de outros países europeus. Em 2023, a Alemanha importou mais eletricidade do que exportou pela primeira vez desde 2006. Curiosamente, uma parte dessa eletricidade, especialmente a que vem de França, continua a ser gerada por centrais nucleares. No total, 24% da energia importada em 2023 veio de fontes nucleares.

Benefícios:

• Alta densidade energética

• Emissão zero de carbono

• Estabilidade na geração de energia

• Menor necessidade de áreas extensas para instalação

Desvantagens:

• Alto custo inicial

• Gestão de resíduos nucleares

• Perceção pública negativa e desafios regulatórios