Borgen III


Todos os não extremistas proclamaram, alguma vez na vida, que o seu modelo de democracia social ou de social-democracia se inspirava no dos países nórdicos.


  1. Na Netflix, passa agora a III temporada da série televisiva, já famosa, denominada Borgen.

Nesta nova temporada, podemos ver abordados vários temas de grande atualidade.

Por exemplo, a situação da Gronelândia e os apetites económicos e geoestratégicos das grandes potências – designada e declaradamente os dos EUA – pelo domínio desse território autónomo do reino da Dinamarca, rico em petróleo e metais raros.

Quase replicando o enredo da série, o novo presidente dos EUA afirmou, não há muito e sem qualquer rebuço, a sua intenção de anexar tal território, que considera fundamental para a segurança e defesa do seu país.

Outros, sobre diferentes territórios e em momentos diferentes, disseram o mesmo e as consequências estão à vista.

  1. A temporada III de Borgen não se queda, porém, por pôr em evidência esses problemas de natureza geoestratégica e os interesses económicos que sempre lhes subjazem.

Nela se analisa, também, a imbrincada ligação que existe entre a ação dos media, a das principais forças políticas e a dos representantes dos poderes institucionais do Estado.

Visionam-se, assim, com rara clareza, os jogos de poder que, nessa confluência de interesses, e por causa deles, são praticados, com total desfaçatez, pelos agentes e comissários de todas essas áreas de poder, formal e informal, da governação atual.

De uma maneira límpida, podemos, ainda, assistir como, em mimetizados canais de televisão dinamarquesa, pivots, ministros, deputados e líderes partidários se apoiam, competem entre si, se manipulam e se traem.

Tais imaginários canais noticiosos organizam, por isso, um espetáculo escandaloso de tudo o que é acessório e supérfluo na política, procurando centrar aí a atenção dos cidadãos dinamarqueses; no caso a dos espectadores.

Fazem-no – como em Borgen III se mostra – com, mais ou menos, consciência de estarem, assim, a esconder os grandes problemas e perigos que o apetite pela exploração desenfreada do planeta pode trazer para os cidadãos do seu país e, mesmo, para toda a humanidade.

  1. Aí se mostra, também, como, independentemente da nacionalidade e origem étnica das mulheres, homens e crianças que habitam o nosso planeta, o futuro da humanidade é jogado como um todo, sem transparência, e sem dó nem piedade, pela oligarquia mundial.

Uma oligarquia que, afinal, parece não ter pátria, quando se trata de repartir o bolo, que apenas devia existir para apoiar o bem comum. 

Em Borgen III, porém, podemos ver ainda mais: vemos, por exemplo, como os países ocidentais que impulsionaram, decisivamente, a tomada de poder a Leste por oligarquias coniventes, acabaram por cair, também eles, nas mãos dos seus próprios e ainda mais poderosos e descarados oligarcas.

“Oligarcas de todo o mundo, uni-vos!” – parece ser, afinal, o hino que todos cantam agora, quando mais um deles, sem subterfúgios já, consegue tomar posse do poder político em qualquer país de qualquer parte do mundo.

E, isso acontece, mesmo nos países que têm os sistemas democráticos alegadamente mais consistentes.

Hoje, terça-feira, é tudo muito mais claro. Ou não será?

  1. Mas, a referida temporada III de Borgen não se fica por aqui.

Ela encena, também, com rara clarividência, a insustentável leveza de princípios e valores de muitos dos governantes das nossas democracias.

É a sua falta de coerência – denuncia Borgen III – que corrói, diariamente, a legitimidade política dos eleitos que, precisamente, prometeram governar de acordo com as proclamações virtuosas que fizeram nas campanhas eleitorais.

Na verdade, porém – constata-se nessa série –, tais eleitos sucumbem, com inusitada facilidade e frequência, ao aceno dos muitos interesses contrários às ideias que, antes, prometeram defender, quando no poder.

Tal abordagem pode, contudo, auxiliar, por vezes, não os que denunciam e criticam as incoerências dos que gerem o sistema, mas os que já dele prescindem, oferecendo, sem disfarce, uma alternativa oligárquica e plutocrática: é o que começa a ocorrer em muitas partes do chamado bloco ocidental. 

