Nota prévia: Só o exercício do poder dirá se o segundo mandato de Trump vai transformar a América e a relação de forças a nível mundial. Há quem acredite que sim, apesar do primeiro mandato não ter trazido mudanças no ordenamento planetário. O que mais marcou foram as peripécias terroristas que se seguiram à sua derrota e as devastadoras opiniões dele e seguidores na pandemia, ao negar as evidências da benfeitoria vacinal. O Trump segunda volta é diferente e mais perigoso, reconheça-se. É mais extremista e nacionalista e os americanos estão mais recetivos a isso. Traz consigo a contradição de querer uns EUA mais isolados, mas mais fortes e com ambições territoriais expansionistas. Trump vem agora acolitado de alguns dos homens mais ricos e influentes do mundo que controlam as grandes redes sociais e meios de distribuição de toda a espécie de informação. Estes oligarcas americanos são forças capazes de condicionar as opiniões públicas, além de mandarem em negócios globais. Veremos se Trump é o dono deles ou se é o contrário. E, diga-se, Trump não tem ao seu alcance o eficaz expediente das varandas e outros meios de Putin, que eliminou sucessivos oligarcas riquíssimos, embora irrelevantes internacionalmente. Os da América, à solta, são omnipresentes porque mexem com a nossa vida quotidiana. Seja como for, e por muito que Trump tenha o controlo dos instrumentos políticos, a democracia americana é resiliente e nasceu não apenas dos pais fundadores, mas do seu povo e das ruas.
1. Sondagens e estudos recentes confirmam que Luís Montenegro se afirma junto dos portugueses. A notícia não podia ser melhor para ele, para o PSD e, por arrastamento, para o pequenino CDS que funciona como o peixe piloto para o grande tubarão. Montenegro tem tido um comportamento de maratonista, contrastando com sprinters políticos como Ventura e Pedro Nuno Santos. A circunstância de estar no Governo facilita, mas ajuda ainda mais o uso criterioso das palavras, passando as batatas quentes para o líder parlamentar. Apesar de um acelerado aumento do custo de vida empobrecedor e desgastante politicamente, Montenegro tem compensado ao controlar as falhas politico-mediáticas de certos ministros e dado espaço a outros, como Miranda Sarmento que ganhou consistência. A questão mais preocupante continua a ser a Saúde. As sucessivas promessas falham, acumulando-se os problemas por mais propaganda que se faça. O caso mais recente é lateral, mas levou à saída fulminante do diretor-geral do SNS, que estava há seis meses no lugar. Gandra d’Almeida demitiu-se depois de a SIC afirmar que ele tinha acumulado ilegalmente funções remuneradas no Estado, tendo um escandaloso e inexplicável benefício de 200 mil euros. O médico militar rejeita a ilegalidade e decidiu abdicar para se defender. Outra matéria controversa é a Segurança, onde é evidente que o governo marca pontos. A opinião pública dá razão ao primeiro-ministro na necessidade de controlar as zonas problemáticas que não são necessariamente aquelas onde há imigrantes ou comunidades específicas. São, sim, aquelas onde há mais pobreza, mais tráfico de toda a espécie e mais exploração humana. Mesmo assim, falta ambição reformista nesta área. Há que desenhar uma transformação das polícias municipais de meros fiscais de obras e de trânsito em efetivas forças de manutenção da ordem e da paz, como sucede por essa Europa fora. Também é tempo de se pensar em criar uma espécie de Costa Neves que estude a forma de agregar a PSP e a GNR numa polícia nacional, aproveitando as sinergias, economizando meios e evitando sobreposições óbvias. Seria um processo complexo, longo e difícil de concretizar, dadas as inevitáveis resistências corporativas. Mas ninguém duvide dos ganhos de eficácia e financeiros. Profissionais e especialistas da área reconhecem-no desde que seja em privado. Em público, rejeitam a hipótese com explicações estapafúrdias. “Et pour cause!”.
