O retrato de um estadista.  A vida do icónico líder britânico, década a década

O retrato de um estadista.  A vida do icónico líder britânico, década a década


Winston Churchill foi a personificação da resistência frente aos totalitarismos que assolaram a primeira metade do século XX. Mesmo tendo uma vida dedicada à história e à guerra, Churchill mostrou, em várias ocasiões, estar bem à frente do seu tempo.


Winston Churchill é uma das figuras maiores do século XX. Aristocrata, militar, tribuno e governante, a sua vida ficará nos anais da história como o grande defensor da democracia frente aos inimigos autoritários e como referência no que à política externa diz respeito. Filho de Randolph Churchill, terceiro filho do sétimo duque de Marlborough, e da americana Jennie Jerome, Winston Leonard Spencer-Churchill nasceu a 30 de novembro de 1874, no Palácio de Blenheim, em Oxfordshire.

Criado no conforto de uma família abastada, longe dos problemas do cidadão britânico comum – um em cada quatro vivia no (ou abaixo do) nível de subsistência –, a primeira memória de Churchill, segundo o próprio, é relacionada com a guerra. Na inauguração de uma estátua de Lord Gough, o jovem Churchill viu-se num ambiente que acabaria por se tornar a sua zona de conforto: “Uma grande multidão negra, soldados vermelhos a cavalo, cordas a puxar um lençol castanho brilhante, o velho Duque, o formidável avô, a falar alto para a multidão”, conta Churchill no seu livro My Early Life. “Percebi perfeitamente que ele estava a falar de guerra e de luta e que uma “salva” significava aquilo que os soldados de casaca preta (atiradores) costumavam fazer com estrondos tão frequentes no Phoenix Park, onde eu ia passear de manhã. Penso que esta é a minha primeira recordação coerente”, concluiu.

Em 1888, entra na Harrow School, onde lidou com dificuldades nos exames de latim e de matemática. “Gostaria de ter sido examinado em história, poesia e redação de ensaios”, contou no livro já mencionado, mostrando já as áreas de interesse que acabariam por definir a sua carreira. Esteve em Harrow quatro anos e meio, três dos quais na turma do Exército, antes de rumar a Sandhurst.

1890

Em 1893, Winston Churchill, então com dezanove anos, começa a sua formação militar na Real Academia em Sandhurst, a cinquenta quilómetros de Londres. E é aqui que começa a verdadeira formação do estadista e estratega que estava destinado a mudar o rumo da história. “Em Sandhurst tive um novo começo”, dizia, “já não era prejudicado por ter negligenciado o latim, o francês ou a matemática no passado”. Livros como o Operações de Guerra de Hamley, as cartas do Príncipe Kraft sobre Infantaria, Cavalaria e Artilharia e outras obras relacionadas com os mais recentes conflitos moldaram o jovem Winston.

Dois anos mais tarde, em 1895, após a morte do pai, Churchill junta-se ao quarto Regimento dos Hussardos, na posição de segundo-tenente, e presta serviço com os espanhóis em Cuba, vivendo em primeira mão a experiência da guerra. Em 1896 é destacado para a Índia, ainda parte integrante do império britânico, e em 1898 combate em território sudanês.

No último ano desta década marcada pelo espírito (e ação) militar, Churchill decide entrar na política, mas sem sucesso. Falhou a eleição para o Parlamento e dirige-se à África do Sul como correspondente de guerra, trabalho que rapidamente foi intercalando com o de combatente no conflito contra os boéres, que o capturaram. A sua fuga converteu-o numa figura de peso no panorama político inglês.

1900

A primeira década do século XX é extremamente importante para Churchill, tanto a nível político quanto pessoal. Em 1900, ainda no século anterior, consegue um assento no Parlamento através do Partido Conservador e, quatro anos mais tarde, senta-se do outro lado da Câmara, representando o Partido Liberal que viria a governar em 1905. Neste novo Executivo, liderado por Henry Campbell-Bannerman, Churchill é nomeado subsecretário de Estado das Colónias. Em 1907, torna-se conselheiro do Rei Edward VII.

Em 1908 contrai matrimónio com Clementine Hozier, um suporte que será indispensável para a luta de Churchill, que finaliza esse ano com a nomeação para a presidência do Conselho de Comércio.

Winston Churchill, em 1908, fez um discurso à população escocesa, onde deixava claro o seu objetivo de vida primordial: “Para que serve viver se não for para lutar por causas nobres e para fazer deste mundo confuso um lugar melhor para aqueles que nele vão viver depois de nós partirmos?”.

Antes do fim da década, em 1909, nasce a sua primeira filha, Diana Churchill.

1910

É em 1910 que Churchill chega ao Executivo britânico, liderando o Ministério do Interior e aproximando-se cada vez mais do seu grande objetivo. Dezoito meses mais tarde, é nomeado Primeiro Lorde do Almirantado, no mesmo ano em que nasce o seu único filho, Randolph.