  1. Atenção: trata-se, obviamente, portanto, de uma série que difunde um discurso extremista. Por essa razão, deve ser visionada pelo telespectador comum com cuidado e muitas reservas.

Se, além do mais, o telespectador não for maior, convém que uma mãe ou um pai responsáveis lhe possam fazer companhia, para irem explicando como, na vida, nem tudo é o que parece. 

Mas não se preocupem muito, a milícia de comentadores e comentadoras que amparam e certificam os serviços e canais noticiosos, encarrega-se, amigavelmente, e a todas as horas do dia e da noite, de velar pela verdade que interessa.

Com a sua voz mais maviosa, tais comentadoras e comentadores dão aos públicos inquietos de tais sessões noticiosas uma perspetiva – essa sim – esclarecida e esclarecedora sobre os paradoxos que teimem em evidenciar-se através das brechas abertas no confronto da ficção com a realidade.

Estão ali, para precisamente, elucidarem que, por exemplo, o que os episódios de Borgen III revelam não passa de uma fantasia capciosa: de propaganda extremista.

Tudo é, afinal, ficção: insistem com a autoridade conferida pelos graus académicos conferidos por Universidades estrangeiras que, mesmo que desconhecidas pelo comum dos cidadãos, fazem questão de exibir.

Se, ainda assim, tais explicações não forem suficientemente convincentes para o jovem espectador, o melhor é orientá-lo, depressa, para outras preocupações:  a notícia dos efeitos de um tsunami ocorrido, há meses, em alguma ilha ignota do Pacífico serve muito bem.

Não se tratasse, assim, Borgen III de uma malvada ficção, poderia o incauto jovem telespectador vir a adquirir uma ideia errada do que é a verdadeira democracia dinamarquesa… e outras.

Afinal, todos os não extremistas proclamaram alguma vez na vida que o seu modelo de democracia social ou de social-democracia se inspirava no dos países nórdicos.

Borgen III


Todos os não extremistas proclamaram, alguma vez na vida, que o seu modelo de democracia social ou de social-democracia se inspirava no dos países nórdicos.


  1. Na Netflix, passa agora a III temporada da série televisiva, já famosa, denominada Borgen.

Nesta nova temporada, podemos ver abordados vários temas de grande atualidade.

Por exemplo, a situação da Gronelândia e os apetites económicos e geoestratégicos das grandes potências – designada e declaradamente os dos EUA – pelo domínio desse território autónomo do reino da Dinamarca, rico em petróleo e metais raros.

Quase replicando o enredo da série, o novo presidente dos EUA afirmou, não há muito e sem qualquer rebuço, a sua intenção de anexar tal território, que considera fundamental para a segurança e defesa do seu país.

Outros, sobre diferentes territórios e em momentos diferentes, disseram o mesmo e as consequências estão à vista.

  1. A temporada III de Borgen não se queda, porém, por pôr em evidência esses problemas de natureza geoestratégica e os interesses económicos que sempre lhes subjazem.

Nela se analisa, também, a imbrincada ligação que existe entre a ação dos media, a das principais forças políticas e a dos representantes dos poderes institucionais do Estado.

Visionam-se, assim, com rara clareza, os jogos de poder que, nessa confluência de interesses, e por causa deles, são praticados, com total desfaçatez, pelos agentes e comissários de todas essas áreas de poder, formal e informal, da governação atual.

De uma maneira límpida, podemos, ainda, assistir como, em mimetizados canais de televisão dinamarquesa, pivots, ministros, deputados e líderes partidários se apoiam, competem entre si, se manipulam e se traem.

Tais imaginários canais noticiosos organizam, por isso, um espetáculo escandaloso de tudo o que é acessório e supérfluo na política, procurando centrar aí a atenção dos cidadãos dinamarqueses; no caso a dos espectadores.

Fazem-no – como em Borgen III se mostra – com, mais ou menos, consciência de estarem, assim, a esconder os grandes problemas e perigos que o apetite pela exploração desenfreada do planeta pode trazer para os cidadãos do seu país e, mesmo, para toda a humanidade.