2. O anúncio de que Mário Centeno não avança para Belém é um bom sinal para a vitalidade da democracia. Seria indecoroso haver mais um candidato (para além de Gouveia e Melo) que viesse de funções estritamente apartidárias onde, afinal, tivesse preparado o terreno para uma corrida ao principal cargo político da Nação. O governo vai agora ter de decidir se reconduz ou não Centeno à frente do Banco de Portugal (BP). Mantê-lo é complicado. Seria legitimar o salto que deu de ministro das Finanças para governador. Além disso, confirmaria quem não adota o recato que se recomenda ao BP. Tirá-lo é correr o risco (limitado) de o ter à perna na política, embora Centeno tenha potencial e prestígio para obter uma função internacional. E dadas as condições financeiras extraordinárias com que ficaria se permanecesse no BP, do qual é funcionário (os tais 15 mil euros de Rosalino e carro topo de gama), também faria um magnífico pré-reformado, potencial aprendiz de golf. Uma vida santa para quem não quer chatices. Maquiavélico seria o governo não o reconduzir e nomear um tal Hélder Rosalino, em vez do preanunciado Vítor Gaspar.
3. Sejam quais forem os motivos de Centeno, eles implicam que o PS tenha de apoiar um dos seus militantes mais prestigiados para enfrentar quem vier do lado do PSD/AD (Marques Mendes, obviamente), do Chega (Ventura), das esquerdas radicais (Pestana, para já), do PCP e, claro, do grande espaço indefinido onde mergulha o almirante. A ideia de ir buscar novamente Sampaio da Nóvoa foi uma névoa passageira nalguns olhos esquerdistas. Como já foi dito e redito, sobram dois prestigiados militantes do PS. O regressado António José Seguro que é uma referência de seriedade e teve uma contenção de grande senhor durante o consulado de António Costa, que o apunhalou traiçoeiramente a seguir a ter ganho eleições. Muitos dos que se opõem a Seguro acompanharam Costa na sua desastrosa gestão e, sobretudo, Sócrates nos seus desvairados propósitos governativos que o levaram a estar envolvido na gigantesca trama de corrupção da operação Marquês, associada aos casos BES e PT. Seguro manteve sempre gigantescas reservas a Sócrates e ao seu séquito, o que o torna uma figura rara no PS. António Vitorino é a outra hipótese. Suscita muitas simpatias dentro e fora do partido. Tem enorme experiência política. Ocupou sucessivos cargos de grande responsabilidade nacionais e internacionais. Foi várias vezes ministro (uma vez demitiu-se na sequência de notícias infundadas sobre uma alegada falha no cálculo de uma sisa), juiz do Tribunal Constitucional, dirigente máximo da ONU para os Refugiados, passou por Macau e é um bem-sucedido advogado de negócios. Apesar da constelação de lugares, não tem propriamente obra feita e reconhecida em lado nenhum e nunca ganhou eleições nacionais. Do ponto de vista da postura pública e da personalidade, Seguro e Vitorino coincidem na cordialidade. No resto são diferentes. Seguro é mais reservado, menos exuberante, mas muito determinado. É um perfil sóbrio e autêntico com traços à Jorge Sampaio, enquanto Vitorino, na sua bonomia tímida, é mais dado ao trocadilho, lembrando Marcelo Rebelo de Sousa em alguns aspetos.
4. Alexandra Leitão vai ser candidata a presidente da Câmara de Lisboa. É uma aposta forte de Pedro Nuno Santos ao fazer avançar a número dois do partido e líder parlamentar (lugar onde nada fez de especial). Alexandra Leitão pode agregar com facilidade a simpatia das várias esquerdas da pesada existentes na capital, mas vai ter de convencer os moderados que querem soluções e não política de boca. É nesse nicho de gente de eleitores que tudo se vi decidir. Não é líquido que a notícia seja boa para Carlos Moedas. Alexandra Leitão é popular, combativa, forte a debater e a cidade está cheia de problemas evidentes e em constante agravamento. Para ganhar, Moedas precisa de um apoio mobilizador, já que o CDS e o PPM são irrelevantes. Dava-lhe um jeitão uma coligação alargada que juntasse também os liberais. O caminho está meio definido. Pode mesmo estender-se a muitos pontos do país. Seja como for, tudo indica que Lisboa vai ser o grande duelo das autárquicas com evidente leitura nacional, aguardando-se no Porto pelo anúncio do nome escolhido pelos sociais-democratas. O favorito do partido e da nação portuense social-democrata é o ministro Pedro Duarte. É só ele querer. Já falta pouco para sabermos.