Nesta década, entre 1914 e 1918, eclode um dos maiores conflitos da humanidade e Churchill enfrenta os seus primeiros desafios de liderança militar. Em 1915, aquando do desastre da operação militar dos aliados em Galipoli, onde tentavam ocupar o estreito dos Dardanelos, no ainda Império Otomano, levou à sua demissão do cargo que ocupava desde 1911. Acabaria por integrar de novo o Exército, com o qual combateu ativamente na frente Oeste.

Em 1917 volta a um cargo de chefia, desta feita como ministro das Munições. No final da guerra, com os Aliados a emergirem como grandes vencedores, Churchill é o escolhido para tutelar o Ministério da Guerra e do Ar.

1920

Os loucos anos 20 não começaram bem para o agora secretário de Estado para as Colónias. A sua filha mais nova, nascida em 1918, falece com apenas quatro anos. Em 1924 regressa ao Partido Conservador e acabará por servir como ministro das Finanças. “Qualquer um pode ser vira-casacas”, atirou Churchill no seu típico humor sofisticado, “mas é preciso uma certa habilidade para o repetir”.

Em 1929, demite-se após a vitória do Partido Trabalhista nas eleições gerais.

1930

Os anos 30 são também de incontornável importância, apesar de Churchill ter ficado fora dos centros de decisão política de Londres. É uma década em que o ex-ministro das Finanças se dedica a escrever – publicando a sua autobiografia em 1930 e o primeiro volume de Marlborough: His Life and Time em 1933 –, a pintar e a discursar em várias geografias. Esteve também na linha da frente no combate à política de apaziguamento levada a cabo por Neville Chamberlain e outros pacifistas face à ameaça nazi, para a qual já tinha alertado. Foi o mais acérrimo crítico do Acordo de Munique, que concedeu a região dos Sudetas a Hitler, fomentando o ímpeto expansionista do III Reich que anexaria a Polónia em 1939, abrindo o caminho para a II Guerra Mundial. Churchill é chamado de novo para liderar o Almirantado.

1940

A década de 1940 é a que sobressai em toda a vida de Churchill. Toma posse como primeiro-ministro e é o responsável por levantar a moral britânica (e aliada, consequentemente), encorajando todo o seu povo através de discursos sentidos e eloquentes a lutar contra o inimigo nazi. A sua relação com o Presidente americano, Franklin D. Roosevelt, foi fulcral, e a entrada dos americanos na guerra, após o ataque japonês a Pearl Harbor deixou um Churchill preocupado e tenso mais seguro de que a guerra seria vencida. “Ele é um homem diferente desde que a América entrou na guerra”, escreve Charles Wilson, Lord Moran, nas suas memórias sobre o primeiro-ministro. “Eu via que ele carregava o peso do mundo e perguntava-me quanto tempo poderia continuar assim (…) E agora, um homem mais jovem tomou o seu lugar”. “O P.M. (…) devia saber”, concluía Wilson, “que, se a América ficasse de fora, só podia haver um final para este problema. E agora, de repente, a guerra está praticamente ganha e a Inglaterra está a salvo”.

Em 1943 os Aliados vencem os alemães no Norte de África e invadem o território italiano, com Churchill a reunir-se, pela primeira vez, com Estaline e Roosevelt na Conferência de Teerão. Os três líderes das principais potências vencedoras da guerra voltariam a reunir-se nas conferências de Ialta e de Potsdam, nesta última já com Harry Truman ao leme dos Estados Unidos.

É também em 1945 que Churchill deixa de ser primeiro-ministro, tendo sido derrotado pelo Trabalhista Clement Attlee, passando a servir o país como deputado. Um ano mais tarde, alerta para a “Cortina de Ferro” que dividirá a Europa, com o Leste a cair sob o jugo comunista, numa antecipação da Guerra Fria que se avizinhava entre o Ocidente e a União Soviética.

1950

Em 1951 volta ao número 10 de Downing Street, onde serviu até 1955 após renunciar por problemas de saúde. Em 1953 é galardoado com o Nobel da Literatura pelos seus escritos de História e bibliográficos. Em 1956 publicou o primeiro dos quatro volumes sobre a História dos Povos de Língua Inglesa.

1960

Após uma série de AVCs, nove, no total, o suicídio da filha Diana em 1963 e a retirada definitiva da política em 1964, Winston Spencer-Churchill falece em sua casa, em Londres, no dia 24 de janeiro de 1965. Morreu um estadista, um escritor e um líder que nem sempre foi consensual, mas nasceu, de facto, uma lenda nessa manhã de domingo. Acabaria por ser enterrado no adro da Igreja de St. Martin em Bladon, Oxfordshire, após um funeral de Estado.