  1. Aí se mostra, também, como, independentemente da nacionalidade e origem étnica das mulheres, homens e crianças que habitam o nosso planeta, o futuro da humanidade é jogado como um todo, sem transparência, e sem dó nem piedade, pela oligarquia mundial.

Uma oligarquia que, afinal, parece não ter pátria, quando se trata de repartir o bolo, que apenas devia existir para apoiar o bem comum. 

Em Borgen III, porém, podemos ver ainda mais: vemos, por exemplo, como os países ocidentais que impulsionaram, decisivamente, a tomada de poder a Leste por oligarquias coniventes, acabaram por cair, também eles, nas mãos dos seus próprios e ainda mais poderosos e descarados oligarcas.

“Oligarcas de todo o mundo, uni-vos!” – parece ser, afinal, o hino que todos cantam agora, quando mais um deles, sem subterfúgios já, consegue tomar posse do poder político em qualquer país de qualquer parte do mundo.

E, isso acontece, mesmo nos países que têm os sistemas democráticos alegadamente mais consistentes.

Hoje, terça-feira, é tudo muito mais claro. Ou não será?

  1. Mas, a referida temporada III de Borgen não se fica por aqui.

Ela encena, também, com rara clarividência, a insustentável leveza de princípios e valores de muitos dos governantes das nossas democracias.

É a sua falta de coerência – denuncia Borgen III – que corrói, diariamente, a legitimidade política dos eleitos que, precisamente, prometeram governar de acordo com as proclamações virtuosas que fizeram nas campanhas eleitorais.

Na verdade, porém – constata-se nessa série –, tais eleitos sucumbem, com inusitada facilidade e frequência, ao aceno dos muitos interesses contrários às ideias que, antes, prometeram defender, quando no poder.

Tal abordagem pode, contudo, auxiliar, por vezes, não os que denunciam e criticam as incoerências dos que gerem o sistema, mas os que já dele prescindem, oferecendo, sem disfarce, uma alternativa oligárquica e plutocrática: é o que começa a ocorrer em muitas partes do chamado bloco ocidental. 

  1. Atenção: trata-se, obviamente, portanto, de uma série que difunde um discurso extremista. Por essa razão, deve ser visionada pelo telespectador comum com cuidado e muitas reservas.

Se, além do mais, o telespectador não for maior, convém que uma mãe ou um pai responsáveis lhe possam fazer companhia, para irem explicando como, na vida, nem tudo é o que parece. 

Mas não se preocupem muito, a milícia de comentadores e comentadoras que amparam e certificam os serviços e canais noticiosos, encarrega-se, amigavelmente, e a todas as horas do dia e da noite, de velar pela verdade que interessa.

Com a sua voz mais maviosa, tais comentadoras e comentadores dão aos públicos inquietos de tais sessões noticiosas uma perspetiva – essa sim – esclarecida e esclarecedora sobre os paradoxos que teimem em evidenciar-se através das brechas abertas no confronto da ficção com a realidade.

Estão ali, para precisamente, elucidarem que, por exemplo, o que os episódios de Borgen III revelam não passa de uma fantasia capciosa: de propaganda extremista.

Tudo é, afinal, ficção: insistem com a autoridade conferida pelos graus académicos conferidos por Universidades estrangeiras que, mesmo que desconhecidas pelo comum dos cidadãos, fazem questão de exibir.

Se, ainda assim, tais explicações não forem suficientemente convincentes para o jovem espectador, o melhor é orientá-lo, depressa, para outras preocupações:  a notícia dos efeitos de um tsunami ocorrido, há meses, em alguma ilha ignota do Pacífico serve muito bem.

Não se tratasse, assim, Borgen III de uma malvada ficção, poderia o incauto jovem telespectador vir a adquirir uma ideia errada do que é a verdadeira democracia dinamarquesa… e outras.

Afinal, todos os não extremistas proclamaram alguma vez na vida que o seu modelo de democracia social ou de social-democracia se inspirava no dos países nórdicos.