Desde o 25 de Abril que, pouco a pouco, os partidos políticos foram aumentando o seu poder na actividade política nacional, principalmente pelo facto de os deputados serem escolhidos individualmente pelas direcções partidárias e também porque, pouco a pouco, passaram a actuar no Parlamento na defesa de quem os escolhe e tem o poder de os não reeleger no caso de mostrarem alguma independência. Haverá excepções que, contudo, não fazem a primavera.
É esta a razão dos vários malefícios que controlam os destinos da governação em Portugal, que atrasam o desenvolvimento económico do País através da acumulação de fretes e de sucessivos erros dos diferentes governos, quando os objectivos principais da governação residem nos interesses de algumas pessoas e de algumas empresas, interesses que passam ao lado do interesse nacional e do povo, porque os eleitores votam nos partidos e não têm meios de escolher os seus deputados. Vejamos exemplos:
1 – O ex-primeiro-ministro José Sócrates inviabilizou a OPA da Sonae à PT para defender os interesses do grupo Espírito Santo, o que conduziu ao desaparecimento da melhor empresa nacional perdida na voragem da tentativa de salvar o BES.
2 – O mesmo governo nomeou como ministro da Economia um assalariado de Ricardo Salgado, que durante anos defendeu os interesses das empresas do grupo, como se tornou ainda mais evidente nos processos judiciais em curso.
3 – Ainda por acção do mesmo governo do PS, a Caixa Geral de Depósitos e o BCP tiveram administrações de agentes políticos do partido, com os resultados conhecidos de favores feitos a várias personalidades do regime e vários desastres que abalaram quase todo o sistema financeiro nacional e que custaram ao País muitas dezenas de milhares de milhões de euros que ainda estamos a pagar.
4 – A tragédia do BPN, como a posterior venda do BES e do Banif, provocaram elevados prejuízos a pagar pelos contribuintes portugueses, casos tratados de forma amadora e com elevado nível de secretismo, com os consequentes prejuízos do interesse nacional. No caso do BPN não esqueço a recusa pelo governo de então da solução privada preconizada por Miguel Cadilhe.
5 – A nacionalização da TAP foi feita por um governo de António Costa como moeda de troca fornecida ao PCP a fim de permitir a criação da geringonça, com os resultados conhecidos que interromperam a expansão da empresa privada nos mercados do Brasil e da América do Norte. Com a nota de que não nego os problemas existentes resultantes da pandemia, mas essa era uma questão que poderia ter sido resolvida da mesma forma que foram resolvidas as dificuldades de outras empresas de aviação europeias.
6 – O Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) foi desenhado para favorecer muitas empresas do regime, através da distribuição de milhares de milhões de euros por muitos, sem qualquer critério ou estratégia de alteração do desastroso modelo económico nacional, baseado no favorecimento de empresas de serviços, como nas telecomunicações, que funcionam em regime de não concorrência, ou de empresas que pelo seu número, pela sua pequena dimensão e pelo nível de concorrência enfrentada não crescem e não exportam. Ao tempo, fiz a proposta de que todo o dinheiro fosse gasto na alteração do modelo educativo e na industrialização, nomeadamente através da atração de novos investimentos nacionais e internacionais, a exemplo dos casos da AutoEuropa e da EFTA, mas claro sem qualquer efeito.
7 – O ‘caso influenciar’, que conduziu à demissão do primeiro-ministro António Costa, caso que ainda decorre na Justiça, tem a sua importância não como corrupção evidente, mas como um exemplo do funcionamento da actividade política nacional, que passa pela escolha feita por governantes, frequentemente ignorantes, das tecnologias e das empresas a serem favorecidas pelo poder político. Modelo que está na base da ausência de crescimento da economia nacional que já leva um quarto de século. Igualmente, temos o desastre do importante sistema energético nacional, tudo factores resultantes de muitos anos de domínio dos partidos políticos sobre o funcionamento do Estado.
Com a descrição destes poucos exemplos, recordo que se trata de casos que no seu tempo próprio não eram desconhecidos, de facto foram todos tratados na comunicação social, mas que foram totalmente ignorados pela Assembleia da República. Razão: a esmagadora maioria dos deputados são escolhidos e estão ao serviço dos partidos que os escolhem e os mantêm no Parlamento por fidelidade ao chefe que os escolheu. Igualmente, todos os pedidos de revisão das leis eleitorais são recusados pelos partidos, porque essa é a base do seu poder. Presentemente, temos o caso da ferrovia, com a opção do governo da AD da bitola ibérica e a recusa dos programas e dos apoios da União Europeia de uniformização do sistema ferroviário europeu, o que faz de Portugal uma ilha ferroviária sem ligações à Europa e coloca mais dívida, sem necessidade, às costas dos portugueses. Como habitualmente, o Parlamento segue caninamente as instruções e os interesses dos partidos e desconhece o tema.